Sentir, amar e crescer
Há
uma onda científica invadindo a educação, com os educadores
procurando respaldar suas opiniões com estatísticas e resultados de
pesquisas, preferencialmente realizadas por institutos acadêmicos de
nível superior. É moda citar a pesquisa da Universidade tal e qual,
o trabalho desenvolvido em laboratório pelo doutor tal. E assim
nossa educação torna-se cada vez mais "científica",
respaldada pelo mapeamento das regiões cerebrais, pelos estudos do
comportamento e assim por diante. Todo mundo faz pesquisa e todo
mundo teoriza através dos resultados das pesquisas. É uma onda
gigante onde poucos conseguem nadar a contento e salvar-se, salvando
também a educação.
Os
educadores, e também os pesquisadores e cientistas, precisam
compreender que a educação do ser é uma arte, e essa arte não
está instalada em alguma função neuronal, até porque mapear o
cérebro e suas reações a estímulos é estudar os efeitos e não
as causas.
A
ciência tem sua importância, mas daí a querer que todo pensamento
educacional e toda ação educativa tenha rigorosos padrões
científicos, que são essencialmente quantitativos, é extrapolar do
fundamento maior da educação que é o amor. Para amar aquele a quem
se educa e ver os maravilhosos resultados da aplicação desse
sentimento maior, não é necessário cientificar, é necessário
amar o que se faz e acreditar no que se faz.
Quando
encontramos uma professora do ensino fundamental contar histórias de
sua luta pelo crescimento dos seus alunos, e vemos seus olhos
brilharem, e seu corpo todo tremer de emoção relembrando cenas de
puro amor pela educação, onde consegue vencer tendências negativas
das crianças e dos pais, não há como também não se emocionar e
reconhecer os prodígios que o amor pode realizar.
Só
se aprende a amar amando, e isso é tão verdadeiro que a experiência
em sala de aula demonstra que só não ama aquele que não se deixa
sensibilizar por esse sentimento. A frieza e indiferença de muitos
professores é responsável por muitas falhas da educação e por
muitos fracassos do sistema de ensino.
Podemos
muito bem iniciar uma aula com música para relaxar e meditar, ou com
um poema para motivar as fibras íntimas da alma, ou com uma
dramatização sobre questões da vida para fazer pensar. Podemos dar
uma aula dialogando, colocando os alunos em círculo e promovendo
debate, ou distribuindo-os em pequenos grupos de trabalho. Com
criatividade, flexibilidade e afetividade podemos mudar todo o
ambiente e as relações dentro da sala de aula.
Quando
o aluno sente que é amado, aí ele cresce. É como a planta que é
adubada, aparada e regada, e dá generosamente seus frutos, suas
flores.
Precisamos
dizer a eles sobre nossa satisfação de estar em sala de aula, sobre
nossa alegria de participar com eles do processo de aprendizagem,
sobre nosso amor pela educação e sobre nossa crença neles mesmos.
E caminhar com eles derrubando rótulos, estereótipos e preconceitos
que vivem no coração de muitos professores.
Como
lembrou uma professora em sentido depoimento, se tivéssemos mais
amor ao que fazemos teríamos muito mais histórias bonitas para
contar do que reclamações para fazer.
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