Criatividade e criticidade

Desde a metade do século dezenove a doutrina espírita propõe um ensino libertador das consciências, numa concepção que o educando, seja criança, jovem ou adulto, é um espírito imortal reencarnado, portanto, possuidor de extensa bagagem de conhecimentos e experiências que ficam em estado latente em sua personalidade, o que não pode ser ignorado no processo educacional. Muito além de levar em consideração as forças sociais diversas que atuam sobre ele, a doutrina espírita elege a reencarnação e a realidade espiritual da vida como elementos da máxima importância na interação educador/educando, revolucionando o processo ensino-aprendizagem.

Até o final da década de 1980 ainda tínhamos um pensamento educacional de que o educando somente aprendia através do saber do educador, e o processo ensino-aprendizagem ficava tolhido a exercícios repetitivos, memorização de conteúdos, provas de avaliação, notas excludentes, currículo fechado, carteiras enfileiradas em sala de aula, advertências, punições e assim por diante. Isso porque a grande maioria dos professores brasileiros não conhecia as pesquisas sobre o desenvolvimento psicogenético da criança, e também pelo fato dos princípios espíritas não serem levados em conta quando se tratava da educação.

Hoje o quadro é diferente. Repetir o passado é continuar na mesmice e dar corda ao fracasso escolar, o que é inadmissível. Não levar em conta o espírito imortal em processo evolutivo rumo à perfeição é ignorar uma realidade e privar o educando do que ele tem de mais sagrado: o potencial divino em desenvolvimento.

O Espiritismo, bem compreendido e aplicado, desamarra o homem de pensamentos preconceituosos e mesquinhos, libertando-o de um passado muitas vezes obscuro (entenda-se aqui as vidas pretéritas). O Espiritismo favorece uma ação educacional ligada ao desenvolvimento integral da criança e do jovem, ou seja, tanto do potencial cognitivo (intelectual), quanto do potencial emocional (afetivo), e ainda levando em conta a interação entre os dois planos principais da vida: o espiritual e o material.

A visão de ser e de mundo propiciada pelo Espiritismo assegura uma ação pedagógica desenvolvedora da criatividade e do pensamento crítico, o que é imprescindível para que esse espírito possa agir socialmente com equilíbrio, vencendo as barreiras criadas pela própria sociedade humana, e sendo agente transformador da mesma.

Além de trazer de forma latente em seu psiquismo as experiências e aquisições realizadas nas vidas passadas, o espírito molda sua atual personalidade com base nas tendências de caráter e nas ideias inatas que possui, influenciadas pelo estágio que recentemente realizou no mundo espiritual, onde adquiriu mais outras experiências e teve oportunidade de desenvolver outras habilidades. Nada disso pode ser ignorado pela educação, que deve ser libertadora das consciências porque todo espírito tem uma missão a cumprir no planeta, e somente ele pode cumpri-la, seja de caráter individual ou coletivo, de maior ou menor amplitude.

Ter espaço para colocar o potencial criativo para fora, ao mesmo tempo em que aprende a desenvolver o senso crítico, é o que o processo educacional deve lhe fornecer, e isso não será alcançado se continuarmos a dar aula nos moldes tradicionais, onde o professor destila o conhecimento e o aluno apenas recebe, numa tentativa muitas vezes mal sucedida de absorvê-los, quanto mais de vivenciá-los.

Não esqueçamos que a evangelização espírita infantojuvenil praticada nos Centros Espíritas está igualmente no contexto da educação do espírito. Os Centros Espíritas precisam, se já não o fazem, priorizar esse serviço, formando evangelizadores nessa proposta dinâmica do educar, e adaptando suas dependências físicas para que educadores e educandos tenham espaços estimuladores para o desenvolvimento do senso moral, da vivência das lições cristãs. Improvisação não deve rimar com educação.

Estamos diante do tempo em que o planeta caminha a passos mais largos para mundo de regeneração. Temos muito a fazer, é verdade, pois o bem ainda não predomina, mas o alvorecer de uma nova era se anuncia, solicitando nossa decisiva colaboração na regeneração moral da humanidade, por isso a chamada para uma educação que permita o desenvolvimento da criatividade e do pensamento crítico, pois em não sendo assim, o processo de transformação planetária será mais lento do que deseja Deus, que aguarda que seus filhos façam, em definitivo, a sua parte na obra da criação universal.


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