Estupro, fatores culturais e educação
Repercute na mídia o resultado da pesquisa a respeito do pensamento do brasileiro sobre a questão do estupro, revelando que, mesmo entre as mulheres, predomina o que se convencionou chamar cultura machista. Na verdade, vemos mais além. Quando homens e mulheres dizem que o estupro acontece por culpa da mulher que não se dá ao respeito, exibindo o corpo com sensualismo, como se estivesse solicitando que isso aconteça, temos duas questões a debater: a primeira, inevitável diante dessa postura, é saber até que ponto o sensualismo feminino possui parcela de culpa; a segunda questão vai para o lado masculino: até que ponto o descontrole da sexualidade por parte dos homens, deixando-se levar por impulsos instintivos, possui parcela de culpa? O assunto, como se vê, possui mão dupla. É muito cômodo jogar toda a culpa na mulher, assim como o contrário, culpabilizando apenas o homem.
Agora, a cultura, ou culturas, não se sustentam sozinhas, elas estão inseridas num contexto maior de crenças e atitudes formatadas pela sociedade ao longo do tempo, e que são perpetuadas ou modificadas pela educação, seja ela familiar ou escolar, formal ou informal (e aqui entram os veículos diversos da mídia, entre outros). O que estamos fazendo com a educação das novas gerações? Quais valores temos sustentado através das diversas instituições sociais que influenciam o viver humano?
Quando vemos cervejarias patrocinando competições esportivas, percebemos uma incongruência: como pode a bebida alcoólica, um verdadeiro desastre para o organismo humano e para as relações vivenciais, estar aliada à prática de esportes? Temos nesse fato uma inversão de valores perigosa, pois a mensagem passada é a de que se beber não se deve dirigir, o mesmo não se aplica em se tratando de fazer este ou aquele esporte, o que não é verdade. A bebida alcoólica, e não importa qual, é totalmente incompatível com a prática esportiva, seja ela amadora ou profissional.
Temos, então, várias instituições sociais abonando o que é abominável, deixando brechas escancaradas para outras situações de valores invertidos, como o uso licencioso da sexualidade e o abuso do sensualismo, tanto por parte da mulher quanto do homem. E as escolas, o que estão fazendo? E a família, o que está fazendo? Há um verdadeiro jogo de empurra entre família e escola quando se trata de abordar as questões da formação do caráter, do desenvolvimento do senso moral, da orientação da sexualidade, da formação do senso crítico, do trabalho em valores humanos. E o tempo vai passando, e as situações vão se agravando, e acontece o escândalo provocado pelo resultadio de uma pesquisa, mas será que sairemos do escândalo, da indignação para, de fato, fazermos alguma coisa na base de tudo isso, que é a educação?
Urge colocar em prática a regra de ouro da educação, ou seja, aprendermos a fazer ao outro somente o que gostaríamos que o outro nos fizesse. Com a aplicação dessa regra saberemos nos respeitar como seres humanos; combateremos a corrupção e a desonestidade; implantaremos a solidariedade; teremos paz e felicidade, pois tudo isso é resultado da vivência dessa regra.
Não basta apontar um culpado, o homem ou a mulher. Na questão do estupro, como em tantas outras, não podemos ficar nos efeitos, temos que remontar às causas, ou à causa principal: educação.
Se é verdade que vários fatores culturais concorrem para esse estado de semibarbárie que vivemos, com o estupro sendo justificado, mesmo que por vias tortas, não é menos verdade que esses fatores culturais, que culminam em ações comportamentais, são sustentados por uma educação falseada que há décadas, ou mais tempo, entrega os homens aos seus instintos imediatistas, como se a satisfação de impulsos primitivos fosse tudo nesta vida que Deus nos dá.
Pensemos seriamente sobre isso.
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