segunda-feira, 5 de maio de 2025

Adolescentes de condomínio


Marcus De Mario

Um adolescente, aproveitando a festa de aniversário de um amigo que ocorria no salão de festas do condomínio onde ambos moravam, por pura diversão quebrou algumas lixeiras ali instaladas e que servem a todos. No dia imediato o síndico foi conversar com os pais a respeito do comportamento do filho, e recebeu como resposta que a taxa de condomínio mensal era bastante alta, que cobria perfeitamente o prejuízo, e que o jovem não estava sozinho e, portanto, a culpa não lhe pertencia. Que o condomínio fizesse a reposição das lixeiras, pois dinheiro é que não lhe faltava. O mau comportamento do filho e de seus amigos ficou em segundo plano, não foi levado em consideração pelos pais, quando deveria ter sido a preocupação primeira. Quem quebra lixeiras para divertir-se pode vir a fazer coisa pior, ainda mais quando acobertado pelos pais e, muitas vezes, também pelos avós e outros familiares.

Não são todos os adolescentes moradores de condomínios que têm esse comportamento e, aliás, não precisa ser morador de condomínio para desrespeitar bens públicos, pois infelizmente assistimos isso acontecer em qualquer lugar, sejam esses adolescentes de qualquer classe social, mas aqui estamos fazendo uma abordagem específica, quando pais de boa posição financeira, com algum status social, sempre defendem os filhos, sem lhes cobrar responsabilidades e ética no viver com os outros. Saber respeitar as outras pessoas e o que é de uso coletivo, é aprendizado fundamental no processo de educação, mesmo porque Jesus, o maior educador da humanidade, ensinou que devemos fazer aos outros somente o que desejamos que eles nos façam. Não temos dúvida que a humanidade seria bem melhor se esse ensino fosse colocado em prática.

Quando a criança, que é um espírito reencarnado, cresce sem aprender a valorizar o que tem e a respeitar as outras pessoas, seu caráter tenderá a ser egoísta e seu comportamento flertará com a indiferença, afinal tudo lhe é dado sem que tenha que se esforçar e tudo lhe é perdoado e justificado, mesmo tendo prejudicado aos outros. É assim que teremos um jovem, e mais tarde um adulto, insensível e vivendo apenas para si, sem realizar a transformação moral que deveria realizar como compromisso assumido antes de reencarnar. De quem é a culpa? É dos responsáveis pela sua criação e educação, que receberam de Deus a missão de educar, mas deixaram de cumprir com essa missão, seja por ignorância, por egoísmo ou por darem maus exemplos a partir de valores de vida equivocados.

Aprendemos com a Doutrina Espírita que no processo educacional deve-se combater as más tendências de caráter que o espírito apresente, mas qual, em nome de uma culposa indiferença muitos pais nada fazem a respeito e ainda reforçam essas más tendências com péssimos exemplos, mais preocupados em viver a vida do ponto de vista dos gozos materiais, esquecidos que somos muito mais que o corpo biológico.

É o descaso com a moralização e espiritualização das novas gerações que leva a sociedade a ter tantas convulsões, tantas dores e sofrimentos. Ensina-se de tudo na família e na escola, menos o que é essencial para o ser humano, por isso não nos admiramos da existência de tantos escândalos e flagelos quando estamos tão afastados da ética, do respeito, da honestidade, da solidariedade, da fraternidade, vivendo apenas o aqui e agora. Tudo seria muito diferente com a aplicação da educação moral ou educação do espírito, como preconizado pelo Espiritismo, tendo por base a imortalidade da alma, a reencarnação e os ensinos morais do Evangelho.

Voltemos para os adolescentes de condomínio, novamente destacando que estamos falando daqueles que desrespeitam tudo e todos, acobertados pelos pais, e que, muitas vezes, se mostram arrogantes e violentos, e não apenas nas dependências do condomínio, mas também em outros locais, como na escola.

Para nosso registro e reflexão, temos a história para nós narrada por um amigo professor e pedagogo, ele também espírita que, trabalhando numa escola particular de elite, ao chamar a atenção de um aluno do ensino médio, portanto um jovem, recebeu do mesmo a seguinte resposta: “Olha como fala comigo, é o meu pai que paga o seu salário!”. Feita a ameaça, deixou bem claro que considera que, por esse motivo, ele tudo pode fazer, até porque os pais provavelmente ou lhe dão cobertura ou são indiferentes ao que o filho faz ou deixa de fazer na escola, o que o torna senhor de si mesmo e dos outros, afinal o que não faltam são recursos financeiros provenientes da família. Faltou apenas dizer a famosa frase: “Sabe quem é o meu pai?”, o que fecharia a ameaça com chave de ouro, se assim podemos nos expressar.

Diante dessa realidade não temos como não admitir a necessidade urgente da educação moral, tão brilhantemente apresentada pelos espíritos superiores e por Allan Kardec nas páginas das obras básicas do Espiritismo, sem confundi-la com ensino religioso desta ou daquela doutrina, pois nos referimos à formação do bom caráter, ao desenvolvimento das virtudes, ao aprendizado do amor ao próximo, à prática da caridade para com todos, ao estabelecimento da justiça e da paz nas ações humanas.

Se hoje a convivência humana está difícil, com crianças, adolescentes, jovens e adultos egoístas e orgulhosos pululando na sociedade, deixando-se levar pelo status social da família em condomínios fechados, o amanhã poderá ser ainda mais difícil se não priorizarmos a educação moral dessa geração abastada e que não consegue ver, quanto mais compreender, que somos todos filhos de Deus e, portanto, que os direitos são iguais para todos.

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