Amar para se espiritualizar

O Espírito Sansão (Sanson, em francês), que havia sido membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, também conhecida como Sociedade Espírita de Paris, fundada e dirigida por Allan Kardec, comparece no capítulo XI, item 10, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em mensagem escrita em 1863, para nos surpreender com uma informação muito importante:

Fazendo isso (amar muito), de tal maneira vos elevareis acima da matéria, que vos espiritualizareis antes mesmo de despirdes o vosso corpo terreno.

Para muitas pessoas a espiritualização do próprio ser passa por muito longe no tempo, somente depois de longas e porfiadas encarnações aqui na Terra e em outros mundos, afinal temos tantas imperfeições de caráter, tantos vícios morais, que vislumbrar a própria espiritualização nesta existência é como se fosse uma utopia, algo irrealizável aqui e agora. Entretanto, a mensagem é muito clara: sim, isso é possível, mas possui uma condicionante: é preciso amar e amar muito aos semelhantes, para poder ser amado por eles, assim gerando paz de consciência e melhor compreensão dos mecanismos da lei divina, o que não é possível sem elevação da alma através de propósitos mais nobres.

Amar, e amar muito, essa é a senha para a espiritualização ainda aqui na Terra. Apressemo-nos a esclarecer que amar muito aos semelhantes nada tem a ver com a prática sexual. A referência espiritual é em relação ao sentimento sublime e profundo do amor que derruba as barreiras do preconceito e da discriminação, do egoísmo e do orgulho. O Espiritismo nos auxilia nessa caminhada ao destruir a barreira da morte, demonstrando que a vida continua e os laços afetivos perduram para sempre, unindo os Espíritos por todo o universo; ao nos mostrar Deus como Criador e Pai, assim repleto de bondade e misericórdia; ao nos informar que todos, sem exceção, somos destinados à perfeição, e que as diferenças aqui existentes entre nós são passageiras.

Se é certo que temos nesta existência material antagonismos, rejeição a esta ou aquela pessoa, pensamentos diferentes, também é certo que, queiramos ou não, somos irmãos porque filhos do mesmo Pai, e é nesta mesma existência repleta de desafios que precisamos encontrar e colocar em ação as forças divinas que possuímos para superar os desencontros do passado, acontecidos em existências anteriores, aprendendo a amar o próximo como desejamos que ele nos ame, assim não agravando as dificuldades de relacionamento, nem criando novos desentendimentos, seja com aqueles que jornadeiam conosco há muito tempo, seja com novos viajores encontrados nesta encarnação.

Há uma outra solicitação de Sansão em seu texto que merece nossa atenção:

Deveis também elevar-vos bem alto, para julgar sem as restrições da matéria, e assim não condenar vosso próximo, antes de haver dirigido o vosso pensamento a Deus.

Quem verdadeiramente ama a seu próximo, seja ele quem for, não o julga, e muito menos o condena. Exerce antes a compreensão e procura se colocar no lugar dele, pois cada ser humano, Espírito em evolução, possui a sua história, vive circunstâncias existenciais especialíssimas, individuais, carregando um passado que desconhecemos. Como podemos criticar, julgar, condenar, se nosso conhecimento é diminuto? Somente Deus, que tudo sabe, pode julgar, mas seu julgamento é justo e sem privilégios, pois a cada sempre é dado segundo suas obras.

Jesus foi muito claro quanto a isso: Não julgueis para não serdes julgados; com a mesma medida que medirdes o vosso próximo, seres medidos por Deus no dia do juízo, ou seja, quando retornarmos para o mundo espiritual, ocasião em que teremos de prestar contas com a Lei Divina através da própria consciência.

Amar, e amar muito, e não julgar, elevando-nos acima da matéria, nos colocará em condições de realizar a própria espiritualização, como vemos nos exemplos de João Evangelista, Vicente de Paulo, Joana D’Arc, Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Gandhi, Irmã Dulce, Francisco de Assis e tantos outros personagens históricos que nos deram exemplos tocantes de humildade, simplicidade, caridade e muito amor, sem se deixarem arrastar pela matéria, pelos apelos do mundo, colocando-se acima dos homens e mulheres que se deixam arrastar pelo egoísmo e pelo orgulho, pela satisfação do sensualismo e dos vícios e paixões de toda ordem.

Inspiremo-nos neles, e acima deles, em Jesus, para aprendermos a amar e nos elevarmos acima das circunstâncias materiais da vida terrena.


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