segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Aulas prontas x personalizadas


Durante muito tempo, recordando minha atuação como evangelizador espírita, limitava-me a dar aula utilizando materiais prontos apostilados que eram fornecidos pela Federação Espírita Brasileira e outras federativas, num momento em que, lá pelos anos 70 e 80 do século passado, quase nada tínhamos que nos auxiliasse nesse trabalho. E tenho muita gratidão pelos educadores dessas federativas que iniciaram o movimento de evangelização espírita infantojuvenil, dando-nos suporte e materiais para que pudéssemos evangelizar. Com os anos trazendo-nos experiência e estudos, principalmente nas áreas de Pedagogia e Psicologia, começamos a nos distanciar desse material apostilado, elaborando materiais próprios e adaptando teorias pedagógicas para melhor atendimento às necessidades e ritmos apresentados pelas crianças e jovens, que são espíritos reencarnados.

Foi nessa época que ingressamos no Departamento de Educação da então Useerj – União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro, trabalhando com o educador Lydiênio Barreto de Menezes, com quem muito aprendemos, e ampla equipe de devotados educadores, promovendo seminários e encontros sobre educação espírita que percorreram todo o estado. Movimentamos os espíritas em torno de propostas pedagógicas dinâmicas e humanizadas, reunindo professores, evangelizadores e pais em ambientes de fraternidade e troca incessante de ideias e práticas educacionais que muito nos enriqueceram. Temos saudosa memória dos eventos com os educadores Ney Lobo e Adalgiza Balieiro, entre outros, que nos trouxeram suporte inestimável à luz do Espiritismo.

É também desse período de minha vida os estudos pedagógicos no ensino superior, contextualizando os conhecimentos adquiridos na faculdade com os princípios da doutrina espírita, o que me fez tomar outro caminho na evangelização espírita infantojuvenil, abolindo as aulas apostiladas já prontas, e substituindo-as por temas geradores de conversas e pesquisas, permitindo aos evangelizandos a construção e desenvolvimento de conhecimentos e de valores morais, fazendo-os pensar, querer conhecer e praticar o que aprendiam. É claro que as dificuldades apareceram, assim como as incompreensões, mas aprendi que a sala de aula deve ser substituída pelo espaço de aprendizagem, e que as aulas prontas devem ser substituídas pelas atividades personalizadas, atendendo as individualidades, que devem trabalhar em conjunto, fazendo pesquisas, explorando a cultura humana, os conhecimentos diversos e elaborando conceitos e práticas éticas no relacionamento com os outros.

Foi assim que surgiu a Pedagogia da Sensibilidade e a Escola do Sentimento, esta tendo por base o trabalho do educador Pestalozzi, ambas voltadas para a escola, e na sequência o Projeto Educação do Espírito, dedicado à evangelização espírita. Muitos anos de trabalho, pesquisa e estudo que valeram úteis aprendizados e consolidaram minha convicção que o Espiritismo é doutrina de educação do ser humano, que por sua vez é um espírito reencarnado, e isso tem implicações pedagógicas amplas e profundas.

Respeitar o espírito com suas ideias inatas e tendências de caráter, inserido num novo contexto cultural através da reencarnação, é muito importante, lembrando que cada espírito possui seu ritmo de aprendizado, e que no período infantil ele está mais flexível para receber as boas influências da educação que, nos lembra Kardec, deve ser prioritariamente a educação moral, aquela que lhe dá bons hábitos, corrige más tendências e desenvolve o bom caráter. Mas isso não pode ser feito por imposição dos educadores, nem terá real proveito se não sair do terreno da teoria, por isso temos que não mais dar aula, e sim promover o convívio, a participação, colocando-nos na postura de orientadores, facilitadores e incentivadores do processo educacional, permitindo que esse espírito faça a caminhada de sua evolução por si mesmo, querendo o bem porque sente que o bem é útil para ele e para os outros.

As aulas prontas, apostiladas, assim como o livro didático com exercícios, tiveram seu tempo e sua utilidade; assim como o evangelizador ensinando, dando aula, teve igualmente o seu tempo e sua utilidade. Esse modelo não serve mais. O ser humano – espírito reencarnado – é um ser complexo que não pode ficar sentado tentando aprender o que lhe é ensinado. Ele possui o potencial divino, em germe, nas áreas da inteligência e do sentimento, que está desenvolvendo ao longo das experiências corporais físicas, trazendo em si uma bagagem de conquistas que deve ampliar e, muitas vezes, corrigir, melhorar, o que somente conseguirá se tiver espaço para se exprimir, para pensar e para fazer.

A evangelização espírita infantojuvenil, que deve também abranger os pais, tornando-se evangelização espírita da família, necessita de uma nova dinâmica a partir do estudo e compreensão da filosofia espírita da educação e de sua consequente pedagogia espírita, num processo humanizado e espiritualizado, visando a construção de um novo ser humano e uma nova humanidade, onde o amor e a caridade sepultarão de vez o egoísmo e o orgulho e, olhando para a eternidade à frente, os valores morais e espirituais da vida fazerem com que ele alce o voo da alma imortal, assim encontrando a paz e a felicidade, hoje um sonho, mas amanhã uma realidade.

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