Um fenômeno dos novos tempos tem atingido cada vez mais pessoas mundo afora, provocando consequências funestas tanto do ponto de vista psicológico e emocional, quanto do ponto de vista físico, acarretando inclusive assassinatos. Trata-se do chamado ódio virtual, com discussões através das redes sociais ou aplicativos de comunicação instantânea, perseguições, cancelamentos e outras situações. Quem é vítima do ódio virtual perde amizades, tem sua vida devassada, é obrigada a conviver muitas vezes com mentiras a seus respeito, e não poucas vítimas adquirem síndrome do pânico, surtam emocionalmente ou entram em estado de depressão. Quantas vezes já assistimos influenciadores digitais despencarem rapidamente do pedestal em que se encontravam, por causa de fofocas, mentiras e brigas virtuais que se tornam públicas. Em tempos de internet, tudo viraliza com muita rapidez, e quando o estrago está feito, concertar torna-se às vezes tarefa muito difícil.
O ódio virtual é bem uma característica da nossa inferioridade moral. As motivações são várias, mas na base encontramos, como sempre, o orgulho e o egoísmo, a vaidade e a prepotência, que uma boa educação moral desde a infância poderia ter combatido com eficiência, mas isso, por enquanto, não é o foco dos nossos esforços educativos junto às novas gerações, assim permitindo que as más tendências de caráter trazidas pelo espírito se manifestem e sejam mesmo reforçadas pelos maus exemplos, assim como por orientações equivocadas, daqueles que são encarregados da sua educação, ou seja, pais, avós, tios, pois o lar é a primeira e mais importante escola.
Estamos às voltas, como é fácil constatar, com a inveja, a intolerância, a falta de compreensão, a mágoa, o ressentimento, o desrespeito ao direito do outro, querendo impor a nossa opinião, o nosso desejo, e com muita dificuldade de perdoar, quanto mais de amar o nosso semelhante. Acontece que estamos reencarnados, como bênção da justiça divina, para aprendermos a nos amar, para desenvolvermos as virtudes, ou seja, o potencial divino que trazemos em germe. Ninguém reencarna com o propósito de repetir os erros feitos nas vidas anteriores, nem reencarna com o objetivo de fazer o mal. Todos reencarnamos para dar continuidade ao nosso progresso moral, ao mesmo tempo em que devemos contribuir para o progresso moral da coletividade.
Com esse entendimento que a Doutrina Espírita nos oferta, devemos fazer esforços para combater em nós as más tendências de caráter, o que somente pode ser feito através do autoconhecimento e da autoeducação, lembrando que compreendemos a educação como sendo a educação moral, ou educação do espírito, como nos assinalam Allan Kardec e os Espíritos Superiores nas obras básicas.
A partir do nosso esforço individual, assumimos a responsabilidade de educar aqueles que Deus está confiando a nós como filhos, netos, sobrinhos, pois a missão de educar é outorga divina aos pais e à família, outorga essa da qual teremos que prestar contas, portanto, ligar esses espíritos ao Evangelho é ação urgente, para que aprendam a fazer aos outros somente o que desejam que os outros lhes façam; para que aprendam a perdoar as ofensas; para que aprendam a devolver o mal sempre com o bem; para que aprendam a amar o próximo como amam a si mesmos.
É na promoção dessa educação que a internet, através das redes sociais e aplicativos de comunicação, deixará de ser terra sem lei, pelo contrário, será terreno de fraternidade e solidariedade, fomentando coisas boas e úteis, pois o processo da educação moral destruirá, com o tempo, tanto o egoísmo quanto o orgulho.
O ódio virtual é uma modalidade moderna do mal que ainda habita em nós, permitindo que nos escondamos, ou nos protejamos, em perfis que podem ser falsos, ou podem ser apagados, os quais manipulamos à vontade, ou, por outro lado, bloqueando quem pensa diferente e continuando a atacar o outro pelo simples fato de não pensarmos como ele, ou de não gostarmos, por algum motivo, daquela pessoa, normalmente porque a invejamos ou ficamos infelizes diante da sua felicidade, do seu sucesso.
O espírita, como representante que é do Cristianismo, portanto dos ensinos morais de Jesus, deve tomar muito cuidado. Dele se espera o esforço de dar o melhor exemplo na vivência dos postulados evangélicos, ainda mais sendo sabedor que a vida continua depois da morte, e que sempre terá que assumir as consequências do que faz na presente existência terrena.
O melhor combate que podemos fazer contra o ódio virtual, o mais eficaz, inclusive sendo preventivo, é aumentar as doses de amor ao próximo, tolerando, compreendendo, vigiando a nós mesmos, orando, e seguindo em frente na semeadura do bem, pois temos certeza que Jesus e os Bons Espíritos estão conosco, restando saber se estamos, de nossa parte, com eles.