segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Como é bom sonhar

 

Os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos” (Rubem Alves).

Como ser um especialista em amor? Essa intrigante pergunta perseguia o Maurício, professor de Matemática no ensino fundamental e médio, trabalhando tanto numa escola pública quanto numa escola particular, às voltas com crianças e adolescentes. Como conciliar conteúdos, provas e notas com o amor e a interpretação dos sonhos de seus alunos?

Durante muito tempo o professor Maurício acreditou que o pensamento de Rubem Alves era um delírio impossível de se concretizar na realidade da escola e da sala de aula. Então ele fez contato solicitando que falássemos alguma coisa: utopia ou possibilidade?

Lembramos então do Léo Buscaglia, que ficou conhecido como “professor do amor”, lá nos Estados Unidos. Ele foi o primeiro a estabelecer numa universidade um curso sobre o amor. Foi chamado de louco e pervertido no início, mas provou a necessidade que temos de aprender a desenvolver o maior dos sentimentos humanos, e como nos tornamos muito melhores com esse aprendizado.

Muitas crianças e jovens são apenas seres humanos necessitados de amor. Estão cansados de apanhar da família, da escola e da vida. Procuram por ideais superiores que direcionem utilmente seu existir. São carentes afetivos: buscam por palavras de estímulo, por compreensão, por respeito, por amizades sinceras, por abraços fraternos, nem que sejam migalhas afetivas.

E crianças e jovens sonham. E seus sonhos não podem ser ignorados. E devem ser ouvidos e sentidos pelo professor. Que adianta ser especialista nisso e naquilo, acumulando saber, se isso não nos deixa mais humanos, mais sensíveis para com o outro?

Na verdade o Rubem Alves tem razão. Os educadores precisam ser especialistas em amor e intérpretes de sonhos. Somente assim a escola deixará de ser em lugar frio, distante da vida, sem comunicação com o existir humano, pois hoje a escola é lugar de conteúdos curriculares, de exigências burocráticas, de notas frias de avaliação. Não há calor humano, não há espaço para diálogos profundos, não há lugar para o sentimento.

Os educadores, como o professor Maurício, também sonham, também são carentes afetivos, mas parecem teimar em se fechar para o mundo interior de seus alunos, não querendo admitir que eles também sonham. Precisamos, na escola, fazer com que os sonhos se encontrem e se complementem.

Não, não é utopia se especializar em amor e saber interpretar sonhos. É necessidade. Nosso professor de matemática pode reservar um espaço semanal em uma de suas aulas para conversar e ouvir, deixando que seu alunos falem o que pensam e o que querem da vida. E permitindo-se também falar de si mesmo para eles. Com certeza seu trabalho ficará mais enriquecido, mais humano, atingindo não apenas a mente, mas o coração.

Quando Léo Buscaglia lançou o curso, houve uma procura de aproximadamente cem alunos. No ano seguinte esse número dobrou. No terceiro ano havia uma fila de espera de mais de quinhentos alunos. Não havia um conteúdo curricular, mas temas geradores de conversas e debates, sempre tendo como ponto de partida a pergunta essencial: o que é o amor?

Será que temos resposta?

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Discriminação racial existe, sim

 

Dois de cada 3 presos no Brasil são negros. De cada 10 vítimas de assassinato, 8 são negros. A proporção de negros nas cadeias aumentou 14% nos últimos 15 anos. 66,7% dos presos brasileiros são negros, a maioria jovens, na faixa etária de 18 a 24 anos. Esses dados são revelados pelo 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e que não podemos deixar passar, ainda mais quando sabemos que na escola pública brasileira a maior parte dos alunos é composta de crianças e jovens negras e oriundas de comunidades pobres. E também quando sabemos que nos institutos destinados a jovens infratores encontramos o mesmo quadro.

A discriminação racial no Brasil é um fato, principalmente contra os negros, que ainda carregam o estigma da escravidão ocorrida por três séculos em nosso país, em que o negro não tinha direitos e valia menos que um animal de carga.

É triste constatarmos isso em pleno século 21, ainda assistindo essa brutal discriminação, embora nossa legislação proclame a igualdade de direitos e condene toda forma de preconceito, discriminação e intolerância racial. Mas nem sempre o que está na letra corresponde ao que de fato acontece, e não precisamos fazer análises filosóficas, sociológicas, antropológicas e outras para entendermos isso, pois vivenciamos essa realidade no dia a dia de nossas vidas.

Se necessitamos aperfeiçoar nossas leis, nossa justiça, precisamos igualmente, e com urgência, revermos nossa educação, que continua distanciada do combate à discriminação racial, que continua ignorando a questão do preconceito, que continua afastada do desenvolvimento do senso moral das novas gerações, afinal todo o sistema educacional brasileiro está estruturado em ensinar conteúdos curriculares de disciplinas previamente formatadas, numa carga quase absurda de deveres que os professores têm que cumprir e que não lhes permite trabalhar as questões socio-emocionais suas e dos seus alunos.

Pergunto: até quando vamos fingir que a discriminação racial contra os negros não existe no Brasil?

Os mais pobres são pardos ou negros. Os salários mais baixos são para os pardos e negros. Boa parte dos alunos das escolas públicas, gratuitas, são pardos e negros. A violência policial é contra pardos e negros. As prisões estão lotadas de pardos e negros. E ainda falamos que o brasileiro – branco – não é preconceituoso e discriminatório?

Somente iremos superar esse estigma social através da educação, mas a educação preocupada também em trabalhar o desenvolvimento emocional, trabalhar a formação ética e cidadã das crianças e jovens, que assim, paulatinamente, levarão o Brasil a um novo patamar nas relações interpessoais, onde não haverá mais espaço para a intolerância racial, pois a solidariedade e a fraternidade suplantarão esse atavismo secular que carregamos.

Não temos que aguardar esse futuro, temos que construí-lo a partir de agora, pois o amanhã depende do hoje, e nada existe que justifique esse quadro social tão doloroso de discriminação racial que caracteriza ainda o nosso Brasil.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Acho que sou o pior filho do mundo

 É possível pai e filho empreenderem juntos? Conheça histórias que deram  certo - Startupi

O Anderson, nos seus oito anos, escreveu no aplicativo de comunicação instantânea:

Meu pai só critica meus erros. Não passa um dia sem me dar pelo menos umas dez broncas. Acho que sou o pior filho do mundo. Ele nunca me abraçou de verdade.

Muitos dos seus colegas de escola e amigos também fizeram postagens semelhantes, seja em relação ao pai, seja em relação à mãe, ou a ambos. Para uma criança ter essa percepção significa que seu relacionamento com os pais está muito ruim, neste caso específico com o pai.

Essa situação acontece por um motivo essencial: os pais de hoje não foram preparados para serem pais, nem pelos seus pais, nem pelos seus professores. Podem ter recebido muitas coisas, muitas informações e muitas orientações, mas não receberam educação para serem pais, para saberem educar os filhos, para formar uma família equilibrada.

Anderson é vítima de uma sociedade onde seus membros estão individualistas, imediatistas, consumistas, e onde a educação, sufocada, perdeu seu rumo, tristemente confundida com o ensino. Ensinar está à frente de aprender. Instruir está à frente de educar. E como disse famoso artista televisivo, filho dá muito trabalho, traz muitos aborrecimentos, então é preferível não tê-los ou, se vierem, delegá-los a cuidadores terceirizados. Triste realidade de pessoas que não conseguem ir além de si mesmas.

Os pais não devem criticar os erros dos filhos, repetindo esse discurso interminavelmente todos os dias. Errar faz parte do aprender. E junto ao erro existem os acertos, que precisam ser elogiados. Diante do erro, os pais devem incentivar os filhos a tentar novamente, devem orientá-los para que consigam acertar.

Os pais não devem dar broncas nos filhos, devem esforçar-se em compreendê-los, exercitando sempre o diálogo. A repreensão, quando for o caso, deve ser feita com o selo da autoridade moral e sempre para construir, nunca para destruir.

Os pais devem fazer com que seus filhos se sintam amados, queridos, como membros importantes da família. Quando os filhos se acham os piores do mundo, isso significa que os pais estão emocionalmente doentes, desequilibrando o relacionamento afetivo familiar.

Os pais devem brincar com os filhos, devem abraçá-los, devem lhes dirigir palavras de carinho, como orientadores dos mesmos. E devem dar bons exemplos. E devem abrir espaço generoso para o convívio solidário e fraterno com os filhos.

O pai do Anderson precisa compreender que, acima de tudo, ele é o principal educador do filho, é o responsável pelo desenvolvimento emocional sadio dele, hoje no mundo infantil, mas amanhã no mundo adulto. Que adulto ele será se hoje tem a percepção de ser o pior filho do mundo?

Pensemos nisso!

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Educando as próprias emoções

EDUCAÇÃO EMOCIONAL: o que é e por que praticar - Método MAMTRA

É comum vermos pais e professores estressados e que não sabem mais o que fazer com seus filhos e alunos, pois estes não sabem obedecer, não têm limites, muitas vezes são violentos ou cheios de manhã e birra, são indolentes, preguiçosos ou muito acelerados. Aliás, para muitos pais e e professores a maioria das crianças têm problema de hiperatividade ou de transtorno de deficit de atenção, quando na verdade são mal educados, não sabem lidar consigo mesmas, com os outros e com o mundo.

Para bem educar filhos e alunos, pais e professores precisam fazer, antes de qualquer outra coisa, a educação emocional de si mesmos.

Quantos pais e professores não são acelerados, indolentes, individualistas, violentos, sem limites e manhosos? Quantos pais e professores não são viciados em celulares e redes sociais? Quantos pais e professores não são nervosos, mandatários e só sabem criticar? Quantos pais e professores não são indiferentes, egoístas e consumidores desenfreados? Quantos pais e professores não são emocionalmente frágeis, depressivos e dependentes de medicamentos? Quantos pais e professores não são radicais, sistemáticos e sem diálogo?

Sabemos por experiência que não basta ter muito estudo e conhecimento. Se isso bastasse a humanidade estaria bem melhor, mas não está, pois continua envolvida com corrupção, desonestidade, escândalos, violência de toda ordem, pobreza e miséria, injustiças sociais, preconceitos e discriminações, intolerâncias. Vivemos uma humanidade onde predominam os interesses pessoais ou de grupos em detrimento da maioria. O que está faltando? Está faltando sentimento.

Se pais e professores não fizerem esforços no autoconhecimento, se continuarem a não ver em seus filhos e alunos seres humanos dotados de inteligência e sentimento, continuaremos a assistir o tempo passar e as novas gerações entrarem no turbilhão social totalmente despreparadas e prontas para repetir o fracasso de seus pais e professores.

Infelizmente vemos pais e professores tentarem resolver os problemas e dificuldades de seus filhos e alunos transferindo-os para tratamento com psicólogos, psiquiatras, neurologistas e outros profissionais da ciência, esquecendo que, enquanto educadores que são, devem educá-los a partir de sua autoeducação.

Um exemplo vai aclarar nosso pensamento. Um psicólogo especializado em atender crianças e jovens recebeu um casal para uma consulta. O casal tinha um filho de oito anos que lhes dava muita dor de cabeça. Já tinham trocado de escola quatro vezes, além de ter encaminhado o garoto para tratamento psicológico e neurológico, mas tudo sem sucesso. Por indicação, estavam agora em nova tentativa. O psicólogo separou-os e entrevistou um a um. Depois chamou os pais para conversar, e a mãe, ansiosa, logo quis saber qual seria o tratamento para o filho. O psicólogo, muito calmo, informou que iria encaminhá-los para outro especialista. Surpreendidos, quiseram saber o motivo. E ele explicou, calmamente, que era especializado em crianças e jovens, e que o problema não era o filho, mas sim os pais, o casal que ali estava, e que muito necessitava de terapia. A criança apenas reagia ao descontrole emocional dos pais.

Pais e professores precisam realizar consigo o autoconhecimento e a autoeducação. Precisam educar suas emoções. Como querer bem educar seus filhos e alunos se são deseducados?

Na minha infância tive uma professora, que seria hoje do segundo segmento do ensino fundamental, pois ensinava Francês, que me causou severo trauma na época, me travou e me fez repetir o ano escolar. Ela era perfeccionista na pronúncia, e nos sabatinava individualmente na frente da turma, corrigindo-nos o tempo todo e no humilhando com críticas mordazes. Resultado: entrei em pânico e não queria “enfrentar” a aula de Francês. Como era uma escola pública e a professora era concursada, tive que tê-la novamente à frente no ano seguinte. Felizmente minha mãe tinha equilíbrio emocional suficiente para, com paciência, me orientar, me apoiar, e fazer com que superasse aquele trauma. E gosto da língua francesa e da França.

Pela professora e pela direção escolar eu teria sido encaminhado a um terapeuta, psicólogo ou psiquiatra, pois travava, ficava mudo, suava desproporcionalmente e tirava notas baixas, ou seja, devia ser portador de alguma disfunção mental ou orgânica. Na verdade eu tinha medo da professora, esta sim, necessitada de reeducação.

Aos pais e professores, um pedido: não esqueçam que para serem bons educadores é preciso primeiro se educar.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...