Qualidade e remuneração
Quando o professor ganha salário pequeno e em sua escola ele não é
valorizado pela sua formação, é quase certo que a qualidade da
educação ficará comprometida. Isso vale tanto para a rede
particular quanto para a rede pública de ensino. Arrastando
problemas financeiros, sem conseguir receita compatível com as
despesas na sustentação do lar e da família, como cobrar do
professor dedicação, comprometimento? E quando as condições
físicas e pedagógicas ofertadas pela escola em que trabalha são
inadequadas? Somente o amor à profissão pode fazer com que esse
professor não desista do magistério.
Sabemos
que, embora tenhamos a existência do piso nacional para o professor,
muitas secretarias municipais de educação não cumprem o
estabelecido em lei, e mesmo muitas escolas particulares igualmente
não obedecem aos valores mínimos estipulados em lei ou pelos
sindicatos. Todos alegam receita insuficiente, falta de verba, mas
esse é um quadro que tem de ser melhorado com urgência. O professor
é profissional importantíssimo para a sociedade humana, as crianças
e os jovens passam por ele em sua formação intelectual e emocional.
Além
de salário decente, o professor também deve ser valorizado pela sua
formação. Quantos se esforçam por estudar, realizar graduações
no ensino superior, fazer especialidades e, em troca, nada ganham a
não ser o salário que é dado a todo e qualquer professor, por
existir uma padronização remuneratória. Será isso justo?
Por
tudo isso é que muitos têm saudade do início da segunda metade do
século 20, ou seja, das décadas de 1950 a 1960, quando o professor
era bem remunerado e, ainda mais, era valorizado pela profissão, era
respeitado. Hoje, num reverso desse quadro, os jovens nem querem
saber em pensar em ser professor. Magistério é a última coisa que
querem como profissão, tal a desvalorização do que outrora dava
status social. Também, as notícias somente falam em salários
baixos, escolas onde quase tudo falta, violência dos alunos,
desrespeito por parte dos pais. Quem quer enfrentar?
Pensando
em tudo isso, uma amiga que sonhava em criar uma escola disse a si
mesma: “somente vou criar a escola quando tiver condições
financeiras de pagar muito bem aos professores, para que estes se
dediquem em tempo integral à mesma”. E assim ela fez e a
parabenizamos por isso. E assim devem pensar secretários de
educação, prefeitos e gestores particulares, pois não é lícito
exigir sacrifícios de quem mal consegue se sustentar com o que ganha
e ainda ter de conviver com falta de recursos e condições físicas
decentes na escola.
O
professor, como agente social fundamental na formação das novas
gerações e, portanto, na constituição futura da própria
sociedade, é profissional que deve ter todo apoio para dedicar-se
integralmente a um único projeto pedagógico, e não como hoje
acontece, quando ele tem que trabalhar em duas ou três escolas,
acumulando empregos, alunos e trabalho para ter dignidade em seu
viver, isso quando não tem que atuar em outra área profissional
para complementação de sua renda.
Sabemos
que a qualidade da educação não é diretamente proporcional à
qualidade da remuneração salarial, que o amor pode suplantar as
adversidades, mas também sabemos que quem é valorizado, recebe boas
condições de trabalho e consegue viver com dignidade, dará muito
melhores frutos, ou em outras palavras, terá um rendimento
profissional muito maior.
Comentários