Ensina-nos a orar

Significativa narrativa nos traz Lucas em seu Evangelho quando, no capítulo 11, versículo 1, conta que “aconteceu que, estando ele (Jesus) a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos”. A referência feita pelo discípulo, não nomeado por Lucas, é com relação a João Batista, o precursor, aquele que abriu os caminhos para o Mestre Celeste. Tanto João Batista quanto Jesus tinham o hábito da comunhão com Deus através da oração, hábito esse mantido pelos cristãos, e também por todas as doutrinas religiosas não cristãs.

O Espiritismo, sendo no seu aspecto religioso, ou de consequências morais, uma doutrina cristã, pois que tem em seus princípios os ensinos morais do Cristo, igualmente cultiva o hábito da oração ou prece entre seus adeptos, mas não de forma mística ou exaltada, e sim com simplicidade, humildade e sentimento. Vejamos, pois, como o Espiritismo entende a oração.

Devemos utilizar a oração com a finalidade de elevar nosso pensamento a Deus, nosso Pai e Criador, numa comunhão sincera entre o filho e o pai, assim colocando-nos acima da matéria, sentindo a espiritualidade no momento em que endereçamos o pensamento a Ele que vibra no amor e quer que alcancemos a perfeição através do amor. Essa é a grandiosa e profunda finalidade da oração na visão espírita.

Sobre a oração propriamente dita, o Espiritismo faz quatro recomendações para que ela seja eficaz:

1 – A oração é sempre agradável a Deus quando feita pelo coração, ou seja, quando feita com sentimento.

2 – A intenção é tudo para Deus.

3 – A oração deve ser feita com fé, fervor e sinceridade.

4 – Deve ser, quando o caso, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.

Assim, sentimento e pensamento são tudo o que importa. O local, a postura, as palavras utilizadas não tem importância para Deus. Já a intenção, a fé, a sinceridade é que vão mostrar se nossa oração realmente tem valor e se pode ser atendida e como esse atendimento poderá ser feito. Nem sempre recebemos o que queremos, mas com certeza sempre receberemos o que precisamos.

Na questão 659 de O Livro dos Espíritos, os espíritos superiores informam que através da oração, nesse ato de fé e humildade, podemos realizar três coisas nesse contato espiritual com Deus: 1 – Louvar; 2 – Pedir; 3 – Agradecer.

Louvar é dirigir elogios a outrem, é aprovar, exaltar, bem dizer, com o esquecimento de si mesmo, em ato de verdadeira humildade. Louvar a Deus é agradecer-lhe pela vida, pela sua justiça, pela sua misericórdia, pela sua perfeição, pelo seu amor.

Pedir é solicitar uma concessão, uma ajuda, um auxílio. Os pedidos que podemos fazer a Deus são de duas ordens: materiais e espirituais. Devemos tomar cuidado com os pedidos de ordem material, pois se, em princípio, tudo podemos pedir, nem tudo convém solicitar, pois precisamos aprender a nos desapegar dos bens materiais. Os pedidos de ordem espiritual devem se concentrar, preferencialmente, no auxílio à nossa fé, força de vontade e resignação.

Agradecer é demonstrar gratidão pelas bênçãos da vida, pelas oportunidades de aprendizados valiosos para nosso progresso intelectual e moral, pelo ensejo de, através do amor do bem, repararmos faltas cometidas em outras existências.

No capítulo 27, item 22 de O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec apresenta as condições essenciais da verdadeira oração, aquela que, de fato, chega a Deus. São elas:

1 – Ao fazer a oração não se colocar em evidencia, mantendo uma postura humilde.

2 – Utilizar poucas palavras, mas com sentimento, pois isso vale muito mais do que palavras escolhidas ou longas ladainhas.

3 – Se tiver alguma mágoa ou ressentimento, antes de orar a Deus, procurar os inimigos para dar ou pedir perdão, pois o que adianta elevar o pensamento ao Criador se estamos com o coração em brasa?

4 – Ser humilde, nada pedindo além de fé e auxílio para melhor enfrentar as questões existenciais, além de bênçãos sobre todos os os nossos irmãos e irmãs em humanidade.

5 – Utilizar a oração para examinar os próprios defeitos antes que os defeitos dos outros, pois a maior força de transformação é o exemplo que podemos dar de nossa transformação moral.

É assim, seguindo essas orientações, que nossas orações serão agradáveis a Deus e poderemos receber o auxílio através dos bons espíritos, que cumprem conosco a missão de nos amparar, orientar e fortalecer, em nome do Pai Celestial.

Através da oração nos colocamos em contato, através do pensamento, com o ser a quem nos dirigimos. Isso é possível porque o pensamento, que é energia impulsionada pela nossa força de vontade, pela nossa fé, é transmitido através do fluido cósmico universal, podendo atingir culminâncias espirituais. Toda oração é registrada no mundo espiritual e sempre atendida, de acordo com os parâmetros da lei divina.

Para nossa reflexão, encerramos este pequeno estudo sobre a oração com as palavras do espírito V. Monod, em mensagem publicada por Allan Kardec no item 23 do capítulo 27 de O Evangelho segundo o Espiritismo, texto belíssimo que a todos recomendamos:

“A prece pode ser de todos os instantes, sem interromper os vossos afazeres; e até, pelo contrário, assim feita, ela os santifica. E não duvideis de que um só desses pensamentos, partindo do coração, é mais ouvido por vosso Pai celestial do que as longas preces repetidas por hábito, quase sempre sem um motivo imediato, apenas porque a hora convencional maquinalmente vos chama.”


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