segunda-feira, 31 de agosto de 2020

E querem voltar a dar aula

A pandemia do novo coronavírus Covid-19 suspendeu o trabalho das escolas e já se vão, na prática, seis meses de paralisação escolar. Tanto no sistema público quanto no sistema particular, as escolas procuram de alguma maneira realizar a educação a distância, mas esbarraram em vários problemas, como a falta de internet de qualidade, inexistência de computador na casa de muitos alunos, despreparo dos professores face à nova metodologia online. Outras escolas sequer se movimentaram nessa direção, deixando professores e alunos afastados, na incerteza do presente e do futuro.

Os pedagogos e gestores deveriam utilizar esse período para sérias e profundas reflexões sobre a educação e o ensino, sobre o presencial e o online, mas isso não aconteceu. Todos só têm um pensamento: volta às aulas! E quem está desenvolvendo a educação a distância apenas fez adaptar a sala de aula para o online, continuando apenas e tão somente a ensinar conteúdos das disciplinas curriculares.

A Michelle, professora do ensino fundamental, leu em outros textos minha crítica e questionou: mas não é esse o papel do professor, ensinar os alunos em sala de aula?

Não, não é!

Encontro debate práticas de sala de aula

O papel do professor é ser orientador do processo de aprendizagem do aluno, permitindo que ele tenha autonomia para estudar, para aprender, para desenvolver seus potenciais cognitivos e emocionais.

Naturalmente isso não vai acontecer enquanto tivermos essa tacanha mentalidade de ensinar, ensinar, ensinar.

E também não vai acontecer enquanto olharmos a escola como local de salas de aula, grade curricular, tempos de 50 minutos, regras rígidas, provas, notas e aulas e mais aulas. Essa escola está estruturada para manter a ensinagem, e não para desenvolver a aprendizagem.

A legislação brasileira sobre educação fala em diversas formas de organização que a escola pode assumir, mas na prática isso não acontece pois os sistemas público e particular formataram um modelo único, seguido à risca: seriação por idade escolar com avaliação quantitativa através de provas e notas. Ofende-se deliberadamente a lei, mas nada se faz porque é mais cômodo, é mais confortável.

Então, como a professora Michelle, o único pensamento vigente é o de volta às aulas, mesmo porque os professores parecem não saber trabalhar de forma diferente, têm muita dificuldade em pensar e fazer de forma mais criativa, dinâmica e participativa. Resultado de décadas de formação e prática somente para ensinar.

Pedagogos e professores precisam aprender a desconstruir esse processo. Precisam olhar para as escolas inovadoras não como escolas experimentais ou sonhadoras, utópicas (talvez seja essa a visão da Michelle), e sim como escolas que trabalham com o ser integral, com a realidade social e se fazem verdadeiras comunidades de aprendizagem. Em outras palavras: são escolas que praticam o educar e não o ensinar.

Não precisamos de sistemas de ensino, sejam públicos ou particulares, precisamos de sistemas de educação, no mais profundo significado da educação.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

A educação do professor

É muito interessante participação de uma reunião de professores na escola, como, por exemplo, reuniões promovidas pela coordenação pedagógica. Normalmente as conversas giram em torno dos alunos, dia pais, das disciplinas curriculares e outros assuntos, menos sobre educação de si mesmos, a autoeducação, como se professores não necessitassem realizar essa tarefa. O autoconhecimento e a autoeducação são fundamentais na educação.

Reclamam muito, os professores, do comportamento dos alunos, da falta de respeito dos mesmos, da falta de limites, enumerando diversas queixas, mas nem sempre os professores olham para si mesmos, sendo, muitas vezes, causadores de problemas na escola pelos seus maus exemplos, fazendo com os alunos não os respeitem.

Já presenciamos professores que gritam, , xingam, estão sempre de mau humos, não possuem boa didática, são exigentes em demasia, fazem discursos e agem de forma contrária ao que falam. O exemplo tem a força bem maior que as palavras, mas parece que nem todo professor se dá conta disso ou se preocupa com isso.

Certa vez presencial uma professora da educação infantil, após entregar as crianças para as mães, caminhar para a secretaria da escola e dizer: "Ufa, finalmente me livrei dessas pestinhas!". E para não ter problemas com os alunos, ou melhor, para não se estressar, outra professora explicou sua receita: "Entro na sala de aula, dou o conteúdo da minha matéria e saio, é problema deles aprender".

Enquanto os professores não se conscientizarem da sua responsabilidade enquanto educadores, e que para realizarem bem sua tarefa precisam se educar, precisam dar bons exemplos, a escola continuará vivendo dias amargos.

Fácil é querer a transformação do outro, fácil é transferir responsabilidades para os pais ou para o governo, mas não é fazendo transferência de responsabilidade que os professores vão melhorar a educação, se no dia a dia da escola continuam a não se posicionar como educadores, teimando em ficar apenas na posição de passadores de conteúdos curriculares.

Diante disso cabem algumas perguntas:
Você está se educando?
Você está fazendo esforço em se melhorar?
Você controla a boca para falar menos, e mal, dos outros?
Você acredita no que faz?
Você observa suas atitudes tentando dar bons exemplos?
Você coopera com o grupo, fazendo dele uma equipe?
Você é dinâmico, criativo e ama a educação?

Professor, procure responder com sinceridade essas perguntas para fazer uma autoavaliação, e não caia na tentação de se desculpar com frases do tipo "não adianta, os alunos não querem saber de nada", "é perda de tempo, não temos a colaboração dos pais", "se pelo menos pagassem um salário melhor". Essas frases são fogos de artifício, o efeito é passageiro, e depois tudo continua na mesma.

Educar-se para melhor educar é a chave para os professores terem menos queixas e mais histórias felizes para contar.

Professor, vamos começar a pensar sobre autoeducação e, em seguida, iniciá-la?

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Educação é educação

Material reúne princípios e orientações para a implementação da ...

O educador e filósofo John Dewey (1859-1952), um dos principais teóricos do movimento da escola nova, já dizia em seu livro Experiência e Educação: “não desejo concluir sem registrar minha firme crença de que a questão fundamental não é de educação velha versus nova, nem de educação progressiva versus tradicional, mas de alguma coisa – seja qual for – que mereça o nome de educação. Não sou, espero e creio, a favor de quaisquer fins ou quaisquer métodos simplesmente porque se lhes deu o nome de progressivo. A questão básica, repito, prende-se à natureza de educação sem qualquer adjetivo qualificativo. Aquilo por que ansiamos e o de que precisamos é educação pura e simples.

Em seus estudos e atividades na Universidade de Columbia, Estados Unidos, Dewey percebeu que filósofos e cientistas da educação perdem muito tempo em discussões estéreis sobre o que seja educação, defendendo adjetivações e qualificações as mais diversas, deixando os educadores confusos, perplexos e perdidos. Precisamos de educação e ponto final.

Não é de ensino que precisamos. Não é de instrução que somos carentes. A família, a escola e a comunidade precisam trabalhar a educação, ou seja, o desenvolvimento equilibrado de todas as potencialidades do educando, encarando este como ser integral, destacando-se os potenciais cognitivos e emocionais, e sem desprezar suas dimensões sociais, históricas, psicológicas, religiosas e outras.

O que normalmente encontramos sendo desenvolvido não é educação. A preocupação com conteúdos curriculares, deveres de casa, provas, notas, tarefas avaliativas que levam em consideração apenas o que se encontra nos livros didáticos e exercícios de múltipla escolha, desenvolve apenas a instrução e memorização.

Educação deve preparar para a vida. A vida é dinâmica, repleta de nuances. A educação deve imitar a vida.

Escola com salas de aula, carteiras enfileiradas, professor ensinando, sinal tocando, regras rígidas e falta de autonomia dos alunos é escola que não educa, que não está no contexto da educação.

Família com autoritarismo dos pais, cerceamento da criatividade das crianças, cobranças exageradas sobre os jovens, com foco nos deveres escolares e castigos por qualquer falta às regras, é família que não educa, que não sabe o que é educação.

Acredito que, agora, já sabemos o que é educação.

Como complemento, para não deixar dúvida, educação é desenvolver o senso moral do educando, levando-o a aprender discernir entre o bem e o mal, para ele e para os outros,. Isso é bem mais importante do que decorar nomes geográficos, datas históricas ou fórmulas matemáticas.

E quem foi que disse, provou e fundamentou pedagogicamente que avalia-se a educação do educando com provas e notas? Que adianta ele tirar nota dez, ou próxima dela, ser considerado excelente aluno, se é um péssimo cidadão?

Repetindo, pois neste caso repetir é essencial: educação é educação, e ponto final.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Naufrágio anunciado da educação

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas sentadas

Muitas pessoas não sabem, mas o Brasil possui um Plano Nacional de Educação (PNE), com metas a serem alcançadas até 2024. Relatórios do nosso governo e de organismos internacionais mostram que as medidas para alcançar essas metas estão em ritmo bem lento, e a assim continuar, o plano, ao seu final, terá sido um fracasso.

Temos hoje mais de 1,5 milhão de crianças sem creches, e mais de 11 milhões de analfabetos. O PNE está em vigor desde 2015 e apenas 13,4% dos indicadores das metas foram alcançadas; 50% dos indicadores das metas restantes estão, em média, com 73% de desenvolvimento. E os demais indicadores ...

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) estima que no ritmo atual 85% dos indicadores estabelecidos não serão cumpridos (no total são 57 indicadores de monitoramento das metas do PNE). Como exemplo temos o analfabetismo funcional: 18,5% da população brasileira estava nessa classificação em 2012 (dados do IBGE), mas dados de 2018 revelam situação ainda mais grave: estima-se que 30% da população é analfabeta funcional.

Mas, porque estou escrevendo sobre isso? Educação é o que menos importa para nós brasileiros e brasileiras. Esta postagem dificilmente terá comentários e compartilhamentos. Deveria eu escrever sobre algo mais ameno e sem importância?

Não se trata de discutir a validade do Plano Nacional de Educação, se concordamos ou não com suas metas estabelecidas. Ele existe, é importante, e o governo deveria tê-lo como prioridade de sua política, o que não acontece. E não estou falando apenas do governo federal, mas também dos governos estaduais e municipais, pois todos têm sua parcela de ação para melhorar a educação brasileira, lembrando que quando melhora-se a educação melhora-se a sociedade.

A falta de interesse político pela educação é notória em todas as esferas governamentais. Trava-se, e não é de hoje, uma luta pelos cargos, pelas verbas, prevalecendo critérios não técnicos, mas sim de amizades e troca de favores partidários, e assim assistimos mais um Plano Nacional de Educação anunciado ao naufrágio de suas boas intenções.

Alguns valentes pedagogos e professores trabalham desesperadamente para salvar a frágil educação brasileira, mas os golpes desferidos por ideólogos e políticos são muito fortes, e a bússola parece quebrada em meio a uma tormenta de vulto. Afinal, para onde vai nossa educação?

A troca incessante de ministros e secretários de educação é mais um retrato desse descaso. Nessa dança das cadeiras, projetos são abandonados, processos são descontinuados, novas exigências são elaboradas, e os profissionais da educação ficam perdidos, sem saber para onde devem ir e o que devem fazer.

Se o Plano Nacional da Educação está à deriva e pedindo socorro, o futuro da sociedade brasileira não aponta muita coisa melhor do que estamos vivendo na atualidade.

Em 2016, num lampejo de lucidez pedagógica, o Ministério da Educação reconheceu quase 200 escolas e organizações brasileiras como inovadoras e criativas da educação básica, criando o Mapa da Inovação. Agora o mapa foi banido, essas escolas e organizações desconsideradas, e voltamos à mesmice do sempre foi assim, assim continuará sendo.

Não estamos diante de um naufrágio social anunciado?

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Salve, professor!

Você conhece o perfil do professor do futuro? Veja 6 competências!

Embora o magistério seja uma profissão desvalorizada e os professores estejam enfrentando sérios problemas nas escolas, sendo alvo até mesmo de violência física por parte de muitos alunos, temos que destacar a importância dos mestres na sociedade humana, pois deles dependemos para crescer, aprender e desenvolver nosso potencial. No Brasil, da educação infantil ao ensino superior, convivemos com eles, em média, por pelo menos dezessete anos, às vezes menos, outras vezes mais tempo. É uma convivência considerável e muito significativa.


Para termos qualquer profissão dependemos dos professores e da escola. Podemos ter nossas queixas deste ou daquele professor, lembrando que não existe perfeição na humanidade, em qualquer setor vamos encontrar os bons e os maus profissionais, e isso não é diferente no magistério, mas precisamos valorizar aqueles que se dedicam com amor ao seu trabalho, esforçando-se em dar o seu melhor e sendo criativos e dinâmicos, fazendo a diferença.


Seja no trabalho presencial ou virtual, quantos não sacrificam a vida pessoal e familiar em favor dos seus educandos? E nisto temos que colocar igualmente os gestores escolares e os coordenadores pedagógicos, fazendo da sua escola um referencial na comunidade, apesar de todos os problemas enfrentados quando se trata de escola da rede pública de ensino. Mas vamos evitar neste texto falar do que é negativo, pois nossa intenção é realçar o positivo.


Trabalhando, através da educação a distância, com cursos voltados para professores, temos recebido depoimentos que nos sensibilizam, encontrando professores das mais diversas regiões brasileiras realizando atividades admiráveis, e com visão mais profunda sobre a educação e o papel da escola na sociedade.


Os pais não devem apenas procurar a escola mais próxima de sua residência para matricular seus filhos, devem procurar em seu bairro ou distrito a escola que tenha professores que amam o magistério, e que seja referência de qualidade no processo ensino-aprendizagem, mesmo que isso leve a um tempo maior de deslocamento. Essa escola e esses professores existem!


Todas as vezes que somos convidados para estar numa escola ou num evento sobre educação, e levamos o projeto Escola do Sentimento para apresentar, o fazemos com disposição de despertar as consciências que ainda estão adormecidas, e de incentivar os que já estão trabalhando para sair da mesmice, a continuar, com força de vontade, superando os obstáculos.


E quantas vezes somos gratamente surpreendidos com depoimentos e projetos que merecem aplausos e, mais do que isso, merecem ser divulgados e espalhados pelas escolas deste nosso Brasil.


Nossa nação é repleta de grandes educadores, de professores que fizeram e fazem história, como Anísio Teixeira, Anália Franco, Lauro de Oliveira Lima, Eurípedes Barsanulfo, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Rubem Alves, Cecília Meireles e tantos outros, verdadeiros mestres dedicados à educação, muitos considerados referências internacionais quando se trata de falar de pedagogia e de escola.


Que a nova geração entenda a importância da educação e de ser professor.


Que os professores de todo o Brasil recebam nossa gratidão, nosso abraço e nossa saudação; salve!

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...