segunda-feira, 8 de setembro de 2025

O egoismo e a violência


Marcus De Mario

A história humana é repleta de cenas de desrespeito aos direitos fundamentais, entre eles o mais importante: o direito à vida. Assistimos tempos afora a um desfile quase interminável de narrativas de violência do homem contra o homem, em duelos, guerras, crimes, assim como ampla injustiça social acarretando males incontáveis à estrutura emocional e psíquica dos indivíduos. Temos, então, amplo e profundo histórico de violência, seja física ou emocional, na história da humanidade, não apenas em tempos passados, mas igualmente na atualidade, o que nos permite perguntar: qual a causa da violência?

Ao endereçar essa indagação aos Espíritos Superiores, Allan Kardec recebe dos mesmos uma resposta direta e contundente: o egoísmo! Desdobrando o assunto, em O Livro dos Espíritos, o codificador espírita revela o antídoto: a educação moral!

Aprendemos com o Espiritismo que o egoísmo é a base de todos os vícios, é a chaga moral que ainda habita em nós, e que ele anda de mãos dadas com o orgulho, seu irmão. Compete-nos destruí-los, e isso somente pode acontecer com a aplicação e o desenvolvimento da educação moral, que é a verdadeira educação. Contudo, temos nos equivocado quanto à aplicação da educação moral, porque normalmente a aplicamos aos outros, de forma impositiva, quando, primeiro, devemos aplicá-la a nós mesmos, pois se eu não me melhoro moralmente, como hei de exigir a melhora moral do outro? A educação tem sua força no exemplo do educador, e a transformação moral não pode ser imposta, antes deve ser um convite irresistível à consciência, que então fortalecerá a vontade do Espírito, fazendo-o vencer a si mesmo.

Já ensinava o filósofo grego Sócrates que devemos, antes de tudo, conhecer a nós mesmos, extraindo do mundo das ideias o potencial divino que possuímos. Depois tivemos Jesus, o educador dos educadores, afirmando que devemos amar o próximo como amamos a nós mesmos, aliando a teoria com a prática. E no decurso da história, recebemos Pestalozzi, o educador revolucionário, a demonstrar na prática o amor na regência da educação.

Em todos os tempos o amor e o conhecimento de si mesmo sempre nos convidaram a um novo rumo na vida, exaltando a importância da cooperação, da justiça, da caridade, da fraternidade e da solidariedade, pilares da educação do Espírito, nossa realidade imortal, mostrando-nos que assim, com perseverança, podemos vencer e destruir o egoísmo e, também, o orgulho.

Voltando a Allan Kardec, devemos reconhecer que ele foi o educador francês Denizard Rivail, tendo introduzido o método de ensino pestalozziano na França, sendo autor de várias obras didáticas e pedagógicas, além de administrador do Instituto Rivail, escola de ensino fundamental (na nomenclatura atual) que teve como modelo o famoso Instituo de Yverdon, na Suíça, onde foi aluno do mestre Pestalozzi. Trata-se, portanto, de um emérito educador do século 19, que rapidamente compreendeu que a essência do Espiritismo é a educação, entendendo-a como sendo a educação moral.

E em que consiste a educação moral do Espírito reencarnado? Será acrescentar às disciplinas curriculares da escola mais uma disciplina para trabalhar a educação moral? Não, não é essa a visão da Doutrina Espírita. A educação moral deve estar entranhada nos conteúdos de todas as disciplinas curriculares; deve estar na conduta ética, respeitosa, dos educadores para com os educandos; deve estar no trabalho de descoberta da vida; deve levar os educandos ao desenvolvimento de sua espiritualidade. Enfim, a educação moral deve combater as más tendências de caráter que o Espírito apresente, ao mesmo tempo em que deve levá-lo a desenvolver as virtudes, dando-lhe bons hábitos de previdência, de solicitude e respeito para consigo mesmo e para com os outros.

Quando a educação moral estiver implementada na família, com a correspondente continuidade na escola, o egoísmo perderá terreno e, como consequência, a violência diminuirá, até ser totalmente extirpada do mundo terreno, no processo de transformação do mundo de expiações e provas em mundo de regeneração, onde o mal estará substituído pelo bem.

Temos pela frente ainda uma longa caminhada a realizar, e o convite que o Espiritismo nos faz, erguendo o Evangelho como luz dessa jornada, é o de acionarmos nossa vontade, nosso querer, para que alcancemos em mais breve tempo possível a felicidade, representada pela paz de consciência, pela paz espiritual do dever cumprido em amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Essa é a educação que devemos aplicar a nós mesmos, e que nos dará, no futuro, uma colheita imperecível, e que ficará conosco para todo o sempre.

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