Quando Jesus afirmou que os brandos e pacíficos herdariam a Terra, não foi compreendido e ainda hoje muitas pessoas não compreendem essa afirmativa. Olhando para a história da humanidade, e estendendo esse olhar para os dias atuais, vemos um cortejo de violências físicas e morais de todos os matizes, em todos os povos, em todas as épocas, e, apesar do desenvolvimento científico e tecnológico realizado, temos a impressão que nunca conseguiremos acabar com a corrupção, com a guerra, com o crime hediondo, enfim, com a violência, seja ela psicológica, emocional, moral ou física. Acontece que nem sempre o que nos impressiona revela totalmente a verdade. Se o mal ainda existe e faz muito barulho, é verdade que o bem igualmente existe e tem modificado gradativamente os seres humanos e a humanidade.
Antigamente a tortura, queima e crucificação de pessoas era não somente tolerado como até inserido na lei, nos costumes. Durante muito tempo foi permitido matar em nome da desonra pessoal ou familiar. O que estamos constatando é que também nos desenvolvemos moralmente, pois aperfeiçoamos as leis, corrigimos costumes hoje considerados bárbaros, e estabelecemos uma nova ordem social que condena o uso da violência, embora não tenha conseguido contê-la. É justamente esse o ponto que devemos abordar. Por que, apesar de todo o desenvolvimento já realizado, não conseguimos extirpar a violência da sociedade? Por que não conseguimos ainda viver pacificamente, com base na fraternidade e solidariedade? Por que os ensinos morais do Cristo não se refletem, dois mil anos depois, na nossa conduta?
Façamos ainda outras perguntas: terá Jesus se equivocado em sua profecia, ou nós é que estamos impacientes e não compreendemos o fator tempo a que ele se refere? Ou a questão está em não termos ainda acionado os mecanismos para a realização dessa predição? Cremos, com os estudos e aprendizados propiciados pelo Espiritismo, que a resposta está no não acionamento, de forma conveniente, dos mecanismos que podem alavancar o nosso progresso moral, motivo pelo qual, a partir dos ensinos dos espíritos superiores, ter Allan Kardec proclamado a necessidade de juntarmos esforços pela educação moral.
Seguramente Jesus não se equivocou, pois é o espírito mais perfeito que já esteve presente neste mundo, sendo cumpridor de missão divina da qual deu todas as demonstrações de cumpri-la fielmente, mas ele nunca derrogou o livre arbítrio humano, a liberdade que temos de fazer escolhas e agir, mesmo porque o respeito ao livro arbítrio das individualidades e coletividades é base da lei divina que rege o universo. Em outras palavras, para nosso melhor entendimento, Deus não impõe o que determina, não coage seus filhos a ponto de sermos robôs teleguiados. Fazemos escolhas e respondemos pelas suas consequências, e assim vamos, de aprendizado em aprendizado, realizando nossa evolução, portanto o sofrimento não é determinação divina, assim como o mal é apenas a ausência da prática do bem, do “amai-vos uns aos outros” ensinado e exemplificado por Jesus.
A sociedade reflete a educação dada aos seus membros, e quando, geração após geração, não educamos para a honestidade, para o respeito aos direitos do outro, para a solidariedade, para a paz, enfim, quando não promovemos a educação que corrige as más tendências de caráter que o espírito reencarnado está trazendo consigo, e deixamos que ele cresça envolvido pelo egoísmo, orgulho e materialismo, não temos como nos queixar de Deus ou de Jesus, mas reconhecer que até hoje o Evangelho não está implementado no mundo terreno por culpa do descaso que fazemos com a educação moral, elevada à condição de educação do espírito.
O futuro começa hoje, assim como o hoje começou ontem, e temos que fazer uma tomada de consciência educacional, pois se é certo que os mecanismos da lei divina sempre nos impulsionam para frente, não é menos certo que somos os construtores de nós mesmos e da humanidade, podendo acelerar ou retardar o processo de crescimento espiritual a que somos destinados.
Educar não é simplesmente instruir, não é somente adquirir conhecimentos, não é apenas ter uma formação técnica. Essa educação, distanciada do desenvolvimento do senso moral, gera os males que vivenciamos cotidianamente.
Se queremos que os brandos e pacíficos sejam herdeiros da Terra, estando nós mesmos inseridos entre eles, precisamos nos aplicar em desenvolver a educação moral do espírito reencarnado que somos, e que as crianças são, entendendo que trabalhar a cultura da paz e a mediação de conflitos através do diálogo, da compreensão e do perdão, é urgente.
Não esqueçamos que somos filhos de Deus e que os direitos são iguais para todos, e que a cada um sempre é dado de acordo com suas obras, nem mais nem menos, portanto, diante dessa realidade divina, aprendamos a fazer aos outros somente o que desejamos o que os outros nos façam, que é a regra áurea da educação moral.
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