O médium espírita Chico Xavier, tão querido por todos, tendo deixado vasta obra psicográfica e de caridade ao próximo, sempre foi alvo de contadores de histórias, anda mais por ser mineiro do interior, nascido em Pedro Leopoldo e depois radicado em Uberaba, e ele mesmo, com seu jeito meio caipira, de quem tinha estudado somente até o curso primário, dava asas para que aqueles que o visitavam ou trabalhavam com ele, ficassem contando “causos” do Chico Xavier. E muitos desses “causos” são verídicos, relatados em livros escritos por Clóvis Ramos e Ramiro Gama, entre outros, ou mesmo narrados pelo próprio Chico em suas entrevistas nos meios de comunicação. Enquanto esteve encarnado, havia um certo controle sobre essa contação de histórias, mas após sua desencarnação surgiram várias pessoas afirmando terem trabalhado com o médium, mesmo usufruído de sua intimidade, e muitas e muitas histórias surgiram, sem que, em sua maioria, fosse possível averiguar a autenticidade. E sabemos, como diz famoso ditado popular, que quem conta um conto sempre aumenta um ponto, motivo pelo qual não podemos aceitar de boa fé tudo o que se diz envolvendo a vida de Chico Xavier.
Surgiram nos últimos tempo pessoas dizendo que o Chico Xavier disse a elas, em particular, isso e aquilo, normalmente alguma revelação espiritual mirabolante. Interessante que essas revelações sempre foram feitas em particular, sem que houvesse qualquer testemunha, portanto, ou acreditamos ou não acreditamos. Para isso o Espiritismo nos oferta instrumentos bem seguros, ou seja, passar todas as informações, todas as histórias, todas as revelações, pelos crivos da lógica, do bom senso, da razão e da universalidade do ensino dos espíritos. E também procurar testemunhas idôneas, respeitadas pelo seu serviço à causa espírita, e que, de fato, conviveram com o querido médium.
Entre essas testemunhas está a senhora Nena Galves, que durante mais de trinta anos participou da vida de Chico Xavier em Uberaba, tendo-o hospedado em sua residência, na cidade de São Paulo, dezenas de vezes, nas ocasiões em que Chico Xavier comparecia para tardes/noites de autógrafos do Centro Espírita União que, inclusive, publicou vários dos seus livros mediúnicos. Em seu testemunho, publicado no livro Até Sempre Chico Xavier, ela informa que o médium mineiro nunca lhe fez qualquer revelação espiritual, pelo contrário, era bastante comedido quanto ao que lhe diziam os espíritos, guardando a maior parte das informações consigo. Ele era alegre, gostava de conversar, mas não era de fazer qualquer tipo de revelação espiritual.
Para agravar a situação, muitas histórias verídicas estão sendo distorcidas por palestrantes, que lhes acrescentam coisas que não estão na versão original, ou fazem interpretações às vezes forçadas, levando o “causo” para outro contexto. Muitas vezes temos a impressão que a vida do Chico Xavier foi uma grande comédia, repleta de casos hilários, como se a seriedade não fizesse parte do seu cotidiano, quando sabemos que ele era compenetrado estudioso da Doutrina Espírita, extremamente disciplinado na sua atividade mediúnica, e que durante trinta anos exerceu a profissão de servidor público até a aposentadoria, tendo uma folha de serviços exemplar.
Tanto em palestras públicas, nos grupos de estudo da doutrina espírita, e nos vídeos em redes sociais, precisamos tomar muito cuidado com as histórias sobre Chico Xavier. Precisamos ter por base o que está registrado nos livros biográficos, e mesmo assim com cuidado, pois nem toda fonte literária é, de fato, confiável. Tendo se certificado da veracidade do fato e da idoneidade do narrador, sempre citar a fonte. Se tiver sido testemunha particular de algum fato, sempre dizer quando o mesmo aconteceu, em qual lugar e quem estava presente, para não deixar dúvidas. Se o fato aconteceu sem que houvesse testemunha, como alguns que dizem ter recebido a revelação do Chico na madrugada, quando estavam a sós com ele, abster-se de contar ou publicar, pois simplesmente não há como atestar a realidade ou não da narrativa. E se o Chico disse, mas de forma reservada, é porque a informação não deve ser pública.
Respeitar a memória de Chico Xavier é um dever de todo verdadeiro espírita. Apesar de seu manancial mediúnico, ele nunca se prestou a ser profeta do futuro, e os espíritos que se comunicavam através dele sempre se pautaram por esclarecer e consolar de acordo com os princípios do Evangelho e do Espiritismo.
O amanhã depende do que fazemos hoje, no uso do livre arbítrio, e não de revelações espirituais. Mais importante do que contar “causos” envolvendo Chico Xavier, é estudar com seriedade e profundidade as obras ditadas pelos espíritos através de sua mediunidade, e ter nos seus exemplos de amor e caridade uma bússola para o que devemos fazer aqui na Terra.
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