Já dizia o saudoso economista, jornalista e comentarista Joelmir Beting que “na prática a teoria é outra”, referindo-se à questão que nem sempre o que é estudado, teorizado e planejado, é o que, de fato, acontece na prática. Isso vale também para a educação. Temos leis que estabelecem boas diretrizes e bons programas, assim como temos projetos pedagógicos que são muito bons, mas tanto as leis quanto os projetos se perdem no caminho até chegar à escola, ou pelo menos ficam nela engavetados, e vemos tudo sempre funcionar como sempre funcionou: os professores dando aula, as avaliações sendo feitas com provas e notas, as salas de aula continuando a existir, e assim por diante, num quadro que já está desgastado de tanto ser repetido. Infelizmente isso também acontece no cenário da evangelização espírita.
Embora o Espiritismo seja doutrina de educação e tenha um manancial pedagógico e metodológico muito bem estruturado, continuamos a assistir os centros espíritas utilizarem evangelizadores de boa vontade, mas sem o devido preparo pedagógico, e as crianças ficam então submetidas a um copia e cola de apostilas prontas, músicas muitas vezes fora de contexto, contação de histórias sem o devido preparo e dinâmica, isso quando a evangelização espírita na verdade não passa de um espaço onde se tomam conta de crianças com a prática de atividades recreativas e algum ensino dos princípios da doutrina. Mas será que a evangelização espírita é sinônimo de ensinar o Espiritismo?
Não estamos generalizando, pois sabemos que existem escolas de evangelização espírita muito boas, com os evangelizadores compenetrados de sua missão. Estamos fazendo uma constatação: muitas escolas de evangelização espírita deixam a desejar, com uma prática pedagógica que está muito longe do que propõe o Espiritismo, assim como se faz distante das melhores ideais e práticas educacionais. Isso ocorre por vários fatores, entre eles, a não vinculação dos membros diretores do centro espírita com a evangelização. Muitos sequer sabem algo da e sobre a evangelização, atendo-se apenas às reuniões públicas de palestra, ao grupo mediúnico e outras atividades, deixando o atendimento às crianças e aos jovens para os responsáveis pelo Departamento de Infância e Juventude, normalmente isolado num horário de fim de semana, ou exercendo sua atividade em conjunto com uma reunião pública noturna e, nesse caso, a bem da verdade, temos de convir que 40 a 50 minutos semanais é bem pouco para desenvolver um trabalho pedagógico de profundidade.
Allan Kardec, junto com os Espíritos Superiores, estabelece em O Livro dos Espíritos, a obra que lançou o Espiritismo ao mundo, e portanto é a obra básica para quem quer conhecer e praticar a Doutrina Espírita, a educação moral como o antídoto ao egoísmo e ao orgulho, que ainda nos caracterizam e realizam tantos males na humanidade. Mostra que a educação moral deve combater as más tendências de caráter do Espírito reencarnado, ao mesmo tempo em que deve estimular o desenvolvimento das virtudes, tendo como roteiro os ensinos morais de Jesus, que estuda magistralmente em O Evangelho Segundo o Espiritismo.
A base pedagógica está nas obras da Codificação Espírita, e essas bases são estudadas e desdobradas por vários educadores que nos legaram obras que nem sempre são divulgadas e estudadas como deveriam ser.
Façamos aqui um esforço de memória para trazer ao leitor alguns desses importantes educadores espíritas: Léon Denis, José Herculano Pires, Anália Franco, Eurípedes Barsanulfo, Ney Lobo, Walter Oliveira Alves, Dalva Silva Souza, Lucia Moysés, Sandra Borba Pereira, Heloísa Pires, Thomás Novelino, Adalgiza Balieiro, Leopoldo Machado, Cecília Rocha, Dora Incontri. Citamos alguns, de memória, pedindo já desculpas por eventuais omissões. Dos educadores espíritas citados, alguns não escreveram livros, mas deixaram exemplos notáveis em projetos pedagógicos bem sucedidos, tanto na evangelização quanto em escolas oficiais. A produção literária educacional é bem ampla, e convidamos o leitor a uma pesquisa na internet que será bastante salutar.
Como vemos, não faltam literatura e projetos pedagógicos espíritas para orientar e dinamizar as escolas de evangelização dos centros espíritas, mas acreditamos que palestras, seminários, congressos e cursos sobre educação na visão espírita estejam faltando, ou deveriam ser ampliados e feitos mais constantemente, pois não basta a boa vontade de quem quer evangelizar, é necessário ter oportunidade de se qualificar pedagogicamente através do Espiritismo.
Pode ser que, ainda durante um tempo mais ou menos longo, continuemos a ter uma prática distanciada da teoria, mas a aproximação e fusão entre a teoria e a prática da educação espírita pode e deve ser feita, competindo aos dirigentes espíritas se conscientizarem que somente através da educação moral, ou educação do Espírito, haveremos de realizar a transformação moral da humanidade.
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