A escola está divorciada da educação

Os acontecimentos recentes no Brasil, nos Estados Unidos e outros países, de violência exacerbada dentro das escolas, com invasores assassinando alunos e professores e deixando dezenas de feridos, somados aos casos acentuados de bullying entre estudantes, destes com os professores, e também dos professores para com os alunos, nos levam necessariamente a refletir sobre o que está acontecendo e, mais do que isso, detectar as causas e procurar as soluções.

Devemos iniciar nossas reflexões a partir do entendimento sobre o que é educação e qual o papel da escola na sociedade humana, pois sem esse entendimento qualquer opinião desprovida de fundamento, de conhecimento sobre o que se opina, perderá sua validade.

São várias as definições possíveis sobre educação, mas uma sobressai pela sua importância e profundidade: educação é o processo de desenvolvimento do potencial cognitivo e afetivo do ser humano, respeitando suas fases de desenvolvimento psicogenético, permitindo ao mesmo desenvolver aptidões, habilidades, conhecimentos e virtudes. É um processo dialógico e ético que forma o cidadão consciente de si, dos outros e da vida para construção de uma sociedade justa e harmônica. Isso é educação no sentido lato, extenso e profundo.

E qual o papel da escola na sociedade humana? Será o de transmitir conhecimentos através da abordagem de conteúdos curriculares? Será formar o cidadão consciente e ético? É um amálgama disso e outras coisas mais reveladas pelo conceito extenso e profundo da educação? Acreditamos que a terceira pergunta formulada responde mais satisfatoriamente à questão do papel da escola na sociedade humana, ou seja, a escola existe como instituição sócio educacional do homem para prover suas necessidades tanto intelectuais quanto emocionais, e não simplesmente trabalhar a aquisição de saberes propiciados por disciplinas curriculares. Naturalmente que esse trabalho, para se fazer completo, passa pela integração de esforços, de ações da escola com a família e com a comunidade, e destas com a escola.

O que temos assistido, de longo tempo, é um divórcio entre a escola e a educação. Hoje, com suas exceções, e ainda bem que temos muitas exceções, a escola não mais educa, não mais realiza o processo da educação. Ela está engessada em instruir, e às vezes muito mal, com os professores atolados em exigências burocráticas, carga curricular devastadora, avaliações através de provas e notas e outras questões que fizeram com que não mais encontremos a educação dentro da escola. E como temos ouvido de pedagogos e professores, parece que a educação passou a ser responsabilidade única da família, o que não corresponde à verdade, pois se a família tem sua parcela de ação no processo educacional das novas gerações, a escola igualmente, e que vai muito além de ensinar língua portuguesa, matemática e outras disciplinas do currículo.

Ora, se a escola está divorciada da educação, não será sua militarização, ou armando os professores com pistolas e fuzis que solucionaremos a violência interna e externa que hoje assola as unidades escolares públicas e particulares. Aliás, militarização e armamento dentro da escola constituem uma aberração. A escola deve voltar a educar, essa é a solução.

Não somos donos da verdade, mas o que queremos é que na escola tenhamos de fato o processo educacional que levará as novas gerações a crescerem com conceitos éticos, que consigam colocar em prática a regra de ouro da educação: aprender a fazer ao outro somente o que gostaria que o outro lhe fizesse.

Precisamos de uma escola inovadora e criativa, dinâmica na sua metodologia e com seu ensino humanizado. Uma escola que se preocupe com a formação do caráter dos educandos, o que deve ser prioridade dentro do processo educacional. Uma escola integrada com a família e a comunidade onde está inserida.

Essa escola já existe, são aquelas reconhecidas pelo Ministério da Educação em 2016 e que estão no Mapa de Inovação da Educação Brasileira, entre elas o Centro Educacional Conhecer, parceiro do Instituto Brasileiro de Educação Moral, onde podemos ver e nos emocionar com uma educação desenvolvida através do Projeto Escola do Sentimento.

Que possamos, em futuro breve, assistirmos as escolas reconciliadas com a educação, pois somente assim nosso Brasil melhorará, pois é com cidadãos éticos e conscientes que se faz um país melhor, sem injustiça e sem violência.

Como educadores ressaltamos os instrumentos da educação:

Instrução com amor.
Livros.
Autonomia e criticidade.
Formação do caráter.
Desenvolvimento do senso moral e da ética.
Resgate dos valores humanos.
Liberdade com responsabilidade.

Muitas pessoas podem não acreditar que a educação possa resolver a violência e outros males que afligem a escola e atingem a sociedade humana, mas é fato que sem ela, não teremos verdadeira solução.

(Este texto foi escrito em parceria com o educador Ronaldo Gomes).

Comentários

Unknown disse…
Ótima reflexão.
Trata-se de um desafio global: quais serão os modelos institucionais ou não que proverão a aprendizagem que necessitamos como sociedade.
Um pouco mais sobre isso:

https://www.facebook.com/368275693193161/posts/2268424473178264/

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