Amor e evolução

Lançada em 1864, a obra O Evangelho Segundo Espiritismo, assinada por Allan Kardec, é totalmente dedicada ao estudo dos ensinos morais de Jesus, levando em conta a imortalidade da alma, a reencarnação, a vida futura, entre outros princípios que formam a Doutrina Espírita, mesclando em seu conteúdo as passagens evangélicas, os comentários de Kardec e as instruções dos Espíritos. No capítulo 11, voltado para o ensinamento sobre o amor ao próximo, encontramos bela e profunda mensagem do Espírito Lázaro, transmitida no ano de 1862, na cidade de Paris (possivelmente em reunião promovida pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas), onde ele traz informações relevantes sobre o amor e sua evolução.

Transcrevemos, para em seguida realizarmos a sua compreensão, o início do primeiro parágrafo, quando esse amigo espiritual elucida: “O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento”.

A primeira informação em destaque nos diz que o amor resume toda a doutrina de Jesus, ou seja, tudo o que Ele ensinou e exemplificou tem por base o amor, motivo pelo qual podemos afirmar que a missão do Cristo foi trazer a Lei de Amor, que é lei divina, para nosso conhecimento, o que fez com tanta profundidade que transformou a humanidade em antes e depois dele. Mesmo as doutrinas religiosas não cristãs reconhecem Jesus como um grande profeta ou um grande missionário. O líder hindu Mahatma Gandhi, que, ressaltemos, não era cristão, confessava ser um admirador do Evangelho, dizendo que para os homens bem viverem bastava seguir o Sermão da Montanha, famoso discurso do Mestre dos mestres.

Na sequência de sua fala, Lázaro nos diz que o amor é o sentimento por excelência, significando que o amor é a expressão máxima da disposição afetiva entre os seres, pois quem ama será sempre solícito, fraterno, solidário, compreensivo, responsável para com o outro, em qualquer circunstância. Esse é o verdadeiro amor. Entretanto, na sequência de seu texto, vemos que o amor possui gradações, que ele cresce através de estágios sucessivos, que ele é passível de desenvolvimento.

Sabemos que uma das principais leis divinas é a da evolução, que tudo, sem exceção, evolui, o que não é menos certo para os seres humanos. Para termos essa comprovação basta olhar para nós mesmos que, com o passar do tempo, realizamos novos aprendizados, ganhamos novas experiências e, a não ser por teimosia e orgulho que ainda cultivemos, estamos sempre nos desenvolvendo, crescendo, tanto no que diz respeito à inteligência, à aquisição de conhecimentos, quanto também à moral, reavaliando valores e condutas. Se esse desenvolvimento, principalmente moral, muitas vezes se apresenta extremamente lento, é por nossa própria culpa, ao criarmos uma zona de conforto com base no egoísmo e no orgulho, o que nos afasta do sentimento maior do amor.

O benfeitor espiritual traça uma linha evolutiva do ser humano em relação ao amor: primeiro, temos instintos e neles nos movimentamos; depois, com ganhos de experiências e aquisição de conhecimentos, nos movimentamos nas sensações; e ainda após, e finalmente, moralizados e intelectualizados, nos movimentamos no sentimento. Como a evolução é realizada tanto individualmente quanto coletivamente, temos na humanidade uma mescla desses três graus evolutivos do amor, com predominância, na atualidade, do segundo estágio, ou seja, vivemos mais através das sensações, pois muito ainda estamos ligados ao corpo e às coisas materiais. Entretanto, somos espíritos, somos imortais, somos o potencial divino em transição para conquista da paz e da felicidade, o que não se dará aqui na Terra, mas em outros mundos, mais evoluídos.

O Espiritismo é muito claro quanto a esse tema, apresentando todas as provas da nossa imortalidade, da vida futura que nos aguarda depois da morte, e da comunicabilidade existente entre os desencarnados (os espíritos) e os encarnados (nós, os seres humanos), o que, em outras palavras, significa que todos somos Espíritos, ora encarnados, vivendo no mundo material, ora desencarnados, vivendo no mundo espiritual. E o que estamos fazendo aqui? Essencialmente, aqui estamos para aprender a nos amar.

Para aprendermos a nos amar somente um caminho é seguro: colocar em prática, paulatinamente e gradativamente, os ensinos morais de Jesus, que se encontram no Evangelho. Fazendo isso, conseguiremos escalar do instinto para a sensação, e da sensação para o sentimento. Conseguiremos amar o nosso próximo como a nós mesmos, e então estaremos aptos para amar a Deus acima de todas coisas, e toda e qualquer forma de violência contra nosso semelhante e contra a natureza, será apenas história do passado evolutivo da humanidade.


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