Como é bom sonhar

 

Os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos” (Rubem Alves).

Como ser um especialista em amor? Essa intrigante pergunta perseguia o Maurício, professor de Matemática no ensino fundamental e médio, trabalhando tanto numa escola pública quanto numa escola particular, às voltas com crianças e adolescentes. Como conciliar conteúdos, provas e notas com o amor e a interpretação dos sonhos de seus alunos?

Durante muito tempo o professor Maurício acreditou que o pensamento de Rubem Alves era um delírio impossível de se concretizar na realidade da escola e da sala de aula. Então ele fez contato solicitando que falássemos alguma coisa: utopia ou possibilidade?

Lembramos então do Léo Buscaglia, que ficou conhecido como “professor do amor”, lá nos Estados Unidos. Ele foi o primeiro a estabelecer numa universidade um curso sobre o amor. Foi chamado de louco e pervertido no início, mas provou a necessidade que temos de aprender a desenvolver o maior dos sentimentos humanos, e como nos tornamos muito melhores com esse aprendizado.

Muitas crianças e jovens são apenas seres humanos necessitados de amor. Estão cansados de apanhar da família, da escola e da vida. Procuram por ideais superiores que direcionem utilmente seu existir. São carentes afetivos: buscam por palavras de estímulo, por compreensão, por respeito, por amizades sinceras, por abraços fraternos, nem que sejam migalhas afetivas.

E crianças e jovens sonham. E seus sonhos não podem ser ignorados. E devem ser ouvidos e sentidos pelo professor. Que adianta ser especialista nisso e naquilo, acumulando saber, se isso não nos deixa mais humanos, mais sensíveis para com o outro?

Na verdade o Rubem Alves tem razão. Os educadores precisam ser especialistas em amor e intérpretes de sonhos. Somente assim a escola deixará de ser em lugar frio, distante da vida, sem comunicação com o existir humano, pois hoje a escola é lugar de conteúdos curriculares, de exigências burocráticas, de notas frias de avaliação. Não há calor humano, não há espaço para diálogos profundos, não há lugar para o sentimento.

Os educadores, como o professor Maurício, também sonham, também são carentes afetivos, mas parecem teimar em se fechar para o mundo interior de seus alunos, não querendo admitir que eles também sonham. Precisamos, na escola, fazer com que os sonhos se encontrem e se complementem.

Não, não é utopia se especializar em amor e saber interpretar sonhos. É necessidade. Nosso professor de matemática pode reservar um espaço semanal em uma de suas aulas para conversar e ouvir, deixando que seu alunos falem o que pensam e o que querem da vida. E permitindo-se também falar de si mesmo para eles. Com certeza seu trabalho ficará mais enriquecido, mais humano, atingindo não apenas a mente, mas o coração.

Quando Léo Buscaglia lançou o curso, houve uma procura de aproximadamente cem alunos. No ano seguinte esse número dobrou. No terceiro ano havia uma fila de espera de mais de quinhentos alunos. Não havia um conteúdo curricular, mas temas geradores de conversas e debates, sempre tendo como ponto de partida a pergunta essencial: o que é o amor?

Será que temos resposta?

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