O discurso e o exemplo: uma dialética educacional para cosntrução da cidadania
Lendo e relendo, pois precisamos sempre aprender e reaprender, deparei-me com o livro "Pedagogia da Solidariedade", de Paulo Freire, educador que marcou, e sempre marcará, a educação progressista. E nele (re)descobri esta frase profunda: "Nós temos que dar exemplos. É absolutamente importante saber que a educação demanda exemplos, testemunho. O discurso, o discurso democrático do professor, que não se funda na prática, que distorce, que nega a prática, é uma contradição".
Em educação o maior e melhor recurso que um(a) professor(a) pode utilizar é o exemplo, pois ele tem uma força viva que impregna o ato educativo de autoridade moral, num perfeito diálogo entre o que se discursa, o que se quer, o que se propõe, com a vivência desse mesmo discurso por parte do(a) educador(a). Quando o(a) professor(a) não é o que fala e o que solicita a seus alunos, cai em contradição. Dizer que suas aulas são democráticas e participativas, e estabelecer tempo máximo de fala de cada aluno, e não aceitar ser contrariado, é típico do(a) educador(a) que tem a democracia apenas nas palavras, e não nas atitudes.
Muitos projetos educativos não alcançam seus objetivos, não obtém os resultados esperados, porque o(a) educador(a) realiza sua práxis mecanicamente, sem vida, sem se doar, sem humanização e afetividade, aplicando as técnicas e exigindo padrões de comportamento que são desmentidos pela sua indiferença e pelas suas atitudes contrárias ao que estabelece para os alunos. É impossível que a educação se realize.
E quando falamos em educação, falamos também em ética, pois uma é indissociável da outra. Trabalhamos para o desenvolvimento de outro ser humano, e quando o fazemos, temos que ter em mente que ao mesmo tempo trabalhamos para o nosso desenvolvimento, que é sempre contínuo, nunca se esgota, daí porque entendermos que somos construtores de nós mesmos ao longo do tempo. Podemos ilustrar essa questão com aquela professora que todos os dias chegava na escola de mau humor, irritada, cansada e murmurando contra o baixo salário e os alunos, considerados por ela apenas como um problema. Não é possível educar dessa maneira. Pedia silêncio, mas era a primeira a falar em alto som. Pedia comportamento exemplar, mas era a primeira a quebrar as regras. Como querer cidadãos éticos sem dar o próprio exemplo?
A educação requer exemplos, do(a) professor(a), sim, desse(a) que é responsável pelo desenvolvimento da autonomia e criticidade de seus educandos. Isso só pode acontecer se professores(as) trabalharem o auitoconhecimento, que deságua na auto-educação.
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