Novos tempos, velhos problemas

Novos tempos, novas virtudes

Quando se vê o governo escolher para ministro da educação, sucessivamente, pessoas que nada entendem de educação, utilizando para essas escolhas critérios ideológicos ou políticos, percebemos com clareza que, embora se façam discursos de novos tempos, os velhos problemas continuam e até se agravam. A educação continua sendo uma barco com risco de naufrágio em meio de uma tempestade, e não apenas da parte governamental, mas, o que mais nos entristece, da parte da sociedade.

Pesquisas mostram que para os governantes, de todas as esferas de poder – municipal, estadual, federal –, a educação é uma das últimas prioridades em seus programas de governo, o que é seguido igualmente pela população, que não vê na educação a não ser a escola que ensina conteúdos curriculares, preparando os jovens para o mercado de trabalho.

Essa visão míope e equivocada da educação tem arrastado o Brasil ladeira abaixo tanto internamente quanto externamente, em que o país está mal visto e mal classificado pelos organismos internacionais, e pelos governos de outras nações.

O Mistério da Educação, há décadas, somente tem olhar e interesse pelo ensino superior, relegando o ensino infantil, fundamental e médio para papel secundário, e quando se movimento para o básico e essencial, como na criação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), cria um monstro pedagógico devorador das melhores intenções, obrigando as secretarias estaduais e municipais de educação a um esforço para o qual não estavam preparadas, e que resulta, por exemplo, num documento de 500 páginas para orientar os professores da rede de ensino pública na aplicação dessa monstruosidade apavorante.

A BNCC tem duas partes distintas e contraditórias: a teoria, que merce aplausos por se colocar na vanguarda pedagógica dos novos tempos, e a prática, que é retrógrada, incoerente com a teoria, mantendo a seriação escolar por idade dos alunos, que continuarão enfileirados na sala de aula, com o professor continuando a dar aula. Tudo o que a teoria não propõe, a prática consagra. E na contramão da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Um documento oficial que fere flagrantemente a lei.

E assim continua o frágil barco da educação navegando conforme os ventos, lutando para não soçobrar.

Ah, pobre educação, confundida com a instrução, com as provas e notas, com os certificados de conclusão de curso, com a burocracia sufocante, com a preparação técnica para que sejamos alguém na vida, entendendo-se por isso ter uma profissão, mesmo que não sejamos pessoas éticas, de bom caráter e de visão global. Acontece que honestidade e solidariedade passam longe da escola, e para nosso desconsolo, também da família.

Sempre pensamos que novos tempos deveriam requerer novos pensamentos, novas ações, e que a experiência do passado deveria servir para não cometermos mais os erros de outras épocas. Estaríamos equivocados, ou equivocados estão os que assim não pensam?

Não é nosso interesse entrar numa discussão filosófica sem fim e inútil. Os fatos mostram que a educação é o caminho para regeneração da sociedade, mas que essa regeneração somente poderá acontecer quando entendermos com profundidade o que a educação é, pois o que ela não é já sabemos com a dor da experiência de ontem e de hoje.

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