Veja a reportagem publicada hoje pelo Jornal Extra:
É com a experiência de 20 anos de magistério que a professora de
Matemática Dilclea de Oliveira, de 60 anos, decreta: “daqui a pouco vai
faltar professor. Não é uma profissão valorizada”. O que a experiência
já mostrava, agora foi confirmado matematicamente, com uma pesquisa da
Unicarioca encomendada pelo EXTRA. Nela 73% dos 584 entrevistados, no
Rio de Janeiro, acreditam que a carreira não tem prestígio nenhum. Já
63% dos participantes disseram que não incentivariam seus filhos a
seguir a profissão.
- Eu me aposentei, mas, se fosse para começar tudo de novo, não seria
professora. Eu gosto da sala de aula, mas a realidade hoje é outra,
ruim, as condições não são nada boas - disse.
Tanta falta de
prestígio acaba se refletindo dentro da sala de aula. Ao todo, 92% das
pessoas ouvidas acreditam que os alunos não respeitam os professores.
Débora Fernandes, de 34 anos, sentiu na pele o desrespeito.
- Fui
agredida duas vezes. Um me bateu, outro tentou me enforcar, em escola
particular. Nas públicas, é assim também. Você se defende, mas precisa
ter cuidado para não machucar o aluno. As leis os protegem, mas ninguém
nos apoia em sala - revela Paula Araujo, pedagoga pós-graduada que agora
trabalha tosando cães e ganha três vezes mais.
Segundo a
pesquisa, no entanto, só 5% dos entrevistados acreditam que a falta de
respeito do aluno é motivada pelo salário do professor. A maioria (38%)
acredita que as escolas não são bem estruturadas e 31% veem a impunidade
como razão primordial. A falta de educação familiar aparece com 10% das
opiniões, mesmo percentual que aponta a formação inadequada dos
professores como causa do desrespeito do aluno.
A maioria (55%)
também acredita que, hoje, Dia do Professor, os mestres não têm nada
para comemorar. Os 45% restantes dizem que os professores merecem a
homenagem, por todo o trabalho feito ao longo dos anos.
Um círculo vicioso toma a educação do Rio de Janeiro.
-
Falta interesse dos professores, que, por isso, dão aulas ruins. Os
alunos não os respeitam porque as aulas não são boas. O salário maior
estimularia - diz a professora de Literatura Débora Fernandes.
Dos
ouvidos, 79% dizem que os docentes ganham menos que outras pessoas com
ensino superior e 86% apoiam a greve. Enquanto isso, o abandono das
salas de aula continua. Depois de ter sido trancada em sala de aula para
que negociasse notas com os alunos, Débora trabalha com marketing.
Comentários