E querem voltar a dar aula
A pandemia do novo coronavírus Covid-19 suspendeu o trabalho das escolas e já se vão, na prática, seis meses de paralisação escolar. Tanto no sistema público quanto no sistema particular, as escolas procuram de alguma maneira realizar a educação a distância, mas esbarraram em vários problemas, como a falta de internet de qualidade, inexistência de computador na casa de muitos alunos, despreparo dos professores face à nova metodologia online. Outras escolas sequer se movimentaram nessa direção, deixando professores e alunos afastados, na incerteza do presente e do futuro.
Os pedagogos e gestores deveriam utilizar esse período para sérias e profundas reflexões sobre a educação e o ensino, sobre o presencial e o online, mas isso não aconteceu. Todos só têm um pensamento: volta às aulas! E quem está desenvolvendo a educação a distância apenas fez adaptar a sala de aula para o online, continuando apenas e tão somente a ensinar conteúdos das disciplinas curriculares.
A Michelle, professora do ensino fundamental, leu em outros textos minha crítica e questionou: mas não é esse o papel do professor, ensinar os alunos em sala de aula?
Não, não é!
O papel do professor é ser orientador do processo de aprendizagem do aluno, permitindo que ele tenha autonomia para estudar, para aprender, para desenvolver seus potenciais cognitivos e emocionais.
Naturalmente isso não vai acontecer enquanto tivermos essa tacanha mentalidade de ensinar, ensinar, ensinar.
E também não vai acontecer enquanto olharmos a escola como local de salas de aula, grade curricular, tempos de 50 minutos, regras rígidas, provas, notas e aulas e mais aulas. Essa escola está estruturada para manter a ensinagem, e não para desenvolver a aprendizagem.
A legislação brasileira sobre educação fala em diversas formas de organização que a escola pode assumir, mas na prática isso não acontece pois os sistemas público e particular formataram um modelo único, seguido à risca: seriação por idade escolar com avaliação quantitativa através de provas e notas. Ofende-se deliberadamente a lei, mas nada se faz porque é mais cômodo, é mais confortável.
Então, como a professora Michelle, o único pensamento vigente é o de volta às aulas, mesmo porque os professores parecem não saber trabalhar de forma diferente, têm muita dificuldade em pensar e fazer de forma mais criativa, dinâmica e participativa. Resultado de décadas de formação e prática somente para ensinar.
Pedagogos e professores precisam aprender a desconstruir esse processo. Precisam olhar para as escolas inovadoras não como escolas experimentais ou sonhadoras, utópicas (talvez seja essa a visão da Michelle), e sim como escolas que trabalham com o ser integral, com a realidade social e se fazem verdadeiras comunidades de aprendizagem. Em outras palavras: são escolas que praticam o educar e não o ensinar.
Não precisamos de sistemas de ensino, sejam públicos ou particulares, precisamos de sistemas de educação, no mais profundo significado da educação.
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