Ao longo da história várias concepções já foram criadas a respeito da criança, e essas concepções muito influenciaram a educação, como não poderia ser diferente, pois conforme vemos e acreditamos seja a criança, será como vamos educá-la. Métodos, didáticas, instrumentos, procedimentos, técnicas dependem do olhar que temos sobre a criança e, também, dependem da compreensão que temos da educação e do processo de aprendizagem. É nesse amplo contexto que o Espiritismo comparece para dar sua contribuição, a partir de sua visão espiritualista sobre a criança e sobre a educação, considerando que a criança é uma alma que transcende o corpo, e que essa alma não surge com o nascimento, pois em verdade já existia, ou seja, era antes um Espírito que já teve outras existências corporais, portanto, a criança é um Espírito reencarnado que traz em si aprendizados e vivências já realizadas em vidas passadas, estando em plena realização de seu progresso, destinada a ser, um dia, Espírito Puro, alcançando o ápice da inteligência e do sentimento. Não esqueçamos, pois, desse enunciado do Espiritismo: a criança é um Espírito reencarnado!
Tendo em consideração a reencarnação, a criança traz consigo ideias inatas e tendências de caráter, de acordo com o progresso já realizado, portanto, não é uma página em branco, muito menos um adulto em miniatura, pois na atual encarnação assume um novo corpo e uma nova personalidade, em outro contexto histórico, social e cultural. Como nas encarnações passadas, terá de passar pelo período infantil, onde, apesar de ser um Espírito milenar, terá que aguardar o desenvolvimento dos órgãos corporais para melhor se manifestar; portanto, durante a infância pensará e agirá como criança, sendo dependente dos encarregados da sua criação e educação. Apesar dessa dependência, manifesta, pouco a pouco, quem ela é, e podemos notar isso observando suas tendências e ideias, que podem ser boas ou más, competindo primeiro aos pais a correção das más tendências e o reforço das boas tendências, sempre respeitando o livre arbítrio do Espírito, mas dando-lhe limites, regras de convivência e levando-o a aprender que sempre devemos fazer ao outro somente o que desejamos o que ele nos faça.
A educação, segundo o Espiritismo, deve desenvolver de forma equilibrada, harmônica, tanto a inteligência quanto o sentimento, pois o Espírito, desde o ato da criação divina, possui em si, em forma de germe, todo o potencial para ser desenvolvido. O educador deve estimular o querer do educando: querer aprender, querer conhecer, querer sonhar, querer descobrir, encantando-se com os aprendizados que realiza sob a supervisão e estímulo do educador. Ao mesmo tempo a educação deve combater as más tendências e desenvolver as virtudes; deve levar o uso da inteligência para a construção do bem coletivo; deve estimular a formação moral e espiritual da criança, unindo a teoria com a prática, pois fora da caridade não há salvação, como muito bem nos lembra Allan Kardec.
Tendo um olhar amplo e profundo sobre a justiça divina, reconhece o Espiritismo a existência do instituto pedagógico da reparação nos mecanismos reencarnatórios, sempre propiciando ao Espírito meios de reparar o mal que tenha cometido em existências anteriores. O instituto da reparação, por ser profundamente educacional, deve ser adotado pela família e pela escola, pois não basta o educando pedir desculpas e demonstrar arrependimento: o mal foi feito, pessoas foram prejudicadas, assim isso deve ser reparado, ou seja, o pedido de perdão acompanhado da reconstrução da convivência fraterna, solidária, e, quando o caso, também a reparação de ordem material. Nisso consiste a verdadeira prova, o verdadeiro aprendizado, portanto, a reparação, no entendimento do Espiritismo, como instrumento pedagógico que é, deve fazer parte do ato educativo.
Ao afirmarmos que a criança é um Espírito reencarnado, lançamos a educação a outro patamar, trazendo implicações pedagógicas de vulto, transformando conceitos e práticas. O educador passa a ter outro olhar sobre aquele ser que está em aprendizado, momentaneamente revestindo-se da capa da inocência, mas que é, em verdade, um ser com bagagem pretérita e portador de uma missão específica na atual encarnação, mas que se insere na missão geral que abarca todos os seres humanos: aprender a amar a si mesmo, ao próximo e a Deus.
Eis que a vida imortal apresenta-se no horizonte, convidando-nos a dar o voo da alma, servindo-nos da educação espiritualizada e humanizada para destruir o egoísmo e o orgulho, as duas grandes chagas morais da humanidade. Esse é o convite que o Espiritismo nos faz: a realização da nossa transformação moral, individual, para a transformação moral da humanidade. Isso será alavancado quando, finalmente, nos dedicarmos á educação moral do Espírito reencarnado, fazendo realidade a educação que promove o bem, esclarecendo as consciências e sensibilizando os corações para o amor, base, essência, da educação.