Insensibilidade

Sempre que imagens feitas de um helicóptero passeiam sobre metrópoles, e na tela da tevê vejo extensas aglomerações urbanas feitas de tijolo aparente ou madeira, característica das chamadas comunidades, novo nome das favelas, ocupando principalmente morros, sinto que me invade uma profunda angústia, e me pergunto: como deixamos isso acontecer? Como podemos viver sabendo que ao lado está crescendo a favelização da cidade em que vivemos?

Sentados, indiferentes, em mesas de bares e restaurantes, muitos argumentam: é o descaso das autoridades públicas! Dançando, alegres e soltos, em danceterias e casas de shows, outros replicam: nem todos têm as mesmas oportunidades sociais! Navegando, confortáveis, em banda larga, há os que perguntam: e quem mandou virem todos para a grande cidade? E, assim, tudo continua como antes, ou melhor, a favelização continua crescendo, e milhares, milhões de pessoas subvivem.

É que deixamos que uma terrível epidemia tomasse conta. O pavoroso vírus da insensibilidade dominou nossa área sentimento. Ele faz com que olhemos só para nós, para o que nos interessa, para o que vai nos trazer vantagem, para o que nos favorece. Se a favelização não nos atinge diretamente, nem corremos risco imediato ou médio de empobrecer, para que se preocupar com isso? É o que o vírus da insensibilidade nos faz pensar, tendo como consequência a inércia nas ações que visem a melhora social e o socorro ao sofrimento alheio.

É como aquela cena da novela: a empregada doméstica relaciona que o povo precisa de comida, salário decente, emprego, escola, roupa, saneamento básico, transporte, hospital, casa própria e tantas outras coisas. A primeira dama então exlama: "Mas essa probaiada não tem nada?". Pois é, pobre não tem nada, ou quase nada, pelo fato mesmo de ser pobre. Como o pobre, e ainda mais, o miserável, haveria de ter alguma coisa? Mas a primeira dama está com o vírus da insensibilidade inoculado em seu coração, com o bloqueio dos sentimentos. Ela se horroriza e muda logo de assunto. É o que também fazemos.

Não dá para assistir a favelização urbana e ficar indiferente, insensível. Falo por mim, não posso falar por você ou por qualquer outra pessoa, mas posso falar e escrever na tentativa de sensibilizar e incomodar.

E convidar para uma mudança de valores. E para uma mudança de atitude.

Pensar sobre o assunto, é o primeiro passo. Fazer alguma coisa, é o segundo passo. Que tal auxiliar voluntáriamente algum projeto social de uma organização não governamental?

Quem mora na favela, a atual comunidade, não é só bandido ou preguiçoso para o trabalho. E todos, todos mesmo, são gente, como eu, como você.

Pense nisso!

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