terça-feira, 15 de abril de 2025

Texto - O espiritismo e o progresso das ideias


Marcus De Mario

Desde o seu surgimento na metade do século dezenove, através das manifestações dos espíritos por meio de diversos médiuns, em diversas localidades, obedecendo a um planejamento maior da espiritualidade superior, trazendo ensinos que se corporificaram num conjunto de princípios filosóficos, científicos e de consequências morais, o Espiritismo, como muito bem assinala Allan Kardec, que coletou, organizou, estudou e publicou esses ensinos, se caracteriza por ser uma doutrina progressista ou evolucionista, não apenas acompanhando as novas ideias, os novos tempos e os avanços científicos, como sendo fomentador dessas novas ideias e desse avanço científico, ao trazer de forma clara a imortalidade da alma, a vida depois da morte, a reencarnação, a lei de causa e efeito, a pluralidade dos mundos habitados, a mediunidade no intercâmbio entre a dimensão espiritual e a material, e a lei divina de evolução que rege o universo. Também devemos assinalar o resgate que o Espiritismo faz das verdades ensinadas por Jesus, tirando o Evangelho da intrincada rede teológica criada pelos homens, trazendo os ensinos morais nele contidos como roteiro para vivermos melhor hoje e no amanhã.
Nos últimos tempos, apesar dos princípios espíritas serem do alcance de todos, e estar o Espiritismo muito bem estabelecido nas obras assinadas por Allan Kardec, tem havido toda uma movimentação por parte de alguns adeptos para inserir adjetivos qualificativos que, por tudo que temos estudado, não vemos razão para tal. Referimo-nos à polêmica entre os que defendem a existência do Espiritismo Progressista e do Espiritismo Conservador, que algumas pessoas insistem em trazer a público, principalmente através de vídeos nas redes sociais. Parece-nos uma discussão de momento, aproveitando a polarização entre as ideologias políticas da atualidade, que nada tem a ver com a doutrina espírita.
O Espiritismo é uma doutrina progressista, é uma doutrina evolucionista, mas daí a acreditar que existam tipos diferentes de espiritismo, vai uma longa distância. Não, não existem vários espiritismos, mas apenas o Espiritismo ou Doutrina Espírita. Se formos por esse caminho teremos que admitir a existência igualmente do Espiritismo Kardecista, do Espiritismo Brasileiro, do Espiritismo de Mesa Branca, do Espiritismo de Umbanda, do Espiritismo de Esquerda e outras denominações que surgem e demonstram, na verdade, falta de conhecimento sobre o Espiritismo. Aliás, já dizia Allan Kardec na introdução de O Livro dos Médiuns, obra lançada quatro anos depois do surgimento da doutrina: “Diariamente a experiência confirma a nossa opinião de que as dificuldades e desilusões encontradas na prática espírita decorrem da ignorância dos princípios doutrinários.”
Temos entre os que se afirmam espíritas pessoas de muito conhecimento e boa comunicação verbal, tornando-se influenciadores pelas redes sociais, contudo, muitos se perdem num intelectualismo vazio, usando de sofismas para defender ideias pessoais, e não exatamente o que nos diz o Espiritismo, mas o fazem de tal maneira, como fazem os espíritos enganadores, pseudo sábios, que conseguem ludibriar os que não utilizam dos critérios de passar todas as comunicações pelos crivos da lógica, da razão, do bom senso e da universalidade dos ensinos, o que vale não apenas para as mensagens dos desencarnados através da mediunidade, mas igualmente para o que escrevem e falam os encarnados em nome do Espiritismo.
Individualmente a pessoa pode ter ideias e pensamentos conservadores ou progressistas, de acordo com o seu livre arbítrio e suas experiências vivenciais, podendo acreditar ou não acreditar no que quiser, mas em contato com o Espiritismo, seu modo de ver e entender a vida deve se transformar, se for o caso, pois abraçará a realidade espiritual da vida, saindo de um pensar materialista para um pensar espiritualista. Se seu modo de pensar era conservador, em padrões mais rígidos e com base numa cultura que ainda admite os preconceitos e discriminações, terá fatalmente de modificar seus pontos de vista; agora, se seu modo de pensar era progressista, terá apenas de ajustar alguns pontos de vista face à imortalidade da alma e à reencarnação, que ampliam seu modo de entender a vida.
O Espiritismo não necessita dos adjetivos progressista ou conservador, e de nenhum outro adjetivo qualificativo. Já não ocorre o mesmo com relação aos seus adeptos, pois os espíritas podem ser classificados de verdadeiros, de falsos, de pseudo sábios, e mesmo de conservadores ou progressistas, pois entendemos que nenhuma transformação moral e intelectual se dá de um salto, da noite para o dia, tudo ocorre de forma gradativa e no seu tempo. Há os que abraçam os princípios da doutrina de forma imediata, espantando de si as velhas ideias que até então defendiam, e há os que mesclam as velhas ideias com os novos princípios, numa mistura que somente o tempo haverá de separar, assim como há aquelas pessoas que adaptam os princípios espíritas às suas ideias e conveniências, cegos à transformação moral que o Espiritismo lhes solicita. Tudo isso de acordo com o livre arbítrio que todos possuímos, e com o maior ou menor adiantamento espiritual já realizado por cada um.
As bases do Espiritismo estão firmemente assentadas nas obras de Allan Kardec, todas revisadas pelos espíritos superiores através de diversos médiuns, sendo falsa a alegação que devem ser revisadas por serem da metade do século dezenove, pois obedecem todos os critérios filosóficos e científicos, não apenas daquela época, mas igualmente da atualidade, quando assistimos os mais diversos ramos científicos fazendo aproximações com o que ensina a Doutrina Espírita.
Deixemos de lado as ideias pessoais, os pontos de vista particulares, que tanto mal já fizeram à humanidade, descaracterizando o Evangelho e muitas verdades científicas, se não quisermos correr o risco de fazer perder o Espiritismo, cuja finalidade maior é realizar a transformação moral da humanidade através da transformação moral dos indivíduos que a compõem, o que somente pode acontecer por meio da aplicação da educação do espírito imortal e reencarnado que somos.

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