quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Novos pensamentos, novas ações

Procuramos elaborar neste texto algumas reflexões e sugestões aos Centros Espíritas e ao movimento espírita em geral, face à queixa de muitos dirigentes sobre o afastamento de frequentadores e tarefeiros das atividades, após a pandemia da Covid. Sabemos que, durante o período da grave pandemia, por força de lei e dos protocolos de segurança sanitária, os Centros Espíritas não puderam realizar reuniões e atividades presenciais, migrando muitas delas para o modo online através da internet. Pouco a pouco, com o advento das vacinas, a pandemia foi passando e as atividades presenciais foram sendo retomadas, tendo cada Centro Espírita deliberado a seu tempo quanto a esse retorno. O fato é que houve diminuição no número de tarefeiros e de frequentadores, e devemos nos perguntar, diante desse fato, qual a causa ou causas desse fenômeno, para podermos estabelecer ações que visem levar o público novamente aos Centros Espíritas e aos eventos promovidos pelo movimento espírita.

Uma primeira observação a fazer, e que constatamos em conversas com dirigentes dos Centros Espíritas de várias regiões do país, é que muitas instituições levaram tempo muito longo para retorno das atividades presenciais. Temos notícia de Centros Espíritas que ficaram com as portas fechadas ou com funcionamento parcial, por dois anos, o que consideramos tempo demasiado longo, propício para causar o afastamento das pessoas. Muitas se acomodaram com o conforto do lar, acompanhando palestras a distância, e agora estudam o Espiritismo apenas e tão somente no modo online. Nada temos contra a internet e suas ferramentas, muito úteis quando utilizadas para o bem, e nós mesmos muito as utilizamos, mas somos seres de relação, e existem atividades que somente obtém bons resultados no modo presencial. Como fazer reunião de desobsessão pela internet?: Como evangelizar crianças e jovens somente por aplicativos? Como esclarecer e consolar apenas por Whatsapp? Como socorrer através do passe apenas a distância, virtualmente? Não é possível desenvolver a assistência e promoção social pela internet.

Algumas pessoas, e num número considerável, alegam que evitam ir ao Centro Espírita por terem medo da aglomeração das pessoas num recinto fechado, qual o da reunião pública de palestra, ou do grupo de estudo, ou ainda da reunião mediúnica Essa alegação carece de fundamento diante da frequência, dessas mesmas pessoas, aos shoppings, aos cinemas, aos teatros, aos supermercados, aos transportes públicos e aos estabelecimentos profissionais em que atuam. Por que somente o Centro Espírita é perigoso? As redes sociais estão repletas de fotos e vídeos de espíritas fazendo turismo, o que não é proibido, ou seja, vive-se normalmente a vida, menos incluindo nela o Centro Espírita. Isso representa uma grande contradição, pois sabemos que o Centro Espírita recebe a proteção das equipes benfeitoras espirituais, e ficar infectado por um vírus ou uma bactéria pode acontecer em qualquer lugar, por qualquer motivo, e não necessária e especificamente no Centro Espírita.

Somos seres relacionais, dependemos uns dos outros, e não há inteligência artificial, robótica, aplicativo, que possa substituir o abraço entre duas ou mais pessoas. Nosso progresso moral e intelectual é realizado na convivência, na troca, no apoio mútuo, e isso fica bastante limitado no modo online. Muitas pessoas estão sofrendo de depressão e outras síndromes por motivo de estarem muito isoladas, muito sozinhas, restritas ao ambiente doméstico e à internet, isso quando tem esse acesso e com boa qualidade.

Precisamos retomar, com urgência, as atividades presenciais no Centro Espírita e também no movimento espírita, voltando a realizar congressos, seminários, encontros, cursos. Se tudo voltou ao normal, inclusive as igrejas católica e protestante (evangélica), porque os Centros Espíritas estão à míngua de público e tarefeiros?

Os dirigentes espíritas precisam rever seus procedimentos, seu entendimento do Espiritismo e do papel de relevância do Centro Espírita. Não é mais possível ficar apenas se queixando da falta das pessoas, sem mudar uma única vírgula em suas ações. E uma ação urgente é melhorar a comunicação, utilizando, por exemplo, as redes sociais como ferramentas de apoio na divulgação. Também utilizar as palestras públicas para falar do Centro Espírita e suas atividades, convidando o público a se engajar nas mesmas, mostrando o que se faz e porque se faz. Naturalmente os dirigentes não podem ser centralizadores, sabendo trabalhar com a delegação de tarefas, sabendo ouvir as ideias, e sabendo implementar com dinamismo o que for bom e útil.

Aqui precisamos dar uma palavra sobre a reunião pública de palestra. É a porta de entrada do Centro Espírita e do próprio Espiritismo. Os temas têm que ser adequados à diversidade do público e suas necessidades. Não cabe, à guisa de exemplo, pedir para o palestrante falar sobre Perispírito e Suas Propriedades, ou Gênese da Criação Divina, temas para grupo de estudo e não para palestra pública, onde melhor se adéquam temas ligados ao Evangelho: Por que Sofremos?; Como Amar o Nosso Próximo; Perdoar é Viver Melhor e assim por diante. Tanto o dirigente quanto o palestrante devem lembrar que tem diante de si pessoas com nenhum ou pouco conhecimento do Espiritismo, e que muitas vezes ali estão para serem esclarecidas e consoladas diante de provas e expiações pelas quais estão passando.

Aliar o presencial com o online não é problema. O problema é ficar apenas com o online. O problema é repetir indefinidamente procedimentos que não estão dando certo, que não alcançam os resultados desejados.

Recomendamos aos dirigentes espíritas a leitura e meditação dos livros Centro Espírita (José Herculano Pires); Centro Espírita, Escola de Almas (minha autoria); As Dimensões Espirituais do Centro Espírita (Suely Caldas Schubert); Centro Espírita: Tendências e Tendenciosidades (César Braga Said), entre outros de real valor e importância, que servirão de base para novos pensamentos e novas ações diante dos tempos atuais e visando um futuro melhor para a humanidade.

Se estão faltando frequentadores, precisamos convidá-los com afetivo acolhimento. Se estão faltando tarefeiros, precisamos qualificar novos tarefeiros. O que não pode acontecer é o Centro Espírita comemorar 50 anos de existência e os dirigentes se orgulharem de fazer tudo igual como era feito naquele tempo. Infelizmente essa história é verídica, presenciada por este que escreve estas linhas.

Dizem-nos os Espíritos Superiores que o Espiritismo, bem compreendido, é o remédio que irá destruir o egoísmo. Estamos bem compreendendo o Espiritismo e, igualmente, o Centro Espírita?


Jesus, mestre dos mestres


 

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Do ponto de partida ao alvo

Numa competição de atletismo, normalmente os atletas se concentram num ponto de partida para iniciar a competição, tendo que atingir um alvo pré-determinado, seja a linha de chegada, a maior distância ou altura possível, e assim por diante. Sempre tem um ponto de partida e um alvo a ser atingido, portanto, há todo um processo em desenvolvimento, e quando o alvo não é alcançado, tenta-se outra vez tantas vezes quanto for possível, seja na mesma competição, de acordo com as regras, ou em competições futuras ao longo do tempo. Assim também com relação ao processo evolutivo do Espírito. O ponto de partida é a criação divina, dotados que somos de todo o potencial intelectual e sentimental, em gérmen, para desenvolver, o que se dá através das múltiplas existências ou reencarnações, e o alvo é chegar à perfeição intelectual e moral, conhecido como estado de Espírito Puro ou Perfeito, do qual temos como exemplo Jesus.

Essa evolução até o alvo passa por estágios muito bem definidos pelo Espírito Lázaro, em preciosa e profunda mensagem escrita no ano de 1862, na cidade de Paris, e que Allan Kardec publicou como parte do capítulo XI da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo. Prestemos atenção ao seguinte trecho:

Disse que o homem, no seu início, tem apenas instintos. Aquele pois, em que os instintos dominam, está mais próximo do ponto de partida que do alvo. Para avançar em direção ao alvo, é necessário vencer os instintos a favor dos sentimentos, ou seja, aperfeiçoar a estes, sufocando os germes latentes da matéria. Os instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos. Trazem consigo o progresso, como a bolota oculta o carvalho. Os seres menos adiantados são os que, libertando-se lentamente de sua crisálida, permanecem subjugados pelos instintos.

Segundo depreendemos, quando o Espírito encontra-se nos primórdios de sua evolução movimenta-se através dos instintos, que lhes são dados por Deus como ferramentas úteis diante dos desafios existenciais, portanto, os instintos não são ruins, mas precisam ser lapidados, desenvolvidos. Quem, neste mundo de expiações e provas, fica demasiadamente ligado aos instintos, prova que está muito mais perto do ponto de partida do que do alvo a ser atingido, ou seja, a perfeição. O processo de evolução consiste em, paulatinamente, mas com força de vontade, vencer os instintos, permitindo o desabrochar dos sentimentos. Segundo Lázaro, não se trata de substituir os instintos pelos sentimentos, mas aperfeiçoar os instintos, que vão se transformando nos sentimentos, pois os instintos nunca são perdidos, mas deixam de estar atrelados unicamente às questões materiais, cedendo terreno para as questões espirituais do viver.

Temos no texto um exemplo maravilhoso desse processo, quando ele compara o instinto à bolota do carvalho, ou seja, à semente que dá origem à árvore. Diante da semente, não podemos imaginar a árvore grande e frondosa que dela irá surgir, mas cujos princípios ativos já estão ali presentes. O mesmo ocorre com o Espírito, inicialmente princípio inteligente do universo, que vai transformando os instintos mediante o progresso intelectual e moral que realiza de encarnação em encarnação, de experiência em experiência, de aprendizagem em aprendizagem. Então, vai adquirindo consciência de si mesmo, passa a pensar, raciocinar, adquirindo o livre arbítrio e responsabilizando-se por suas ações diante da lei divina, até compreender e vivenciar o amor, último estágio, mas também com gradações, para efetivar sua perfeição, para finalmente atingir o alvo a que é destinado pela determinação de Deus, Pai e Criador.

Aprender a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, é a missão que cumpre realizarmos aqui na Terra, transformando nossos instintos em sentimentos. Como exemplo, estudemos um pouco o instinto de conservação, que nos faz ter ações de preservação da vida, como procurar alimento periodicamente para sustentação das energias corporais. Algumas pessoas exageram esse instinto, alimentando-se sem equilíbrio, exageradamente, provocando males orgânicos evitáveis, vivendo presos à materialização do instinto de conservação, prejudicando não somente a si, mas também aos outros e à natureza, pois todo excesso é prejudicial ao progresso do Espírito.

Com relação ao sentimento do amor, tomemos cuidado em não confundi-lo com posse do outro, pois na verdade isso é egoísmo, não é amor, assim como confundi-lo com o sexo é estar muito mais ligado aos instintos do que aos sentimentos, pois ninguém é objeto para satisfação dos desejos animalizados do outro, todos somos Espíritos imortais, filhos de Deus, com os mesmos direitos e mesma destinação.

Nosso ponto de partida já vai longe, não somos mais Espíritos nos estágios iniciais da evolução, mas temos que convir que estamos ainda muito, muito longe do alvo, bem distanciados da perfeição, entretanto, em contrapartida, estamos cientes que o processo evolutivo está em andamento, e que só depende dos nossos esforços acelerar a transformação dos instintos em sentimentos, bem aproveitando a oportunidade encarnatória para mais um passo decisivo rumo ao alvo, que pacientemente nos aguarda, sabedor que um dia chegaremos a ele.


segunda-feira, 20 de novembro de 2023

A palavra divina

Qual é a palavra divina que tudo transforma e faz os seres humanos terem entendimento diferenciado sobre a vida, num nível mais profundo e espiritualizado? Essa palavra é o amor, conforme entendemos na leitura do texto do Espírito Lázaro, no primeiro parágrafo de sua mensagem publicada no item 8 do capítulo 11 de O Evangelho Segundo o Espiritismo:

Feliz aquele que amam porque não conhece as angústias da alma, nem as do corpo. Seus pés são leves, e ele vive como transportado fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou essa palavra divina, - amor – fez estremecerem os povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram ao circo.

Algumas pessoas ainda estranham que os Espíritos, em nome do Espiritismo, façam citação a Jesus, não compreendendo que a Doutrina Espírita é uma doutrina cristã, inserida na história do Cristianismo. Isso acontece por uma falsa apreciação que fazem do Espiritismo, não se dando ao trabalho de conhecer para criticar. Associam o Espiritismo com as comunicações dos Espíritos, acreditando que a doutrina e seus adeptos apenas tratem das manifestações mediúnicas, que misturam com crendices e folclores desprovidos de razão. A mediunidade faz parte do Espiritismo, mas não somente, e nada tem de misticismo ou de sobrenatural. O verdadeiro espírita não aceita qualquer fenômeno como provindo exclusivamente da ação dos desencarnados, e sabe que a mediunidade deve ser utilizada para a promoção do bem, cujo maior exemplo é justamente Jesus Cristo.

Quando o Mestre esteve encarnado entre nós, encontrou uma sociedade humana devastada pelas guerras de conquista e pela escravidão dos conquistados, onde prevaleciam privilégios e os direitos não eram iguais para todos. Uma sociedade em que matar o outro em defesa da honra era comum, onde usurpadores devastavam famílias inteiras, sem que a justiça os alcançasse. Os povos eram politeístas, acreditando na existência de muitos deuses, vários deles misturados com os seres humanos, e o povo judeu, único a acreditar na existência de um deus único, o tinha como sanguinário, senhor da guerra, muitas vezes injusto, confundindo a lei civil-religiosa promulgada por Moisés, com a lei divina.

Nesse contexto, Jesus encarna entre o povo judeu para trazer novos ensinos e corrigir a visão deturpada que tínhamos de Deus e da vida. Inicia por mostrar que Deus é Pai, e como pai é farto de bondade e misericórdia, sempre dando aos seus filhos a oportunidade de arrependimento e reparação; que sua justiça não é olho por olho, dente por dente, mas que solicita de cada um assumir as responsabilidades pelo que faz, portanto, dores e sofrimentos não são castigos divinos, mas apenas consequência do mal praticado por cada ser humano.

Quando perguntado sobre qual é o maior mandamento da lei divina, respondeu categoricamente que é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, estabelecendo o amor como roteiro da vida. E olhando para seus seguidores diretos, disse-lhes: meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem.

O Espiritismo veio ao mundo para resgatar em espírito e verdade os ensinos de Jesus, Como doutrina de fraternidade e solidariedade, não poderia ficar alheio ou distante daquele que é o guia e modelo da humanidade, o Espírito mais perfeito que já esteve aqui na Terra.

Sim, o amor faz os povos estremecerem, pois solapa na base o egoísmo e o orgulho, destruindo todos os preconceitos e discriminações. Somente através do amor conseguiremos viver em paz uns com os outros. Somente através do amor conseguiremos manter uma justiça social adequada à justiça divina. Somente através do amor acabaremos com as guerras e toda forma de violência.

Os mártires, o que equivale dizer os grandes líderes das nações, das religiões, das culturas, diante do amor vão descer ao circo, ou seja, terão de encarar a realidade nua e crua das consequências dos seus desmandos, do seu egoísmo, da sua indiferença, do seu materialismo, pois somos todos iguais, filhos de Deus, e a posição que ocupamos aqui é transitória, pois a vida continua depois da morte, e o apelo do “amai-vos uns aos outros” ressoará nas consciências, que sofrerão o remorso da perda do poder e o achincalhe daqueles que fizeram sofrer. Mas Deus, no seu infinito amor, recolherá essas alma em seu seio e providenciará a bênção da reencarnação, onde, no esquecimento do passado, poderão finalmente compreender o alcance e as boas consequências do amor, a palavra divina que estremece os povos e faz cair os senhores do mundo diante do Senhor da Vida.


quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Demência infantil e palingenesia

Lemos na BBC News, através da internet, reportagem sobre a Doença de Niemann-Pick tipo C (NPC), classificada pela ciência como uma doença rara, de origem hereditária, neurologicamente progressiva e terminal, levando seu portador, normalmente criança na pré infância, a ter a expectativa média de vida de nove anos. A NPC, segundo pesquisas, é resultado da transmissão de duas cópias de um gene defeituoso de ambos os pais para a criança, que tem uma chance em quatro de desenvolver a doença, sendo que uma em cada cento e cinquenta mil crianças tem a doença, mas esses dados ainda são preliminares, pois carecem de maior amplitude no universo pesquisado. A NPC afeta o cérebro e o sistema nervoso da criança com a deterioração progressiva da memória, perda de equilíbrio, insuficiência pulmonar e hepática, atraso no desenvolvimento motor, perda da fala e convulsões. Não existe medicação ou tratamento, sendo que os cientistas estão estudando a possibilidade de uma terapia genética, mas os testes ainda não são conclusivos sobre sua eficácia. A NPC, junto com outras doenças assemelhadas, é classifica como demência infantil.

Ilustrando a reportagem, temos o caso de Renee Staska, australiana e mãe de três crianças, Hudson (4 anos), Holly (2 anos) e Austin (9 meses), todas já diagnosticas com a doença e apresentando, dentro de suas respectivas idades, os sintomas que acabamos de descrever, num quadro familiar doloroso e que nos inspira compaixão, pois os médicos já informaram a mãe que seus três filhos vão morrer, um após outro, e nada existe na medicina, e na ciência em geral, que possa evitar esse prognóstico. Pois bem, diante dessa fatalidade, e levando em conta nossa realidade como almas criadas por Deus, como nos é apresentado pela Doutrina Espírita, perguntamos: o que fizeram esses pais para merecer tão profunda provação? O que fizeram essas crianças para receber esse terrível destino? E ainda mais: a ciência pode alterar a destinação dessas almas? E se pode, como ficam os desígnios divinos?

Colocamos a existência da alma como ponto de partida, pois sem ela, do ponto de vista materialistas do nascer, viver e morrer, simplesmente não teríamos respostas às indagações lançadas no parágrafo anterior, tanto que os cientistas estão atônitos com o caso apresentado pelos filhos de Renee Staska, pois contrariam as leis da genética e as probabilidades de transmissão hereditária dos genes por parte dos pais. Somente a imortalidade da alma, sendo esta pré existente ao nascimento da criança, conjugada com a palingenesia (reencarnação), pode dar resposta adequada, lógica e racional, à existência da demência infantil, por enquanto doença irreversível e terminal.

Entretanto, não basta acreditar na existência da alma. É preciso ter um perfeito entendimento sobre a mesma, que é o ser individual, criado por Deus e destinado à perfeição, pré existente e também sobrevivente, pois o corpo orgânico é apenas vestimenta temporária da alma no mundo material, é seu instrumento de manifestação na dimensão física da vida. O corpo nasce, cresce e morre, não a alma, que desenvolve seu potencial divino sempre, de encarnação em encarnação, sendo imortal, ou, dizendo de outro modo, de existência material em existência material, em novos corpos, novas épocas e novas situações sociais e culturais. A alma nunca perde sua individualidade, nem perde suas experiências e aprendizados. Quando vivendo no mundo ou dimensão espiritual, a alma é conhecida como Espírito; quando vivendo no mundo ou dimensão material, é a alma propriamente. O conjunto Espíritos (que são as Almas desencarnadas) mais Almas (que são os Espíritos encarnados), formam a humanidade, pois todos somos seres humanos, como aprendemos no estudo espírita, sendo a única diferença entre os desencarnados e os encarnados, ter ou não corpo orgânico, portanto, somos Almas ou Espíritos, aqui entendidas como sinônimos.

Mas como podemos viver no mundo espiritual sem ter um corpo? Eis aqui o equívoco que muitos cometem, pois não temos apenas o corpo orgânico, somos também dotados de um corpo espiritual, que a Doutrina Espírita chama de perispírito. Esse corpo é semimaterial, bem mais flexível, molécula a molécula ligado ao corpo orgânico, desprendendo-se deste no fenômeno chamado morte, e, de encarnação em encarnação, é o perispírito responsável por modelar o novo corpo orgânico que o Espírito tomará para si na nova existência. Temos na literatura não espírita, de cunho acadêmico, com a utilização de metodologia científica e experimentação controlada, dezenas de trabalhos publicados comprovando a imortalidade da alma, a intervenção dos Espíritos no mundo físico e a reencarnação, portanto, não é apenas o Espiritismo que proclama essa verdade.

Isto posto, e considerando que as encarnações são solidárias entre si, que o que se faz numa existência acarreta consequências para outra encarnação, tanto no bem quanto no mal, conforme o que dispõe a perfeita justiça divina (recomendamos a leitura do Código Penal da Vida Futura, constante do capítulo 7 de O Céu e o Inferno, de Allan Kardec), podemos agora estabelecer a melhor compreensão sobre as doenças classificadas como demência infantil, como é o caso da NPC.

Palingenesia ou lei da reencarnação

Os antigos gregos, na sabedoria de muitos de seus filósofos, já acreditavam na palingenesia, ou seja, no retorno do Espírito (ou Alma) através de um novo corpo orgânico, crença também partilhada pelo antigo povo judeu, como se pode ver em várias descrições da Torá, o livro religioso sagrado que os cristãos conhecem como Velho Testamento, assim como também encontramos essa crença entre os antigos egípcios. O próprio Jesus, base do Cristianismo, ensinava que era necessário nascer de novo, afirmando que o pregador João Batista era a reencarnação do profeta Elias. O Espiritismo não inventou a reencarnação, nem fez dela princípio exclusivo de sua doutrina, e sim a estudou através de conceituação filosófica lógica e racional, assim como a observou através dos fatos devidamente registrados e catalogados, como também o fez o Dr. Ian Stevenson, da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, não espírita e autor de vários estudos, entre eles o livro Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação, que todo cientista devia conhecer.

Com a imortalidade da alma e a reencarnação temos explicação para a demência infantil, assim como para outras doenças classificadas como hereditárias ou genéticas, que eclodem durante o período infantil, ou mesmo detectadas no útero da mãe, no feto em desenvolvimento, e que já comporta a existência do Espírito, que está no comando da formação do novo corpo através do seu perispírito, lembrando que o corpo espiritual é o modelo organizador biológico, comandando todo o processo. É no perispírito que se concentram as energias mentais do Espírito reencarnante, assim, aquele que cometeu o mal em anteriores existências e tem a consciência culpada, automaticamente impregna o perispírito com essas energias, que eclodirão no novo corpo em formação, o mesmo acontecendo quando o Espírito solicita uma prova específica, que pode ser uma grave lesão ou um defeito genético.

A teoria espírita da reencarnação não invalida as leis da hereditariedade, que funcionam acima de tudo sob determinismo divino, que a ciência humana ainda não foi capaz de compreender. O caso dos filhos de Renee Staska é uma prova do que estamos falando. Para a ciência a probabilidade de todos os filhos terem a mesma doença, que é rara, é mínima, mas aconteceu, e os cientistas não sabem explicar como isso foi possível. Sem a imortalidade da alma, a reencarnação e os mecanismos de funcionamento da justiça divina, tão bem estudados pelo Espiritismo, realmente não há explicação.

No caso em apreço, entendemos que os três Espíritos portadores da doença, seja por expiação (consequência de ações que infringiram a lei divina em existências passadas), seja por prova solicitada, não estão nesse processo por acaso, mesmo porque o acaso não existe, ou seja, existem causas preponderantes que estão além dos meros fatores biológicos. Para a mãe (a reportagem nada informa sobre o pai) é uma prova que, aliás, parece estar levando a bom termo, pois a reportagem informa que está cuidando dos filhos com muito amor, tudo fazendo por eles. E aqui também entra a reencarnação, pois os vínculos afetivos entre pais e filhos não são gratuitos, normalmente remontam de ligações que vem sendo construídas ao longo de múltiplas existências.

A ciência e a justiça divina

Temos ainda sob análise a questão do progresso da ciência na pesquisa e tratamento das doenças hoje consideradas incuráveis, muitas delas levando à morte precoce, como é o caso da NPC. Até que ponto a ciência pode intervir quando se sabe que é uma expiação reencarnatória pela qual o Espírito tem necessidade de passar? Tal é a dúvida que atormenta muitos estudiosos, mas perfeitamente elucidada pelo Espiritismo, ao esclarecer que a ciência é dada ao homem para que este possa contribuir com os desígnios divinos no mundo, melhorando a qualidade de vida do ser humano e sua interação com os recursos naturais do planeta. Vejamos, a esse propósito, a resposta dos Espíritos Superiores na questão 692 de O Livro dos Espíritos:

Tudo se deve fazer para chegar à perfeição. O próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir os seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, favorecer a sua conquista é corresponder àqueles fins.

Deve, pois, o ser humano, através da ciência, fazer todos os esforços para o progresso da vida, para o aperfeiçoamento dos conhecimentos, como a própria lei divina, que é lei de evolução, solicita. Sabemos que esse progresso é paulatino, motivo pelo qual a ciência ainda se debate com fenômenos e doenças que não consegue explicar a contento, cujas raízes estão no Espírito. A aproximação da ciência com a realidade espiritual da vida elucidará muitas doenças, que então alcançarão a devida solução, sempre de acordo com o que cada um deve enfrentar aqui na Terra, pois os desígnios divinos serão sempre soberanos, por serem perfeitamente justos.

Enquanto a demência infantil não tiver tratamento, a não ser terapia fisioterapêutica para amenização de suas consequências, doemos amor aos pais e seus filhos, na forma de orações e apoio fraterno, sabedores que o acaso não existe, e que a misericórdia divina acena para dias mais felizes, mais venturosos no porvir, para todos aqueles que se submetem com resignação e fé a essa provação, pois a vida futura nos acena, promissora, radiante, a nos dizer que aqui na Terra tudo passa, mas na eternidade vive sempre a luz eterna do amor!

Artigo publicado originaslmente na revista O Consolador, edição 849: www.oconsolador.com.br


O Espiritismo no contexto humano

 

Com o avanço científico e cultural realizado principalmente a partir do século 18, novas luzes foram acesas no conhecimento humano, permitindo que em meados do século 19 tivéssemos condições para receber a revelação espírita, após intenso trabalho de Allan Kardec junto aos Espíritos Superiores, via mediunidade, dando surgimento à obra O Livro dos Espíritos e ao consequente lançamento do Espiritismo ou Doutrina Espírita. Uma nova era tinha início, com sérias e profundas implicações na evolução humana, face a uma doutrina que une em seu edifício doutrinário a ciência, a filosofia e a religião, não apenas do ponto de vista material, mas igualmente do ponto de vista espiritual. O Espiritismo, como muito bem afirma Kardec, não é doutrina formulada pela concepção de um homem, e sim doutrina emanada dos ensinos dos Espíritos, que se revelaram através dos fenômenos mediúnicos devidamente observados e estudados, ou seja, é doutrina trazida pelos desencarnados para os encarnados, todos seres humanos, portanto, uma doutrina de ordem natural, sem nada de místico ou sobrenatural.

A finalidade maior do Espiritismo é auxiliar o progresso moral da humanidade, o que somente poderá acontecer conforme o paulatino e progressivo progresso moral dos indivíduos, pois a humanidade nada mais é do que o coletivo dos seres humanos. Não há como transformar as estruturas sociais sem transformar os homens e mulheres, pois são eles que fazem essas estruturas. Nesse contexto devemos entender a necessidade de mudanças profundas na mentalidade, no pensamento e nas ações de cada um, aqui nos incluindo, para que haja um efetivo combate ao egoísmo e ao orgulho, as duas grandes chagas da nossa sociedade.

O Espiritismo vai muito além da mediunidade, da assistência e promoção social, do passe, do tratamento espiritual, que caracterizam muitos centros espíritas. Embora sejam serviços pertencentes à ação espírita, e tenham sua importância, não resumem nem revelam em sua totalidade a doutrina trazida pelos Espíritos. Os dirigentes espíritas precisam se conscientizar da maior importância do estudo doutrinário (conhecimento e prática do Espiritismo), da evangelização da família (da criança ao adulto) e da prática do bem em todas as circunstâncias (fora da caridade não há salvação), para que as pessoas possam realizar seu melhoramento moral.

Os espíritas, em grande parte, ainda não se conscientizaram que o Espiritismo é essencialmente doutrina de educação da alma imortal, solicitando de cada um a transformação moral para que, assim transformados, possam transformar moralmente a humanidade.

Almas imortais, ou Espíritos, somos todos nós e não apenas os que se encontram desencarnados, vivendo no mundo espiritual, e que se apresentam através dos médiuns nas reuniões mediúnicas do Centro Espírita. E como seres humanos que são, apenas desprovidos do corpo material, devem revelar sua superioridade moral nas comunicações que realizam, pois do contrário não devemos levar em conta o que dizem ou o nome que utilizam. Tanto aqui na Terra quando no mundo espiritual existem os ignorantes, os malandros, os pseudo sábios, os enganadores e assim por diante, motivo pelo qual não devemos aceitar tudo o que os Espíritos dizem, devendo passar suas comunicações pelos crivos da razão, da lógica, do bom senso, da universalidade dos seus ensinos e pelos princípios que formam o Espiritismo. Não precisaríamos fazer esta advertência se estudássemos melhor a própria Doutrina Espírita, pois tudo isso está perfeitamente assinalado por Kardec nas obras da codificação espírita.

Muitos espíritas ainda consideram o Espiritismo no rol das revelações messiânicas salvacionistas, fazendo do Centro Espírita uma simples igreja para frequência ritualística, onde recebem as benesses espirituais, sem, entretanto, mudar uma vírgula das suas concepções, dos seus valores e das suas ações no mundo. Não entenderam que a moral espírita não é de fachada, é, pelo contrário, substancialmente interior, exigindo de cada adepto a sua transformação através de esforços contínuos para combater suas más tendências de caráter e desenvolver suas virtudes, único caminho para ter um encontro com a verdadeira felicidade, seja neste mundo ou após a morte, como consequência mesmo desses esforços, e não como uma dádiva celestial especial que não pode ser concedida a quem não a merece. Como nos diz Pedro de Camargo, o saudoso Vinicius, fora da educação não há salvação, estando aqui entendido que falamos da educação moral, como bem estabelecido por Kardec no comentário que faz à resposta dos Espíritos na questão 685a, em O Livro dos Espíritos.

O Espiritismo lança luzes em todas as áreas do conhecimento humano. Se tivesse limites, fronteiras bem marcadas; se se circunscrevesse, por exemplo, à mediunidade, não poderia ter como finalidade a transformação moral de humanidade. Diante disso, não é concebível que os centros espíritas realizem semanalmente apenas uma reunião de palestra pública, uma reunião mediúnica e pouca coisa mais, passando boa parte dos seus dias com as portas fechadas, muitas vezes não tendo grupos de estudo da doutrina e/ou evangelização das crianças e dos jovens, ainda confundindo a caridade com a mera distribuição mensal de cestas de alimentos aos mais pobres, que caracteriza o assistencialismo, sem realizar a promoção social, tão necessária.

Tanto o Espiritismo quanto o Centro Espírita estão situados no contexto humano, no seu caldo cultural, devendo influenciar a cultura materialista que ainda predomina, para que possam os homens e as mulheres adentrarem à sua realidade espiritual, quando terão possibilidade de alterar os runos da humanidade.

Repetimos: em sua essência o Espiritismo é doutrina de educação. Revive o Evangelho em espírito e verdade; demonstra através dos fatos a vida futura após a morte; descortina nosso potencial divino; explica as causas das dores e dos sofrimentos; vislumbra a lei de evolução, mostrando que somos seres perfectíveis em progresso. Tudo isso com bases científicas, filosóficas e de consequências morais como nunca se vira antes na história humana, convidando-nos para o voo da alma, aqui e agora, na transcendentalidade que nos pertence. Está na hora, na verdade desde 1857, dos espíritas cumprirem a missão dada ao Espiritismo, educando-se, transformando-se, para educar e transformar a sociedade humana, levando nosso mundo terreno à categoria de mundo de regeneração, como revelado pelos Espíritos no capítulo terceiro de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Artigo publicado originalmente na revista O Consolador, edição 848: www.oconsolador.com.br

A educação moral dos filhos

Compete aos pais a formação moral dos seus filhos, e nisso está a mais sublime tarefa de um educador, tarefa essa que exige responsabilidade, verdadeira missão a que os pais não podem se furtar, respondendo pelos atos dos filhos enquanto estes se fazem dependentes. Em verdade, pais de consciência culpada pela má educação oferecida a seus filhos vivem dramas de remorso, mesmo quando estes já são adultos.

Há pais que por indolência do próprio caráter, apresentando uma culposa indiferença, estimulam os caprichos dos filhos, não lhes corrigindo as más tendências verificadas desde os primeiros instantes, porque a criança é um espírito que já traz as potencialidades a serem desenvolvidas, as tendências inatas que cumpre serem desenvolvidas, se boas, ou corrigidas, se más. Isso é competência primeira dos pais, educadores da alma infantil que lhes procura para receber no seio da família a preparação para o viver social.

Num mundo em que as más tendências do caráter predominam, a correção das mesmas é entendida como sendo o uso de métodos violentos. Tenta-se educar pelas surras, pelos castigos corporais, pelo uso de vocabulário degradante, quando a educação está no amor conjugado com a disciplina, está nos bons exemplos a que os pais devem se obrigar em dar a seus filhos.

Como podemos exigir o cumprimento de obrigações, como podemos deplorar comportamentos, quando somos os primeiros a não cumprir com essas mesmas obrigações e quando nossos exemplos não servem para serem seguidos?

Quantas vezes temos surpreendido mães utilizando de violência física acompanhada de palavrório fútil, porque seu filho pronunciou uma palavra de baixo significado? Como pode ela exigir cuidado com as palavras quando não dá exemplo? O filho, com naturalidade, pensará: “se minha mãe pode usar essas palavras, por que eu não posso?”. Mas não lhe oferecem explicações, apenas atitudes violentas, nem se preocupam em realizar uma autoeducação que seria muito mais proveitosa para os olhos da infância.

Estimulam-se vícios os mais diversos e depois se queixam do comportamento que os filhos observam na família e nos outros meios sociais. Na verdade os pais deveriam queixar-se de si mesmos. Deveriam realizar um exame de consciência, não quanto aos esforços de proporcionar a educação ou a ilustração da inteligência, mas em relação ao que fazem no capítulo da educação moral.

Mesmo quando os pais revelam certo conhecimento do seu papel na formação dos filhos, desviam a educação para a total liberdade, deixando os filhos livres para fazer o que quiserem, pois assim eles crescerão sem traumas e sem as interferências prejudiciais da autoridade que pode lhes cercear o desenvolvimento. Essa explicação não tem respaldo no bom senso nem nas pesquisas pedagógicas. A liberdade sem responsabilidade cria verdadeiros monstros. Como aquelas crianças que, numa visita, precisam ser agarradas pelos pais para não destruírem a casa alheia, de tão acostumadas a agirem plenamente em liberdade, sem consideração à propriedade e aos direitos do semelhante.

Ou aquela criança sem cerimônia, que não diz para onde vai, com quem vai, e chega como autoconvidada, sem dar maiores satisfações, demonstrando que respeito é matéria ultrapassada no processo educacional. Será mesmo?

Estes exemplos, que denominamos cenas de educação familiar, acontecem sob a indiferença ou o beneplácito dos pais, que a tudo assistem sem qualquer reação, espantando-se mais tarde quando os filhos os deixam de lado e enveredam pela filosofia materialista de enxergarem apenas a si mesmos, sem outro sentimento. Esse é o resultado do descuido com a formação do caráter, afastando o educando da sua realidade de alma criada por Deus para o progresso, o que depende nesta existência da tarefa educacional dos pais, que, como já o dissemos, tem a missão de educar e não simplesmente de cuidar.


O ideal da formação moral e a família

Desde que compete aos pais educar seus filhos, tendo nisso uma missão pela qual devem responder, e sendo a educação o desenvolvimento das potencialidades morais e intelectuais, onde os exemplos e sentimentos afetivos preponderam na formação do caráter, é, sem dúvida, que encontramos na família o ideal da educação moral.

A criança, nos primeiros estágios de seu desenvolvimento, é dependente dos cuidados e dos afetos dos pais, sendo fortemente influenciada pelos estímulos que recebe por parte dos que a devem proteger e amar. Ninguém e nenhuma instituição pode substituir as noites mal dormidas de quem vela a cabeceira do filho. Quem fornece as primeiras palavras a serem ouvidas pelo recém-nascido? Quem lhe entrega sorrisos, abraços, carinhos? Quem chora junto com o choro da criança, ainda um ser frágil lutando por dominar o organismo físico? São os pais, missionários da educação moral de seus filhos no ambiente familiar.

A formação moral é feita através de alguns elementos que sobram na organização familiar.

O primeiro deles é o exemplo, empregado pelos pais até mesmo de forma automática, semiconsciente. Os pais são espelhos em que os filhos se refletem, por isso os cuidados com as atitudes e as palavras diante deles e também diante dos outros, pois o exemplo não pode ser um aqui e outro ali. No exemplo encontramos a força da educação moral.

O segundo elemento encontrado na família é a conduta afetiva. Para uma boa formação moral é imprescindível integrar o educando numa atmosfera de bons sentimentos. É necessário que ele se sinta aceito, estimulado a mostrar quem ele é e quais são suas tendências e suas potencialidades. O afeto entre pais e filhos, educadores e educandos, possui alcance moral muito maior que qualquer recurso didático.

Temos o terceiro elemento, o sentido de união, muito importante para fazer com que os filhos, sentindo-se protegidos, amparados e estimulados, possam dar seus primeiros passos com segurança, sabedores que os pais ali estão para ampará-los quando necessário, mas sem coibir-lhes as experiências, os eventuais erros e acertos, experiências essas que serão feitas procurando-se sempre o melhor para um caráter bem formado, consciente.

A família é detentora dos elementos primordiais para levar a efeito a educação moral, entretanto, nem sempre consegue resultados satisfatórios, isso porque a família vem sofrendo um processo de afrouxamento de seus laços, tendo perigosamente caminhado para os interesses egoístas e imediatos das coisas que dizem respeito somente ao prazer material, e de forma individual. Siga-se o caminho dos interesses coletivos e espiritualistas e a missão educadora da formação moral será resgatada por essa mesma família.

Pelo fato de termos na família o ideal da formação moral não se segue que somente ela possa trabalhar esse aspecto, primordial, da educação.

A moral também pode ser, e deve ser, objeto da escola. As metodologias pedagógicas só podem ser consideradas completas levando em conta a educação da moral.

Na educação, a família não pode ser desprezada. Sua influência é por demais sensível, e boa parte dos males do fracasso do ensino se deve a termos relegado a família a plano secundário, desligando-a da escola, do sistema escolar, das ideias educacionais e das filosofias da educação, e, numa outra vertente, retirando dela a parte que lhe cabe na formação da estrutura da sociedade.

Enquanto a família estiver reduzida a um grupo que habita momentaneamente uma casa, sem maiores vínculos, estaremos envolvidos com graves questões que somente uma visão da educação moral do homem poderá resolver, e que o Espiritismo tão bem elucida com a imortalidade da alma a reencarnação e a destinação futura do espírito que hoje se encontra na experiência da existência humana.

Artigo publicado originalmente na revista O Consolador, edição 846: www.oconsolador.com.br

Do que necessitamos para educar?


 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Fraternidade e solidariedade

Todos sabemos dos problemas que afligem a humanidade, em maior ou menor escala, assim como temos noção dos dramas íntimos que fazem sofrer as pessoas, Dores, aflições e sofrimentos da mais variada ordem acometem os seres humanos em todas as circunstâncias e em todos os tempos, entretanto, não é porque estamos encarnados num mundo de expiações e provas, adequado ao progresso moral que fizemos até o momento, que devemos nos entregar a essas aflições, dores e sofrimentos, como se nada pudesse ser feito para minorá-las, pois Deus, nosso Pai, muito nos ama e, através desse amor, nos entrega um potencial, chamado potencial divino, para colocarmos em ação na busca incessante da felicidade.

Tal é o entendimento dos Espíritos Superiores, como lemos no texto do Espírito Lázaro, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 11, item 8:

A Lei de Amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais. Feliz aquele que, sobrelevando-se à humanidade, ama com imenso amor os seus irmãos em sofrimento!

O amor é lei divina a reger todo o universo, ou todos os universos, levando em consideração as realidades materiais e espirituais da vida. Com esse entendimento o Espiritismo nos explica que Deus não castiga seus filhos, pelo contrário, dá-nos sempre novas oportunidades de repararmos o mal cometido e fazermos o bem, o que não nos isenta de assumir as responsabilidades pelas consequências do mal realizado, assim como recebermos os louros pelo bem desenvolvido. Tal é a regra: temos sempre de assumir as consequências do que fazemos. Se fizermos o mal, a consequência não pode ser a felicidade, pois esta somente pode ser alcançada pela prática do bem. Se estamos sofrendo, não é por castigo divino, pois a semeadura é livre mas a colheita é obrigatória.

Esse entendimento da Doutrina Espírita é aplicável tanto aos indivíduos, como igualmente às coletividades humanas, pois se temos responsabilidades individuais, temos também responsabilidades sociais. Somos seres de relação e não vivemos isolados, interagindo constantemente com os outros e com a natureza, portanto, somos responsáveis pelo que acontece com os outros e com o meio ambiente, não sendo lícito transferir essa responsabilidade para as autoridades públicas, para os empresários e assim por diante. Para darmos um exemplo, normalmente quem suja as ruas, espalhando detritos os mais diversos, somos nós, individualmente ou em grupo, descartando o lixo sem cerimônia pelas calçadas, quando existem lixeiras, existe o serviço de coleta pública do lixo, quando podemos perfeitamente guardar o lixo e levá-lo para casa, quando for possível, para o descarte correto. E devemos lembrar, nesse exemplo, a necessidade e importância do descarte seletivo do lixo, separando o que é reciclável do que é orgânico. Tudo isso é de nossa responsabilidade individual, refletindo no social.

Lázaro nos diz que a aplicação da lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres, com a consequente extinção das misérias sociais. Ele não está afirmando que a lei de amor acabará com a individualidade, mas sim com o egoísmo que ainda nos caracteriza, fazendo com que entendamos a necessidade da união, da fraternidade e da solidariedade, na fusão dos indivíduos pelo bem coletivo, para todos, sem nenhuma espécie de distinção. Isso equivale a dizer que a vivência dos ensinos morais de Jesus levará a nós seres humanos, que somos espíritos imortais reencarnados, a extinguir, com o tempo, toda e qualquer miséria social, pois numa verdadeira civilização ninguém deve morrer de fome ou sofrer qualquer tipo de violência.

E Lázaro vai ainda mais longe no seu pensamento: encontra a felicidade, aqui mesmo na Terra, aquele que não se deixa levar pelos sofrimentos, colocando em ação uma resignação ativa, amando seus irmãos e confiando na providência e misericórdia divinas. Portanto, temos um roteiro bem estabelecido para viver melhor, que requer, naturalmente, esforços para implementação da fraternidade e da solidariedade, quando faremos a construção paulatina da justiça social, da paz e da felicidade entre os homens.

O ensinamento espírita, trazido pelos Espíritos Superiores, analisados e comentados por Allan Kardec, destaca a lei de amor, sempre vigente, como luz da nossa vida, afinal, eis aqui a profundeza desse ensino, somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai, e irmãos devem se esforçar por se entenderem, ou seja, em se amarem. É a falta do amor uns pelos outros que nos lança na dor e no sofrimento, prevalecendo o egoísmo e o orgulho nas relações, gerando aflições as mais diversas como a guerra, a miséria, a discriminação, o preconceito, a injustiça, os privilégios e assim por diante.

Se queremos estabelecer a felicidade no mundo terreno, e também no mundo espiritual, o único caminho é o amor, começando por fazer da vida um terreno fértil para o cultivo da fraternidade e da solidariedade.


segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Amor e evolução

Lançada em 1864, a obra O Evangelho Segundo Espiritismo, assinada por Allan Kardec, é totalmente dedicada ao estudo dos ensinos morais de Jesus, levando em conta a imortalidade da alma, a reencarnação, a vida futura, entre outros princípios que formam a Doutrina Espírita, mesclando em seu conteúdo as passagens evangélicas, os comentários de Kardec e as instruções dos Espíritos. No capítulo 11, voltado para o ensinamento sobre o amor ao próximo, encontramos bela e profunda mensagem do Espírito Lázaro, transmitida no ano de 1862, na cidade de Paris (possivelmente em reunião promovida pela Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas), onde ele traz informações relevantes sobre o amor e sua evolução.

Transcrevemos, para em seguida realizarmos a sua compreensão, o início do primeiro parágrafo, quando esse amigo espiritual elucida: “O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento”.

A primeira informação em destaque nos diz que o amor resume toda a doutrina de Jesus, ou seja, tudo o que Ele ensinou e exemplificou tem por base o amor, motivo pelo qual podemos afirmar que a missão do Cristo foi trazer a Lei de Amor, que é lei divina, para nosso conhecimento, o que fez com tanta profundidade que transformou a humanidade em antes e depois dele. Mesmo as doutrinas religiosas não cristãs reconhecem Jesus como um grande profeta ou um grande missionário. O líder hindu Mahatma Gandhi, que, ressaltemos, não era cristão, confessava ser um admirador do Evangelho, dizendo que para os homens bem viverem bastava seguir o Sermão da Montanha, famoso discurso do Mestre dos mestres.

Na sequência de sua fala, Lázaro nos diz que o amor é o sentimento por excelência, significando que o amor é a expressão máxima da disposição afetiva entre os seres, pois quem ama será sempre solícito, fraterno, solidário, compreensivo, responsável para com o outro, em qualquer circunstância. Esse é o verdadeiro amor. Entretanto, na sequência de seu texto, vemos que o amor possui gradações, que ele cresce através de estágios sucessivos, que ele é passível de desenvolvimento.

Sabemos que uma das principais leis divinas é a da evolução, que tudo, sem exceção, evolui, o que não é menos certo para os seres humanos. Para termos essa comprovação basta olhar para nós mesmos que, com o passar do tempo, realizamos novos aprendizados, ganhamos novas experiências e, a não ser por teimosia e orgulho que ainda cultivemos, estamos sempre nos desenvolvendo, crescendo, tanto no que diz respeito à inteligência, à aquisição de conhecimentos, quanto também à moral, reavaliando valores e condutas. Se esse desenvolvimento, principalmente moral, muitas vezes se apresenta extremamente lento, é por nossa própria culpa, ao criarmos uma zona de conforto com base no egoísmo e no orgulho, o que nos afasta do sentimento maior do amor.

O benfeitor espiritual traça uma linha evolutiva do ser humano em relação ao amor: primeiro, temos instintos e neles nos movimentamos; depois, com ganhos de experiências e aquisição de conhecimentos, nos movimentamos nas sensações; e ainda após, e finalmente, moralizados e intelectualizados, nos movimentamos no sentimento. Como a evolução é realizada tanto individualmente quanto coletivamente, temos na humanidade uma mescla desses três graus evolutivos do amor, com predominância, na atualidade, do segundo estágio, ou seja, vivemos mais através das sensações, pois muito ainda estamos ligados ao corpo e às coisas materiais. Entretanto, somos espíritos, somos imortais, somos o potencial divino em transição para conquista da paz e da felicidade, o que não se dará aqui na Terra, mas em outros mundos, mais evoluídos.

O Espiritismo é muito claro quanto a esse tema, apresentando todas as provas da nossa imortalidade, da vida futura que nos aguarda depois da morte, e da comunicabilidade existente entre os desencarnados (os espíritos) e os encarnados (nós, os seres humanos), o que, em outras palavras, significa que todos somos Espíritos, ora encarnados, vivendo no mundo material, ora desencarnados, vivendo no mundo espiritual. E o que estamos fazendo aqui? Essencialmente, aqui estamos para aprender a nos amar.

Para aprendermos a nos amar somente um caminho é seguro: colocar em prática, paulatinamente e gradativamente, os ensinos morais de Jesus, que se encontram no Evangelho. Fazendo isso, conseguiremos escalar do instinto para a sensação, e da sensação para o sentimento. Conseguiremos amar o nosso próximo como a nós mesmos, e então estaremos aptos para amar a Deus acima de todas coisas, e toda e qualquer forma de violência contra nosso semelhante e contra a natureza, será apenas história do passado evolutivo da humanidade.


Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...