Evangelização: prioridade urgente

Convidado para proferir palestra em reunião pública de um centro espírita, fomos recepcionados por um dos seus diretores, ao qual perguntamos sobre a atividade de evangelização espírita infantojuvenil. Ele informou que não atuava nessa área e que, na verdade, não tinha informações a respeito, não sabendo sequer se o centro tinha essa atividade, pois ele somente comparecia ao mesmo vez ou outra para cumprir suas obrigações diretivas, deixando as tarefas doutrinárias a cargo dos outros diretores. Procurando saber um pouco mais com quem estávamos dialogando, ficamos sabendo que ele pertencia à instituição há pelo menos trinta anos, mas que não se envolvia com “essas” atividades, e que ali estava fazendo nossa recepção por motivo excepcional: é que o presidente havia solicitado, por falta de outro diretor disponível, para que ele exercesse, naquela noite, a tarefa de receber o palestrante convidado. Éramos de fora, estando ali pela primeira vez, mas quem parecia um “peixe fora d’água” era ele, que também não sabia muito bem como funcionava a reunião pública, afinal não era ele o responsável por essa atividade no centro espírita.

Essa história pode parecer uma ficção, mas é uma realidade. Quantos centros espíritas não compõem seu quadro diretivo com pessoas de boa vontade, mas que ali estão apenas para “fazer número”, apenas para preencher os cargos, obedecendo o estatuto e a legislação, mas que não se envolvem, de fato, com o centro espírita, deixando tudo a cargo de dois ou três que, efetivamente, tocam a instituição para frente? É claro que as atividades doutrinárias sofrem com isso, pois não existe espírito de equipe, de cooperação e de engajamento com a instituição e com a doutrina. Para muitos diretores de centros espíritas, a evangelização da criança e do jovem não tem muita importância, pois estão voltados para as palestras, os passes, as reuniões mediúnicas, os tratamentos espirituais e, também, mas nem tanto, aos grupos de estudo. Outros estão tão absortos na área da assistência e promoção social, que somente conseguem visualizar crianças e jovens se os mesmos pertencerem às famílias assistidas.

Outra história muito importante para ilustrar essa grave questão da falta de visão e prioridade para a evangelização, e da falta de engajamento com o Espiritismo, é o ocorrido em outro centro espírita, em palestra comemorativa dos cinquenta anos de fundação, quando ficamos sabendo que, em homenagem ao fundador, mantinham apenas e tão somente aquela reunião pública semanal, a mesma que havia inaugurado o centro espírita. Detalhe: há um condomínio residencial em frente ao centro, mas seus diretores se queixam da falta de público e de trabalhadores e, portanto, tinham uma evangelização muito reduzida, pois faltavam evangelizadores e evangelizandos.

Como dizem os amigos espirituais, a evangelização infantojuvenil, e podemos estendê-la para a família, é desafio de urgência, pois trata-se de amparar os espíritos encarnados através da promoção do bem, do combate à más tendências, com o desenvolvimento das virtudes, a criação de bons hábitos, impulsionando a inteligência para promover o bem para todos. Evangelizar à luz do Espiritismo é um ato de amor, tendo por roteiro os ensinos morais de Jesus, os quais estudamos no Evangelho.

Se não evangelizarmos, ou seja, se não ligarmos esses espíritos ao Evangelho, nossa sociedade ficará cada vez mais materialista, egoísta e violenta, como temos assistido acontecer nas últimas décadas. O que nós, espíritas, estamos esperando? Quando vamos acordar do sono profundo de fazer da Doutrina Espírita uma simples religião salvacionista das almas pecadoras do mundo, teimando em transformar o centro espírita numa igreja onde fazemos nossos votos devocionais uma vez por semana? Ou, ainda, transformando o centro espírita num hospital de corpos perecíveis, como se o mesmo tivesse a finalidade de substituir a medicina, os médicos e os hospitais?

Estamos assistindo gerações adentarem à sociedade sem terem ideais mais enobrecidos de vida, pelo contrário, vivendo apenas o dia a dia, indiferentes para com os outros, insensíveis às dores e sofrimentos do próximo, utilizando da hipocrisia para se darem bem na vida, mesmo que isso acarrete a desgraça para os outros. E mesmo sabendo que a finalidade maior do Espiritismo é colaborar decisivamente para a transformação moral da humanidade, não damos importância à evangelização espírita das crianças e dos jovens; não fazemos esforços para prepará-los para serem bons pais e bons cidadãos; não realizamos atividades para capacitar evangelizadores para essa tarefa tão sublime e necessária; não trazemos os pais e avós para estudos sobre a família e a educação dos filhos e netos.

O Espiritismo é doutrina de educação da alma imortal reencarnada. Cabe, diante disso, a pergunta: O que estamos fazendo com o Espiritismo? Nesse contexto, a evangelização espírita não é prioridade urgente?

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