Como é Triste a Realidade

Assisti reportagem no programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, sobre menores infratores com alto grau de agressividade e senti-me envergonhado quando as imagens mostraram uma unidade sócio-educativa. Era uma prisão em péssimo estado, com celas imundas, ralos colchonetes espalhados pelo chão, com os garotos amontoados, seminus. Como podemos ressocializar e reeducar desse jeito? E, para agravar a situação, como bem lembrou uma especialista, mesmo que isso viesse a ser feito em instituições decentes, continuaria o grave problema do desajuste familiar e da miséria social, que fatalmente envolveriam o jovem novamente, após sua reinserção na vida. E é exatamente isso o que hoje acontece.

Infelizmente a reportagem nada falou sobre isso. As imagens foram mostradas sem que fosse feito um único comentário a respeito daquelas péssimas condições de uma instituição, que, sendo educacional, não poderia ser igual a qualquer outra prisão que conhecemos em nosso país, ou seja, sem estrutura adequada e desumana.

Dizem que a culpa é do Estatuto da Criança e do Adolescente. Miopia reducionista utilizar esse argumento. As autoridades públicas já tiveram duas dezenas de anos para preparar o sistema, o que equivale a dizer que já tivemos cinco gestões estaduais e municipais. Tempo mais do que suficiente para bem utilizar as verbas, construir abrigos decentes, com proposta pedagógica, preparar os profissionais e estabelecer novos padrões sociais nas chamadas comunidades (as antigas favelas).

O ECA pode ter seus defeitos - e quem dirá que não tenha? - entretanto, culpabilizar somente a lei? Isso é fácil, mas e os governantes e seus secretários, não possuem culpa também? E nós, os formadores da sociedade, carregando preconceitos e marginalizações, igualmente não temos culpa?

Sim, é necessário combater o tráfico de drogas e armas; recolher os menores infratores; instituir penas compatíveis, mas, acima de tudo, é necessário dar educação de qualidade; oportunidades de crescimento profissional; moradia decente; inserção sóciocultural. Acabar com o eufemismo das comunidades no lugar das favelas, pois a troca de nome em nada altera a realidade.

Não precisamos apenas de comida e polícia, precisamos de educação, saúde, trabalho, cultura. Precisamos de igualdade, pois todos merecem a oportunidade de viver decentemente para concretizar seus sonhos.

Como é triste a realidade, repleta de preconceitos.
Como é triste a realidade, repleta de discursos vazios.
Como é triste a realidade, repleta de fome.
Como é triste a realidade, repleta de promessas.
Como é triste a realidade, repleta de egoísmo.
Como é triste a realidade, com falta de educação.

O jovem que sonha em preto e branco e não sorri por falta de dentes, é culpado de viver marginalizado e ter de gritar e agredir para afirmar sua identidade e ser percebido?

Pensemos nisso!

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