sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Reforço escolar e outras coisas: aberrações pedagógicas na escola

Imagine a cena: professora conversando com a mãe de um aluno, recomendando que a mesma encaminhe o filho para o reforço/apoio escolar oferecido pela escola no contra turno. Escola com serviço de reforço escolar? Não é um contrassenso? Na verdade é atestado de falência do nosso sistema de ensino. Segundo pesquisa do Ibope Inteligência/Ação Educativa, 29% dos brasileiros são considerados analfabetos funcionais. Desse total 8% são analfabetos absolutos, ou seja, não conseguem ler palavras e frases. No total são 38 milhões de brasileiros entre analfabetos funcionais e analfabetos absolutos. Segundo a pesquisa, entre aqueles que terminaram o ensino médio, 13% são analfabetos funcionais, são jovens que não sabem ler e interpretar textos e que não conseguem dominar as operações matemáticas básicas, mas que ficaram pelo menos 12 anos na escola, considerando-se os 9 anos do ensino fundamental mais os três anos do ensino médio. E a escola fez o quê?

Precisamos urgentemente realizar um processo de ruptura com o atual sistema de ensino, que prova sua falência com esse índice astronômico de analfabetismo funcional, e com a prática do reforço ou apoio escolar. Precisamos romper com a sala de aula, com as carteiras enfileiradas, com o professor dando aula, com as metodologias burocratizadas e não participativas. O centro do processo educacional, do processo de aprendizagem, precisa ser o aluno, com uma escola feita por pessoas com pessoas, envolvendo a família e a comunidade.

Impressiona como os responsáveis pela educação em nosso país, mesmo diante de fatos, estatísticas e índices muito ruins, continuam a insistir em manter o mesmo modelo, as mesmas práticas, as mesmas metodologias, ano após ano repetindo o fracasso escolar, lançando na sociedade milhares de crianças e jovens despreparados, sem conhecimentos mínimos, sem desenvolvimento de suas habilidades cognitivas e, ainda mais preocupante, sem trabalhar o desenvolvimento emocional das novas gerações.

A escola atual não valoriza a família, não se aproxima dela e nem permite que os pais e responsáveis interajam com ela. E o mesmo faz com a comunidade em seu entorno. Como isso pode dar certo? Uma escola isolada da realidade social e cultural dos seus alunos, onde os professores trabalham sobrecarregados, e que agora entende que precisa de sistemas de segurança pública para bem funcionar, é o caos total. Assistimos, com espanto, um diretor de escola pública defender que seja aprovada lei estadual determinando que todas as escolas passem a ter detectores de metal e outros meios para salvaguardar a vida de alunos e professores. É uma escola ou uma penitenciária?

Lamentamos profundamente tudo isso, constatando o quanto a escola brasileira, com suas honrosas exceções, está afastada da verdadeira educação. E perguntamos: não está na hora de fazer das exceções - que dão certo - a regra geral?

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O amanhã depende do hoje

Relata-me uma professora de escola pública a seguinte cena: a mãe de um aluno que estava com baixa avaliação adentrou à escola e, ao avistar a professora, foi logo agredindo, com tapas e palavrões, pois, segundo ela, o filho não ia bem nos estudos por culpa da professora. Minha colega teve que ser medicada, ficou psicologicamente abalada e entrou de licença, não conseguindo mais adentrar à escola, carregando um trauma de difícil solução. Você que me lê pode dizer: mas isso é caso de polícia, essa mãe tem que ser presa, tem que responder um processo na justiça, pois não se pode agredir uma professora, e ainda mais no ambiente escolar. Na verdade não se deve bater numa professora, ou num professor, em nenhum lugar, como não se deve agredir ninguém, por nenhum motivo. A questão é mais profunda: normalmente conselhos tutelares e secretarias de educação não dão respaldo ao professor, que fica à mercê das considerações públicas nem sempre justas. Mesmo colegas professores, coordenação pedagógica e direção escolar nem sempre dão apoio. Diz-se mesmo, nos bastidores, que a professora "mereceu". Como? Desde quando um profissional da educação merece apanhar de uma mãe ou de um pai?

Essa cena, de tão cotidiana nas escolas brasileiras, e não apenas públicas, levou os professores a se desestimularem, a perder o entusiasmo e contar os dias para a aposentadoria. E quando apresentamos uma nova visão sobre a educação, uma proposta pedagógica transformadora, não encontram forças para acreditar que poderá dar certo, até porque é muito difícil, pensam, muito difícil mesmo mudar esse quadro social que deságua na escola com toda força. Assim pensando, deixam de lado novas perspectivas, e os que fazem diferença continuam a ser exceção.

Tudo isso é consequência de uma série de fatores acumulados ao longo do tempo, principalmente o descaso que fizemos com a educação, transformada em ensino de conhecimentos, em instrução de um professor para um aluno. Esse descaso desvalorizou o professor e estagnou a escola que, na contramão do que propõe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, se engessou em séries por idade, avaliações por provas, notas quantitativas e aulas burocráticas em que um ensina e os outros tentam aprender. É claro que isso jamais irá justificar qualquer tipo de violência contra o professor e a escola, mas é fato que o projeto pedagógico escolar precisa urgentemente contemplar o que hoje chamamos de comunidade de aprendizagem, ou seja, uma série de ações e visões que integrem a família e a comunidade onde ela está inserida, que façam com que educadores e educandos compartilhem, decidam e façam em conjunto.

Tristemente constato que minhas palavras são pouco ouvidas. Quando as publico em redes sociais, ou faço a divulgação deste blog, pouco sou "curtido", comentado e compartilhado. Também, é mais outro texto sobre educação. E isso é importante diante da política, da economia, das notícias artísticas, das fofocas e polêmicas etc? Para muitas pessoas, e são muitas demais para meu gosto, educação é problema da escola e dos professores, então não é assunto prioritário. O que eu tenho a ver com isso? É assim que muitos reagem. Pobre nação brasileira, cujo povo nada entende de educação e nem quer saber que somente a educação pode resolver os problemas sociais e acabar com a corrupção e com a violência. Não essa educação que hoje acontece na maioria das escolas, com o agravante do desleixo educacional das famílias. Mas, com certeza, com essa educação transformadora, tendo por diretrizes a ética, a solidariedade, o respeito, ou seja, os valores humanos essenciais para uma humanidade cooperativa.

Vamos em frente! Se hoje está difícil, tenho certeza que amanhã, graças aos esforços de tantos que estão trabalhando por uma nova educação e uma nova escola, tudo será bem diferente e muito melhor.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...