Mentalidades, posturas e práticas
Uma
professora, diante de texto apresentando a Escola do Sentimento,
projeto esse que ajudei a desenvolver, exclamou, bastante
sensibilizada: “Isto é maravilhoso, mas só consigo enxergar sua
prática se for numa escola que está iniciando”. Ela, mesmo com
boa vontade, não conseguia perceber que qualquer escola, seja púbica
ou particular, seja de qual segmento de ensino for, seja qual for o
tempo de existência que tiver, qualquer escola, pode iniciar, a
qualquer tempo, o processo para implementação dos princípios,
valores, filosofia e metodologia da Escola do Sentimento, que é um
projeto pedagógico de escola inovadora, uma escola que equilibra o
desenvolvimento cognitivo com o desenvolvimento moral do educando.
Diante disso, cabe a pergunta: por que essa professora, e tantas
outras, não consegue “enxergar” a renovação do ensino, da
aprendizagem, da educação, na sua escola, na escola em que ela
trabalha?
Buscando
responder essa oportuna indagação, lembro que boa parte dos
professores, e aqui falando mais especificamente daqueles que atuam
na educação básica, compreendendo da educação infantil ao ensino
médio, estão formados num modelo de ensino-aprendizagem em que o
professor dá aula e o aluno se esforça por aprender; onde tudo está
compartimentado: aula de língua portuguesa, aula de matemática,
aula de história e assim por diante; onde as avaliações são
meramente quantitativas através de provas, seminários, trabalhos
escritos e notas. Nesse modelo, pouco participativo, bem pouco
integrativo dos agentes educacionais, que perdura nas escolas desde a
primeira metade do século dezenove, o engessamento das ideias e das
práticas leva o professor a não conseguir sair de uma rotina que
lhe foi ensinada e que lhe é exigida na prática escolar. Diante
disso, ele tem muita dificuldade de “enxergar” e compreender o
novo, que ele pode fazer diferente, o que o leva “a priori” a
rejeitar o que sai da sua zona de conforto, da sua rotina.
Somemos
a isso a falta de visão dos pais e responsáveis, que estudaram, em
seus tempos de alunos, em escolas no mesmo modelo, no mesmo padrão e
que, portanto, não conseguem agora compreender como pode existir uma
escola em que o professor não dá aula, em que a avaliação do seu
filho não é feita por prova e nota, em que não existe dever de
casa, e em que ele, pai ou responsável, pode participar, pode
opinar, pode acompanhar as atividades do seu filho, agora um aluno
como ele já foi no passado. Sofre o professor, portanto, essa
pressão que acaba reforçando sua tendência a não inovar, a não
fazer diferente, apesar dos péssimos resultados que sua escola
produz, haja vista os baixos índices nas provas nacionais de
avaliação; apesar do alto índice de analfabetismo funcional dos
jovens; apesar da escalada vertiginosa da violência no ambiente
escolar, com graves repercussões na sociedade.
Como
quebrar esses paradigmas? Eis outra pergunta relevante e que merece
nossa atenção. E mais: como renovar as práticas pedagógicas na
escola? como transformar a escola para que possamos transformar a
sociedade? como fazer a interação entre professores, alunos, pais,
responsáveis e a comunidade? Não temos a ilusória pretensão de
ter resposta pronta e infalível a todas essas indagações, que não
são simples, e que o espaço reduzido de um artigo não permitiria
maiores digressões. Contudo, temos percepções e orientações que
podemos resumir nos seguintes itens:
1
– O professor, e o pedagogo, precisa ter a força de vontade de
querer fazer diferente e assim fazer a diferença. Para isso precisa
desconstruir saberes e práticas consideradas normais e em vigência
até hoje.
2
– O professor, e o pedagogo, deve não rejeitar novas experiências
pedagógicas, mantendo-se aberto a novas propostas, verificando seus
resultados e procurando verificar como elas podem ser aproveitadas
por ele.
3
– O professor, e o pedagogo, deve ir além do ensinar. Precisa ter
em mente que ele não ensina o que sabe, ele somente pode dar ao
aluno o que ele é, pois a força do exemplo é tudo em educação.
4
– O professor, e o pedagogo, precisa construir pontes entre ele e o
aluno, entre ele e os pais e responsáveis, entre a escola e a
família, entre a escola e a comunidade.
Como
vemos, para mudar posturas e práticas é essencial mudar as
mentalidades.
Encerrando
estas reflexões, lembro que é também essencial, fundamental, que a
escola não seja apenas lugar de troca de conhecimentos. É urgente e
inadiável a realização do trabalho de desenvolvimento da educação
moral, de educadores e educandos, pois de crise moral e ética, de
inversão de valores humanos, já estamos saturados e suficientemente
escandalizados.
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