Marcus De Mario
A educação dos nossos dias, em plena primeira metade do século XXI, não educa, essa é a constatação que fazemos quando vemos a massa de semianalfabetos saindo das escolas, de indivíduos que não sabem pensar por si mesmos; quando assistimos a violência predominar no ambiente escolar e social, e pedagogos e administradores invocarem a instalação de câmeras, revista de mochilas e policiais armados nas escolas, e vigilância nas redes sociais como solução, quando nada disso tem a ver com a educação. A solução dos graves problemas escolares e sociais não está nessas medidas paliativas que atingem momentaneamente apenas os efeitos. A solução está na educação moral e no amor pedagógico, que atingem as causas, como nos mostrou Pestalozzi (1746-1827). Está na hora dos educadores aceitarem essa constatação: que a educação não está educando, para tomarem coragem de realizar uma grande transformação, a começar pela filosofia que rege a educação, substituindo a visão biológica e materialista que hoje predomina, pela visão espiritualista do ser e da vida, com a alma imortal e integral, como vimos acontecer com o mestre suíço e proclama o Espiritismo, doutrina que possui visão transcendente sobre a cultura humana.
De que valem indivíduos repletos de diplomas, cheios de conhecimentos, se isso necessariamente não promove o bem para a sociedade? Se são indivíduos egoístas e imediatistas, sem senso moral e que não sabem pensar no bem para todos? Inteligências desprovidas de sentimento acenam com a guerra, com a injustiça social, com o preconceito, como vemos em todas as épocas da história humana, pois cresceram sem receber da família e da escola uma formação moral, sem terem suas más tendências combatidas, sem conhecer a empatia (saber colocar-se no lugar do outro, saber sentir o outro) e a ética do viver com os outros, o que os levaria para a honestidade, a fraternidade e a solidariedade. O que estamos aqui falando é o mesmo que Pestalozzi escreveu, ensinou e praticou. Não há novidade, mas resgate, que é urgente ser feito se queremos que o amanhã nos traga paz e felicidade.
Em educação temos que ter olhar voltado para o futuro, pois trata-se de formar as novas gerações, hoje crianças, mas amanhã adultos. O que farão quando estiveram à frente dos destinos da coletividade humana? Isso dependerá do que estão aprendendo, e não falamos aqui apenas de conhecimentos os mais diversos, de formação técnica e profissional, estamos nos referindo ao desenvolvimento do senso moral, à aquisição de bons hábitos, à correção das más tendências de caráter, a ter ideais superiores de vida. A educação deve voltar-se ao cognitivo e ao emocional, ao ser no mundo e transcendente a esse mesmo mundo, como alma ou espírito que preexiste ao nascimento e sobrevive à morte.
Quando Pestalozzi ergueu a bandeira da educação moral e integral, numa visão espiritualista que levava em conta a alma do educando, foi ridicularizado por uns, desdenhado por outros, anatematizado por muitos, incompreendido pelos próprios educadores, mas sua insistência, sua perseverança, fez com que vencesse todas as barreiras e legasse ao mundo uma proposta educacional profunda que, se tivesse sido implantada, teria feito a Humanidade tomar outro rumo, muito melhor, e não estaríamos às voltas, em pleno século XXI, com tantos problemas e até mesmo duvidando de um possível futuro melhor. Mas isso acontece porque insistimos em deturpar a educação, insistimos em não considerá-la prioridade, insistimos em olhar o ser humano com um ser finito que apenas nasce, vive e morre, levando geração após geração a manter o egoísmo, o orgulho e o materialismo, e os indivíduos que constituem essas gerações não conseguem, então, entender e muito menos praticar o bem, o amor, a caridade e viver apenas com o necessário, desapegando-se dos bens materiais passageiros que a traça consome e o pó retrata.
Há esperança no futuro para o ser humano e sua coletividade? Sim, sempre haverá esperança de dias melhores, de um amanhã mais ditoso, mas isso depende do que fizermos da educação, pois temos livre arbítrio para tomar decisões e nos movimentarmos para cá ou para lá, ou seja, somos os construtores de nós mesmos e, portanto, os construtores da sociedade atual e do porvir. Contudo, não estamos sozinhos, não estamos desamparados, não somos uma embarcação à deriva no mar revolto de uma tempestade. Há um comando maior, solícito, misericordioso, mas esquecido por nós, sobre o qual Pestalozzi edificou sua visão pedagógica: Deus!
Nesse imenso trabalho que temos pela frente para colocar a educação no seu devido lugar, não temos dúvida que resgatar Pestalozzi é essencial, assim como temos que colocar a alma imortal com seu potencial divino como lídimo alicerce do processo educacional, quebrando as barreiras da inércia dos que teimam em não enxergar a educação em sua plenitude, e dos que insistem em manipulá-la para agrado de si mesmos, dos seus interesses mesquinhos e de pequenos grupos manipuladores das consciências humanas.
Por tudo isso, reconhecemos que todas as nossas homenagens e palavras nunca serão suficientes para mostrar a grandiosidade desse espírito que, entre os séculos XVIII e XIX, mostrou à Humanidade o caminho que ela deveria percorrer para encontrar a paz e a felicidade, educando com todo o amor as crianças e os jovens, formando professores e, até o final de sua existência, entregando-se de corpo e alma para elevar a educação ao estado de ação prioritária do ser humano na Terra.
Observação: Esse texto foi extraído do capítulo 10 do livro Pestalozzi, Educador da Humanidade, de nossa autoria, e lançado pela Casa Editora O Clarim: www.oclarim.com.br

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