segunda-feira, 29 de maio de 2023

Diante dos interesses egoístas

Os escândalos e imoralidades que assistimos nos serviços públicos das mais diversas esferas governamentais, e também nos ambientes particulares das instituições humanas não governamentais, têm uma única causa: o egoísmo. Ainda nos caracterizamos por defender posições pessoais ou de grupos de nosso interesse imediato, sem levar em conta os malefícios que isso acarreta para a maioria. Desde que consigamos manter ou ampliar nossos privilégios, nossas conquistas materiais, assim como daqueles que pensam como nós, não titubeamos em utilizar da hipocrisia, da violência ou da imoralidade, que disfarçamos através de ações respaldadas por leis feitas por nós mesmos.

Utilizar de máscaras hipócritas através de discursos públicos que ocultam manipulações interesseiras feitas nos bastidores, é especialidade de muitos seres humanos. São os lobos em pele de ovelha, como nos advertiu Jesus, com os quais precisamos ter muito cuidado. Não se intimidam diante do Evangelho, sendo capazes de inverter valores e manipular ensinos morais, utilizando até mesmo da religião para fins escusos, passando-se por verdadeiros santos, heróis do povo, quando na verdade se locupletam do que não lhes pertencem, deixando à margem milhões de esfomeados, desempregados, em sofrimento, enquanto que eles mesmos se refestelam em festas faraônicas, viagens a centros turísticos, gastos vultuosos com supérfluos, desvios de verbas públicas, num cortejo infindável de benefícios egoístas.

Tomemos cuidado, de nossa parte, de não sermos túmulos pintados de branco por fora e cheios de podridão por dentro, como também nos esclarece Jesus. Ou como dizem os benfeitores espirituais, de sermos um bonito rótulo carregando veneno no conteúdo. O egoísmo com seus malefícios não está presente apenas nas altas esferas governamentais ou empresariais, mas igualmente no nosso dia a dia, na posição social em que nos encontramos, nas relações familiares e de amizade que mantemos, de acordo com os valores de vida que cultivamos. Muitas vezes não fazemos estrago maior por falta de oportunidade, essa é a verdade.

Para nossa maior reflexão, eis o que o Espírito Emmanuel nos diz sobre o egoísmo, em mensagem publicada no item 11 do capítulo 11 de O Evangelho Segundo o Espiritismo:

O egoísmo, esta chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, porque impede o seu progresso moral. É ao Espiritismo que está reservada a tarefa de fazê-la elevar-se na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, sua força, sua coragem. Digo: coragem, porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo, do que para vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é a fonte de todas as misérias terrenas. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens.”

Na sequência, no item 12, temos a seguinte advertência do Espírito Pascal:

Se os homens se amassem com mútuo amor, a caridade seria mais bem praticada, mas, para isso, seria preciso que vos esforçásseis por largar essa couraça que cobre os vossos corações, a fim de se tornarem eles mais sensíveis aos sofrimentos alheios. A rigidez mata os bons sentimentos; o Cristo não se escusava; não repelia aquele que o buscasse, fosse quem fosse: socorria tanto a mulher adúltera, como o criminoso; nunca temeu que a sua reputação sofresse com isso. Quando, pois, o tomareis por modelo de todas as vossas ações? Se a caridade reinasse na Terra, o mau não imperaria nela; fugiria envergonhado; ocultar-se-ia, visto que em toda parte se acharia deslocado. O mal então desapareceria, ficai bem certos.”

Temos bastante conteúdo para pensar com profundidade sobre o caminho a tomar para combater o egoísmo, gerando justiça social, paz e felicidade. Cuidemos de colocar em prática esses ensinos.

segunda-feira, 22 de maio de 2023

Ação espírta na transformação do mundo

O Espiritismo surge no mundo na metade do século dezenove, mais precisamente no ano de 1857, quando aparece nas livrarias francesas a obra O Livro dos Espíritos, assinada por Allan Kardec. Um nome curioso e uma assinatura desconhecida chamam a atenção dos leitores, e em seis meses a primeira edição estava esgotada, de um livro feito de perguntas e respostas separadas por temas, abrangendo todos os ramos do conhecimento humano, inclusive o espiritual. As perguntas feitas por Allan Kardec, que os franceses e demais povos viriam descobrir tratar-se de Denizard Rivail, professor e disseminador das ideias educacionais pestalozzianas, ilustre pedagogo, tradutor e escritor educacional com várias obras já publicadas. Ele se escondia num pseudônimo porque a obra não era dele, era dos Espíritos!

E do que trata esse O Livro dos Espíritos?

Das causas do universo e da vida; sobre quem somos, de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos; sobre a alma imortal; sobre a vida depois da morte; sobre a reencarnação; sobre o destino dos homens e da humanidade; sobre as leis morais; sobre as penas e recompensas atuais e futuras perante a lei divina. Muitos temas científicos, culturais e morais desenvolvidos pelos Espíritos e com vários comentários de Kardec.

Surge no mundo uma nova doutrina filosófica e científica com consequências morais.

E qual é a finalidade do Espiritismo?

A transformação moral dos homens e mulheres para que estes, moralizados e espiritualizados, possam transformar a humanidade, fazendo o bem predominar sobre o mal.

O Espiritismo não é mais uma religião no espectro histórico e cultural religioso da sociedade humana. Não possui sacerdócio nem dogmas inquestionáveis. Pelo contrário, é doutrina libertadora das consciências, demonstrando que a vida continua após a morte, e que a cada um será dado segundo suas obras, como bem nos ensinou Jesus.

Equivoca-se quem vê no Espiritismo apenas uma religião e tenta conformar o Centro Espírita a uma igreja, repetindo os velhos hábitos da confissão, da benzedura, da salvação messiânica, pois o Espiritismo solicita a conquista de si mesmo e da felicidade através da transformação íntima, desaguando na vivência do amor e da caridade para com todos.

Alerta-nos José Herculano Pires em sua magistral obra Curso Dinâmico de Espiritismo:

Cada espírita, ao aceitar e compreender a grandeza da causa doutrinária e sua finalidade suprema – que é a transformação moral, social, cultural e espiritual do nosso mundo – assume um grave compromisso com sua própria consciência.”

Como sermos o mesmo de antes perante o conhecimento da Doutrina Espírita? Não basta acreditar na alma imortal e na reencarnação. Não basta saber de forma decorada trechos das obras de Kardec. Não basta frequentar o Centro Espírita uma ou duas vezes por semana, do mesmo modo que antes fazíamos com a igreja. Como realizar a “transformação moral, social, cultural e espiritual do nosso mundo” sem compreender que o autoconhecimento e a autoeducação são imprescindíveis? Como esclarecer as mentes e consolar os corações sem o estudo mais aprofundado da doutrina? Como querer educar com base na realidade do espírito imortal, se continuamos a manter vícios e paixões que desonram nosso caráter?

Passemos a palavra ao Espírito Santo Agostinho, quando em magistral texto publicado no capítulo 14, item 9, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos adverte:

Ó espíritas! Compreendei agora o grande papel da Humanidade; compreendei que, quando produzis um corpo, a alma que nele encarna vem do Espaço para progredir; inteirai-vos dos vossos deveres e ponde todo o vosso amor em aproximar de Deus essa alma: esta é a missão que vos está confiada e cuja recompensa recebereis, se a cumprirdes fielmente. Os vossos cuidados e a educação que lhe dareis auxiliarão o seu aperfeiçoamento e o seu bem-estar futuro. Lembrai-vos de que Deus perguntará a cada pai e a cada mãe: Que fizestes do filho confiado à vossa guarda? Se ele se conservou atrasado por culpa vossa, tereis como castigo vê-lo entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vós que fosse feliz. Então, vós mesmos, torturados de remorsos, pedireis para reparar a vossa falta; solicitareis, para vós e para ele, uma nova encarnação, na qual o cercareis de melhores cuidados e em que ele, cheio de reconhecimento, vos envolverá com o seu amor.”

É grave e profunda nossa missão espírita na Terra, compreendendo que o Espiritismo é doutrina de educação da alma imortal que todos somos. O futuro é dependente do que fazemos agora. A felicidade no amanhã depende da educação que estamos promovendo hoje, lembrando que primeiro temos que assumir esse compromisso com nossa própria consciência.

Compete ao espírita um grande papel na renovação do mundo, mas ele somente poderá cumprir com fidelidade esse papel, se compreender com profundidade o significado e finalidade da doutrina que abraça e que deve orientar seus passos neste mundo de Deus.


segunda-feira, 15 de maio de 2023

Ensina-nos a orar

Significativa narrativa nos traz Lucas em seu Evangelho quando, no capítulo 11, versículo 1, conta que “aconteceu que, estando ele (Jesus) a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos”. A referência feita pelo discípulo, não nomeado por Lucas, é com relação a João Batista, o precursor, aquele que abriu os caminhos para o Mestre Celeste. Tanto João Batista quanto Jesus tinham o hábito da comunhão com Deus através da oração, hábito esse mantido pelos cristãos, e também por todas as doutrinas religiosas não cristãs.

O Espiritismo, sendo no seu aspecto religioso, ou de consequências morais, uma doutrina cristã, pois que tem em seus princípios os ensinos morais do Cristo, igualmente cultiva o hábito da oração ou prece entre seus adeptos, mas não de forma mística ou exaltada, e sim com simplicidade, humildade e sentimento. Vejamos, pois, como o Espiritismo entende a oração.

Devemos utilizar a oração com a finalidade de elevar nosso pensamento a Deus, nosso Pai e Criador, numa comunhão sincera entre o filho e o pai, assim colocando-nos acima da matéria, sentindo a espiritualidade no momento em que endereçamos o pensamento a Ele que vibra no amor e quer que alcancemos a perfeição através do amor. Essa é a grandiosa e profunda finalidade da oração na visão espírita.

Sobre a oração propriamente dita, o Espiritismo faz quatro recomendações para que ela seja eficaz:

1 – A oração é sempre agradável a Deus quando feita pelo coração, ou seja, quando feita com sentimento.

2 – A intenção é tudo para Deus.

3 – A oração deve ser feita com fé, fervor e sinceridade.

4 – Deve ser, quando o caso, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.

Assim, sentimento e pensamento são tudo o que importa. O local, a postura, as palavras utilizadas não tem importância para Deus. Já a intenção, a fé, a sinceridade é que vão mostrar se nossa oração realmente tem valor e se pode ser atendida e como esse atendimento poderá ser feito. Nem sempre recebemos o que queremos, mas com certeza sempre receberemos o que precisamos.

Na questão 659 de O Livro dos Espíritos, os espíritos superiores informam que através da oração, nesse ato de fé e humildade, podemos realizar três coisas nesse contato espiritual com Deus: 1 – Louvar; 2 – Pedir; 3 – Agradecer.

Louvar é dirigir elogios a outrem, é aprovar, exaltar, bem dizer, com o esquecimento de si mesmo, em ato de verdadeira humildade. Louvar a Deus é agradecer-lhe pela vida, pela sua justiça, pela sua misericórdia, pela sua perfeição, pelo seu amor.

Pedir é solicitar uma concessão, uma ajuda, um auxílio. Os pedidos que podemos fazer a Deus são de duas ordens: materiais e espirituais. Devemos tomar cuidado com os pedidos de ordem material, pois se, em princípio, tudo podemos pedir, nem tudo convém solicitar, pois precisamos aprender a nos desapegar dos bens materiais. Os pedidos de ordem espiritual devem se concentrar, preferencialmente, no auxílio à nossa fé, força de vontade e resignação.

Agradecer é demonstrar gratidão pelas bênçãos da vida, pelas oportunidades de aprendizados valiosos para nosso progresso intelectual e moral, pelo ensejo de, através do amor do bem, repararmos faltas cometidas em outras existências.

No capítulo 27, item 22 de O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec apresenta as condições essenciais da verdadeira oração, aquela que, de fato, chega a Deus. São elas:

1 – Ao fazer a oração não se colocar em evidencia, mantendo uma postura humilde.

2 – Utilizar poucas palavras, mas com sentimento, pois isso vale muito mais do que palavras escolhidas ou longas ladainhas.

3 – Se tiver alguma mágoa ou ressentimento, antes de orar a Deus, procurar os inimigos para dar ou pedir perdão, pois o que adianta elevar o pensamento ao Criador se estamos com o coração em brasa?

4 – Ser humilde, nada pedindo além de fé e auxílio para melhor enfrentar as questões existenciais, além de bênçãos sobre todos os os nossos irmãos e irmãs em humanidade.

5 – Utilizar a oração para examinar os próprios defeitos antes que os defeitos dos outros, pois a maior força de transformação é o exemplo que podemos dar de nossa transformação moral.

É assim, seguindo essas orientações, que nossas orações serão agradáveis a Deus e poderemos receber o auxílio através dos bons espíritos, que cumprem conosco a missão de nos amparar, orientar e fortalecer, em nome do Pai Celestial.

Através da oração nos colocamos em contato, através do pensamento, com o ser a quem nos dirigimos. Isso é possível porque o pensamento, que é energia impulsionada pela nossa força de vontade, pela nossa fé, é transmitido através do fluido cósmico universal, podendo atingir culminâncias espirituais. Toda oração é registrada no mundo espiritual e sempre atendida, de acordo com os parâmetros da lei divina.

Para nossa reflexão, encerramos este pequeno estudo sobre a oração com as palavras do espírito V. Monod, em mensagem publicada por Allan Kardec no item 23 do capítulo 27 de O Evangelho segundo o Espiritismo, texto belíssimo que a todos recomendamos:

“A prece pode ser de todos os instantes, sem interromper os vossos afazeres; e até, pelo contrário, assim feita, ela os santifica. E não duvideis de que um só desses pensamentos, partindo do coração, é mais ouvido por vosso Pai celestial do que as longas preces repetidas por hábito, quase sempre sem um motivo imediato, apenas porque a hora convencional maquinalmente vos chama.”


segunda-feira, 8 de maio de 2023

A paz do Cristo diante da paz do mundo

Profundo e reflexivo texto nos oferta o benfeitor espiritual Emmanuel, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, conforme lemos no livro Vinha de Luz em seu capítulo 105, sobre o tema paz do mundo e paz do Cristo, alertando-nos que a paz do mundo é ilusória e passageira, pois tem por base o egoísmo, o orgulho, a vaidade e a desonestidade, enquanto a paz com Jesus é serena e eterna, tendo por base o amor ao próximo e a prática da caridade. Embora muitos considerem que estar de bem com a vida, ou seja, ter uma boa situação financeira, um bom emprego, uma casa para morar e saúde para se divertir sejam elementos que trazem paz, se equivocam, pois tudo que se baseia em coisas materiais pode amanhã não ser mais do mesmo jeito: as finanças podem ruir, o desemprego pode nos visitar, a casa pode ter sérios problemas e a saúde pode se debilitar seriamente. Então, o que é melhor: a paz do mundo ou a paz do Cristo?

Alegarão a seu favor os partidários da paz do mundo, que as condições de vida podem se alterar até para melhor com o passsar do tempo, ou que sua deterioração poderá acontecer somente lá na velhice, já perto da morte, então não teria maior significado, pois foi possível viver do jeito que se queria durante 40, 50, 60 anos ou mais, e isso é o que verdadeiramente importa. Pobres seres humanos que tem no materialismo sua filosofia de viver, não levando em conta a sobrevivência da alma após a morte do corpo. E mesmo que nada considerem sobre esse assunto, de que adianta gozar e ter recursos, se nesse gozo prejudicam a si mesmo e ao próximo? Quantos não morrem prematuramente, ou tem uma decrepitude acentuada por motivo do desgaste abrupto de suas energias? Quantos, para manter seu modo de vida, não apelam para a desonestidade, a corrupção, os desmandos? E quantos, no leito de hospital, ou mesmo no lar, não se arrependem tardiamente de terem feito a opção pela paz enganosa do mundo?

Ainda outra reflexão podemos fazer nesse tema: que paz é essa que não consegue acabar com a violência, com a guerra? E por que estamos sofrendo tanto com guerras, desigualdades sociais e outros males que teimosamente continuam a nos atingir, violentando nossa existência? É que onde há injustiça não pode haver paz. Em contrapartida, onde as necessidades do ser humano são atendidas, não há motivo para a violência.

Informa Emmanuel, no texto a que nos referimos, que a paz do Cristo é a “paz que excede o entendimento, por nascida e cultivada, portas adentro do espírito, no campo da consciência e no santuário do coração”. È a paz do amor colocado em ação, é a paz da caridade socorrendo o próximo, é a paz íntima do dever bem cumprido, é a paz da resignação aos desígnios divinos, trabalhando incessantemente pelo bem e pelo progresso.

Mesmo que a paz do Cristo não nos isente das dores e dos sofrimentos, das provas e das expiações que ainda temos de passar para nosso aprendizado e crescimento espiritual, ela nos dá a certeza que com Jesus tudo podemos enfrentar com serenidade, com fé e confiança, e que se não for neste mundo, a recompensa virá no nosso retorno ao mundo espiritual pelas portas da chamada morte. Contudo, não é preciso esperar esse momento para fruir a paz prometida por Jesus, pois o uso da prece (oração) e o vibrar no amor nos atrairão os bons espíritos, que fortalecerão incessantemente nossa alma diante dos embates da existência terrena.

E como gerar essa paz para os outros? Como influenciar a sociedade para uma convivência mais fraterna, solidária, sem violência? Façamos nossa parte devolvendo o mal com o bem; procurando manter a calma em todas as situações; exercendo nossa cidadania com o cumprimento dos deveres que nos competem; respeitando o direito do outro – e aqui lembramos que perante a lei divina os direitos são iguais para todos; colocando o diálogo fraterno à frente de qualquer diferença com o outro; pensando e agindo sempre para o bem coletivo. São ações individuais que contagiam através dos bons exemplos, paulatinamente modificando a humanidade para melhor.

Como espíritas, sabedores da imortalidade da alma, da continuidade da vida após a morte, e da finalidade superior da reencarnação, não podemos ficar apenas na teoria, pois entendimento e conhecimento sem vivência não trará a paz que tanto queremos, e o Evangelho, síntese dos ensinos e exemplos de Jesus, requer de cada um a ação positiva no bem.

Convidamos o leitor para conhecer e se engajar, por exemplo, no movimento Você e a Paz, idealizado pelo médium e orador Divaldo Pereira Franco, que há mais de 20 anos leva essa ação em logradouros públicos, já tendo realizado o evento em mais de 12 países e em mais de 200 cidades brasileiras. E também convidamos para conhecer nossa Carta pela Paz do Mundo, que através da Internet tem instado as pessoas para a opção pela paz, com o objetivo de fazer de nosso planeta um mundo muito melhor. A carta está disponível para leitura, cópia e distribuição em www.marcusdemario.com.

Fiquemos com a paz do Cristo, o legítimo representante de Deus na face da Terra, pois nada melhor do que, ao dormir e ao levantar a cada dia, termos paz de consciência, a verdadeira paz de espírito.


segunda-feira, 1 de maio de 2023

Alerta necessário

De tempos em tempos o movimento espírita brasileiro é sacudido por polêmicas entre os adeptos do Espiritismo sobre temas que estão longe do objetivo principal da doutrina, que é a transformação moral das pessoas e da humanidade. Nada impede a nós, espíritas, de tratar de qualquer tema, mas seguindo uma regra geral muito útil: temas sobre os quais não temos uma resposta definitiva, que gerem polêmicas intermináveis, e que nada acrescentem ao objetivo moral da doutrina espírita, devem ser evitados, ou ao menos minimizados, pois são muito mais motivo de divisão do que de união, que deve caracterizar os espíritas, cientes que o exemplo fala por mil palavras.

O codificador Allan Kardec, prevendo o que poderia acontecer no futuro, publicou na edição da Revista Espírita de fevereiro de 1862, em resposta à mensagem de ano novo dos espíritas lioneses, texto de máxima importância com conselhos gerais aos espíritas, dos quais destacamos o seguinte parágrafo para nosso estudo:

Devo ainda vos chamar a atenção para outra tática de nossos adversários: a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua competência e que poderiam, com toda razão, despertar susceptibilidades e desconfianças. Também não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto disser respeito à política e às questões irritantes; nesse caso, as discussões não levarão a nada e apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém questionará a moral, quando ela for boa. Procurai, no Espiritismo, aquilo que vos pode melhorar; eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente úteis serão uma consequência natural. Trabalhando pelo progresso moral, assentareis os verdadeiros e mais sólidos fundamentos de todas as melhoras, deixando a Deus o cuidado de fazer que as coisas cheguem no devido tempo. No próprio interesse do Espiritismo, que ainda é jovem, mas que amadurece depressa, deveis opor uma firmeza inabalável aos que buscarem vos arrastar por um caminho perigoso”.

O que à época de Kardec acontecia de fora para dentro do movimento espírita, hoje acontece nas suas entranhas, em embates entre seus adeptos por ideias e assuntos que a nada levam, a não ser a debates infindáveis e inimizades, num flagrante contrassenso, pois a bandeira do Espiritismo é “fora da caridade não há salvação”, o que a boa lógica nos diz deva ser antes exercida entre os próprios espíritas, como exemplo de tolerância e fraternidade entre aqueles que abraçam seus princípios e procuram colocá-los em prática.

Entre as polêmicas irritantes que pululam no movimento espírita brasileiro destacam-se aquelas que querem identificar neste e naquele a reencarnação de famosos personagens da história humana, como se todos esses personagens, por alguma ordem divina desconhecida, tivessem que se tornar brasileiros e espíritas. Ora, Deus não legisla por privilégios, que absolutamente o Brasil não os detêm, assim como nenhuma outra nação do mundo. Por qual motivo todos os revolucionários franceses, todos os filósofos gregos, todos os personagens europeus famosos de todos os tempos, teriam que reencarnar no Brasil e, ainda, serem espíritas? E se assim sucede, por que não somos, de todos os pontos de vista, melhores, e principalmente do ponto de vista moral?

Nesse debate reencarnatório infrutífero de querer localizar no tempo e espaço quem eu fui em encarnação passada, quem você foi em outra existência, alguns espíritas desavisados e demonstrando pouco conhecimento da própria doutrina que dizem esposar, afirmam que fulano ou fulana de destaque no movimento espírita brasileiro é a reencarnação não apenas de um personagem famoso, mas de vários personagens famosos, assim alguém poderia ter sido Sócrates, depois o apóstolo Pedro, em seguida Francisco de Assis, até culminar na atual personalidade, conhecida apenas dos espíritas brasileiros, o que não deve ser muito lisonjeiro a esse espírito que tantos benefícios realizou para a humanidade, e que agora se circunscreve a ser conhecido de apenas uma parte da nossa população. Esse pensamento nem mesmo é lógico, mas sim uma tendência que ainda temos de querer santificar e endeusar as pessoas, principalmente os médiuns que por algum motivo se destaquem pelos seus serviços à causa da propagação do Espiritismo e do atendimento ao próximo, o que é totalmente desnecessário e pouco recomendado, podendo levar muitos a se perderem da humildade que deve caracterizá-los como intermediários dos desencarnados.

Outra questão que tem invadido o movimento espírita brasileiro como uma praga daninha, é a mistura da opinião pessoal político-ideológica com a doutrina espírita. Apressemo-nos em esclarecer que ninguém, pelo fato de ser espírita, é isento de sua personalidade e de suas ideias pessoais, todos temos o direito de exercer o livre arbítrio, mas que as ideias pessoais fiquem bem claras ao expressarmos uma opinião, pois não podemos falar em nome do Espiritismo utilizando ideias de cunho pessoal. Infelizmente essa mistura é o que mais temos visto nas redes sociais e, deixando-se levar pelo orgulho, muitos se digladiam através da internet por não aceitarem o que quer que seja que lhes contrarie o pensamento. Isso somente demonstra que não entenderam o cunho moral da doutrina espírita, que pede transformação, moderação, tolerância, compreensão, renúncia, solidariedade a todos os seus adeptos, e a não adeptos, e em todas as circunstâncias.

Ainda diante de questões inúteis em flagrante contradição com os princípios espíritas, e desdenhando-se as sábias recomendações dos Espíritos Superiores e de Allan Kardec, temos igualmente a publicação aleatória e sem nenhum critério de mensagens mediúnicas que mais aterrorizam as pessoas do que esclarecem e consolam, muitas delas colidindo frontalmente com os sólidos princípios que formam o Espiritismo. Para prevenir tais publicações, hoje tão facilitadas pelos meios digitais, é que insistiu Allan Kardec em seus livros e nas páginas da Revista Espírita, em solicitar que toda e qualquer comunicação de ordem espiritual via mediúnica deve ser criteriosamente analisada, passando pelos crivos da lógica, da razão, do bom senso e da universalidade do ensino dos espíritos. E vai mais longe: na dúvida, recomenda que a mensagem seja guardada para posterior averiguação. Mas qual, não é o que atualmente sucede, com verdadeira enxurrada de mensagens espirituais sendo disseminadas por todos os meios, propagando ideias perturbadoras e mesmo opostas aos princípios da doutrina, num verdadeiro desserviço à causa.

Não estamos aqui nos opondo a esta ou aquela pessoa, a esta ou aquela instituição. Estamos no terreno da discussão das ideias e dos princípios que formam a base e o edifício do Espiritismo. Podemos divergir nas ideias, nos pensamentos, nas interpretações, mas isso jamais deverá nos colocar no terreno da inimizade, do corte do relacionamento interpessoal, e muito menos provocar dissidências irreconciliáveis dentro do movimento espírita, pois o que deve sancionar o verdadeiro espírita é a fraternidade.

De tudo isso, devemos tirar proveitosa lição: o Espiritismo tem por finalidade a transformação moral da humanidade, o que somente pode acontecer com a transformação moral dos indivíduos. Isso será retardado enquanto estivermos com a atenção desviada para assuntos que nada têm a ver com as questões de ordem moral, enquanto estivermos defendendo pontos de vista pessoais, enquanto estivermos acomodando os princípios espíritas a interesses outros.

Fiquemos sempre com Allan Kardec em suas sábias palavras: “Procurai, no Espiritismo, aquilo que vos pode melhorar; eis o essencial”.

Referências

KARDEC, Allan. Revista Espírita. Fevereiro de 1862. Brasília: Feb, 2004.


Texto - O espiritismo e o progresso das ideias

Marcus De Mario Desde o seu surgimento na metade do século dezenove, através das manifestações dos espíritos por meio de diversos médiuns, e...