segunda-feira, 29 de abril de 2024

O desenvolvimento da criança

A leitura sobre as principais teorias do desenvolvimento da criança, revela que a base do pensamento é uma visão estritamente biológica sobre o homem, ou seja, temos até o presente momento uma visão materialista sobre a chamada psicogênese. A concepção espírita é espiritualista, considerando o homem uma alma imortal e a vida como criação de Deus. E antecipando-se a todas as formulações teóricas do século vinte, no ano de 1857 o Espiritismo assentava as bases do desenvolvimento psicogenético da criança, como podemos verificar na questão 351 de O Livro dos Espíritos:

No intervalo da concepção ao nascimento, o Espírito goza de todas as suas faculdades?

Mais ou menos, segundo a fase, porque não está ainda encarnado, mas ligado ao corpo. Desde o instante da concepção, a perturbação começa a envolver o Espírito, advertindo-o assim de que chegou o momento de tomar uma nova existência; essa perturbação vai crescendo até o nascimento. Nesse intervalo, seu estado é mais ou menos de um Espírito encarnado, durante o sono do corpo. À medida que o momento do nascimento se aproxima, suas ideias se apagam, assim como a lembrança do passado se apaga desde que entrou na vida. Mas essa lembrança lhe volta pouco a pouco à memória, no seu estado de espírito.

A concepção espírita visualiza o início do processo de desenvolvimento do homem no instante da concepção, ou seja, quando temos a união da alma com o corpo. Embora envolvido pela perturbação do processo de preparação e ligação com o embrião, o Espírito conserva suas ideias, nunca perde sua individualidade. No tocante às ideias, aos conhecimentos e à percepção de si mesmo, vai entrando pouco a pouco num estado de sonolência, onde tem dificuldade de manter-se pleno, pois psiquicamente está transferindo o passado para o subconsciente, deixando na consciência apenas as estruturas necessárias para desenvolver a nova personalidade.

A resposta dada à pergunta de Kardec levanta ainda outra questão: nada se perde, pois se assim acontecesse, já não teríamos a individualidade imortal que preexiste e subsiste, e sim uma nova alma começando do início, o que não sucede, pois o corpo procede do corpo, mas o espírito não procede do espírito. Na medida em que, após o nascimento, domina o corpo, o Espírito readquire, em seu estado normal, a lembrança de seu passado, sempre de acordo com suas necessidades e sua missão na Terra, sem que isso venha a prejudicar sua atual existência.

O psiquismo do ser humano é, portanto, complexo, pois é um ser inter-existente: é uma alma num corpo. Ao mesmo tempo que inicia a aquisição de novos aprendizados, trabalha com os aprendizados que já traz das suas ulteriores existências, que espocam nas ideias inatas e nas tendências de caráter. E após o nascimento? Como se dá o desenvolvimento desse ser? A visão espírita tem semelhança com a visão dos teóricos da ciência? A resposta a tudo isso está na questão 352. Vejamos:

No instante do nascimento o Espírito recobra imediatamente a plenitude de suas faculdades?

Não: elas se desenvolvem gradualmente, com os órgãos. Ele se encontra numa nova existência; é preciso que aprenda a se servir dos seus instrumentos: as ideias lhe voltam pouco a pouco, como um homem que acorda e se encontra numa posição diferente da que ocupava antes de dormir.

Temos em O Livro dos Espíritos a psicogênese da criança explicada muito antes do aparecimento das teorias do desenvolvimento psicológico e isso numa época, metade do século dezenove, onde ainda se considerava a criança como uma miniatura do adulto. Entendamos o que os Espíritos Superiores responderam a Allan Kardec. Todos os teóricos falam que a criança passa por determinados estágios de desenvolvimento, e que esses estágios estão intimamente ligados às faixas etárias, de acordo com o natural desenvolvimento dos órgãos. Assim as etapas de crescimento da criança devem ser respeitadas no processo educacional. O Espiritismo já afirmava em 1857 que o Espírito só recobra suas faculdades paulatinamente, de acordo com o desenvolvimento dos órgãos físicos do novo corpo, ou seja, ele só pode se manifestar – pensar e agir – de acordo com o que lhe permite o corpo. Como este está em formação, em crescimento, durante a infância o Espírito pensará como criança, agirá como criança, elaborando as estruturas mentais de sua nova personalidade. É assim que não poderá elaborar um pensamento lógico-matemático mais complexo quando está na faixa de seus 2 ou 3 anos de idade, mas que isso começa a ocorrer, por etapas, na medida em que o corpo, e neste caso todo o complexo cerebral, vai lhe dando suporte para tais pensamentos.

A gênese psicológica do ser transforma-se totalmente com a inserção da Alma (Espírito) no processo, pois as ideias, os conhecimentos, os aprendizados, o planejamento reencarnatório, tudo está arquivado nela, nada se perde. Na medida em que controla o corpo com seus instrumentos de manifestação e comunicação, a alma extrai de seu subconsciente tudo o de que precisa para sua nova existência, mas não o faz sozinha, pois necessita dos estímulos da educação que lhe é propiciada no lar e na escola, até que ali pelos sete/oito anos completa esse processo e começa a se revelar tal como realmente é, ou seja, deixa aflorar plenamente suas tendências, mas que então já estarão transformadas (se negativas) ou potencializadas (se positivas), pela educação recebida.

É fantástico esse estudo. Compreender a psicogênese da criança é fundamental para melhor educar, ainda mais com a visão espírita da imortalidade do ser. Passado, presente e futuro pertencem à individualidade espiritual que desenvolve nova personalidade e é colocada por Deus na dependência daqueles que já passaram pelo processo, já realizaram seus estágios no mundo infantil, e sabem que tudo depende não apenas do respeito a esses estágios, mas dos estímulos e da convivência social que são propiciados a essa alma.


segunda-feira, 22 de abril de 2024

As leis morais e a educação do espírito

Do que mais necessitamos para melhor viver? A resposta ecoa cristalina desde a época em que Jesus esteve conosco: amor! Entretanto, os ensinos do Mestre aconteceram há mais de dois mil anos, e ainda hoje vivemos com ódios, injustiças e violências, inclusive no seio da família, forçando-nos a realizar outra indagação: por que não conseguimos nos amar? São muitas as causas, ou fatores, mas temos uma certeza ao estudar o Espiritismo: a causa das causas, a base de todos os males, é o egoísmo. É esse vício que devemos combater e destruir com todas as forças, mas isso é o que menos se faz, e o instrumento eficaz para realizar a destruição do egoísmo é a educação moral. Não somos nós que estamos dizendo isso, e sim os Espíritos Superiores, na questão 917 de O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec pergunta: Qual é o meio mais eficaz de se destruir o egoísmo? A resposta é assinada pelo espírito Fénelon, da qual destacamos o seguinte trecho:

De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar é o egoísmo, porque se liga à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não pode libertar-se. Tudo concorre para entreter essa influência; suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material, e sobretudo com a compreensão que o Espiritismo vos dá quanto ao vosso estado futuro real e não desfigurado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, as usanças e as relações sociais. O egoísmo se funda na importância da personalidade; ora, o Espiritismo bem compreendido, repito-o, faz ver as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma perante a imensidade. Ao destruir essa importância, ou pelo menos ao fazer ver a personalidade naquilo que de fato ela é, ele combate necessariamente o egoísmo.”

Prestemos atenção: “o egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material”. Hoje em dia muitas pessoas vivem através de desejos materiais os mais diversos, como se a vida se resumisse ao nascer, viver e morrer, mas o Espiritismo nos descortina a vida futura depois da morte, demonstrando que somos espíritos imortais, resgatando as lições evangélicas como roteiro iluminado para nossa caminhada evolutiva, pois a Doutrina Espírita entende que todos somos destinados por Deus para a perfeição, tendo cada um de responder pelo que faz e deixa de fazer, no campo do bem e do mal. Ora, se a vida física é curta, sendo a morte uma fatalidade da qual ninguém escapa, e sabendo que tudo o que é da matéria aqui fica, não nos acompanhando para o outro lado da vida, por que não priorizar as aquisições morais, que irão nos acompanhar por toda a eternidade?

Diante da resposta, Kardec realiza um profundo comentário, do qual vamos ressaltar as seguintes palavras:

A cura poderá ser prolongada porque as causas são numerosas, mas não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela raiz, ou seja, com a educação. Não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas. Essa arte, porém, requer muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter a ciência para aplicá-la de maneira proveitosa. Quem quer que observe, desde o instante do seu nascimento, o filho do rico como o do pobre, notando todas as influências perniciosas que agem sobre ele em consequência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que o dirigem, e como em geral os meios empregados para moralizar fracassam, não pode admirar-se de encontrar no mundo tanta confusão. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e ver-se-á que se há naturezas refratárias, há também, em maior número do que se pensa, as que requerem apenas boa cultura para darem bons frutos.”

Para termos predominância da vida moral na humanidade, necessário se faz o desenvolvimento da educação, entendida esta como arte de formar o caráter, corrigindo as más tendências que o espírito apresente, e desenvolvendo suas virtudes. É a educação do espírito, ou educação moral, proposta pedagógica do Espiritismo para o hoje e o amanhã, pois temos que ter visão de futuro, afinal a reencarnação nos mostra que ainda teremos que voltar para este planeta, ainda somos necessitados de novas experiências existenciais físicas.

O entendimento espírita é claro e objetivo: somente através da educação poderemos transformar os indivíduos que, por sua vez, moralizados e espiritualizados, transformarão a sociedade. Como se entende, não está o Espiritismo falando de educação intelectual, que tem sua importância, mas que por si só não possui a força necessária para as transformações morais; está falando da educação afetiva, emocional, da educação do sentimento, com base no Evangelho, para que consigamos colocar em prática o pilar essencial da educação: aprender a fazer ao outro somente o que desejamos que ele nos faça. Não é por outro motivo que destacamos como conteúdo curricular essencial do serviço de evangelização espírita, e também da educação familiar, as leis morais contidas na terceira parte de O Livro dos Espíritos, e os ensinos morais de Jesus, explicados em O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Precisamos de amor em nosso coração, saindo da esterilidade de discussões filosóficas e ideológicas para a vivência da caridade, da fraternidade e da solidariedade. Esse é o caminho apontado pelo Espiritismo, dando-nos, com Kardec, a proposta pedagógica da educação do espírito.


segunda-feira, 15 de abril de 2024

A educação infantil e o espírito

O Espiritismo, ao declarar que a criança é um Espírito reencarnado, provoca uma revolução pedagógica de profundidade, ao mesmo tempo em que transforma a práxis educacional, entregando à humanidade a Educação do Espírito, com bases na imortalidade e nas vidas sucessivas, e isso precisa estar plenamente aplicado no Serviço de Evangelização Espírita, abrangendo do bebê ao adulto, que toda instituição espírita deveria considerar como prioridade. Infelizmente nem sempre é o que acontece. O tratamento espiritual, a reunião mediúnica, a distribuição de gêneros alimentícios e roupas aos mais necessitados, entre ouros serviços, absorvem, muitas vezes, de tal modo os colaboradores, que a evangelização fica relegada a segundo plano. Não estamos fazendo nenhuma afirmativa contrária a qualquer serviço desenvolvido pelo centro espírita, pois todos são válidos e têm sua importância, mas entendemos que no contexto doutrinário espírita a evangelização deve ter caráter de urgência e, portanto, de prioridade.

Vejamos o entendimento dos Espíritos sobre a educação infantil, para melhor compreensão e aprofundamento do tema. Iniciemos com Emmanuel, no livro O Consolador, questão 109, psicografado por Chico Xavier: “… o período infantil é o mais propício à assimilação dos princípios educativos. Até os sete anos, o espírito ainda se encontra em fase de adaptação para nova experiência que lhe compete no mundo. Nessa idade, ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica.”

A educação da criança é fundamental, e quanto a isso estão concordes inclusive os educadores não espíritas, pois é na infância onde melhor se dá a formação cognitiva e afetiva, marcante para o resto da vida. O descuido na educação da criança, ou sua educação através de valores invertidos e maus exemplos por parte dos educadores – pais e professores – acarreta variados problemas individuais e sociais, e sabemos que na sua jornada evolutiva, os espíritos que aqui reencarnam ainda trazem tendências morais necessitadas de correção, pois têm por base o egoísmo, motivo pelo qual Allan Kardec alerta da necessidade da aplicação da educação moral.

Passemos agora a palavra ao médium Divaldo Franco, sob orientação da benfeitora espiritual Joanna de Ângelis, no livro Sublime Sementeira: “Sendo a Doutrina Espírita a mais excelente mensagem de todos os tempos – porque restauradora do pensamento de Jesus Cristo em forma compatível com as conquistas do conhecimento moderno –, é óbvio que a preparação das mentes infantojuvenis à luz da evangelização espírita é a melhor programação para uma sociedade feliz e mais cristã.”

O espírita que tiver alguma dúvida sobre a urgência e prioridade da preparação das mentes das crianças e dos jovens através da mensagem trazida pelo Espiritismo, demonstra não ter estudado a doutrina suficientemente, não lhe apreendendo os princípios com a devida profundidade, pois o Espiritismo é, e não nos cansamos de repetir, doutrina de educação do Espírito imortal. Educação que liberta as consciências, que combate as más tendências morais, que desenvolve as virtudes, que canaliza a inteligência para a prática do bem para todos, que tem no Evangelho o roteiro de conduta ética que devemos ter uns para com os outros.

Destaquemos agora a palavra do Espírito Camilo, através do médium José Raul Teixeira, no livro Desafios da Educação: “O pensamento do Espiritismo é que o ser que os genitores conduzem nos seus braços carinhosos não passa de milenário viajor da evolução para o Criador, estando na Terra para o esforço da autossuperação, da reestruturação do caráter moral e abrilhantamento intelectual, como aluno que assiste às classes no grande educandário do mundo. (…) A infância bem educada dará ensejo à juventude bem estruturada, em termos gerais, o que produzirá o surgimento de uma sociedade de adultos capaz de cultivar e cultuar a honradez, o trabalho, a honestidade, a fraternidade e a fé robusta, porque amparada pela razão e pelo altanado sentimento.”

O combate a todos os vícios, a todas as formas de violência, à desonestidade e corrupção, enfim, aos problemas e mazelas da sociedade, somente poderá ser eficaz se for feito através da aplicação da educação moral, e levando em conta que a criança não é o corpo orgânico, e sim o Espírito, ou como queiram, a Alma, preexistente ao nascimento e sobrevivente à morte, como muito bem ensina o Espiritismo, tanto pelo raciocínio filosófico, quanto pela pesquisa científica dos diversos fenômenos mediúnicos. O amanhã depende do hoje. O futuro da humanidade será o que fizermos agora no campo da educação.

Fazemos um apelo às mentes e aos corações dos espíritas, que são os verdadeiros cristãos, para que se debrucem sobre a educação infantil, na família e na escola, assim como no centro espírita, elegendo a educação do espírito como roteiro para salvar a humanidade, cooperando assim com Deus e com Jesus, nosso governador espiritual, para que as sombras que hoje encobrem os seres humanos, numa volúpia desenfreada pelo poder e pelo sensualismo a qualquer custo, sejam substituídas pelas luzes do Evangelho redivivo pela doutrina espírita.

A educação infantil, nos moldes da educação do espírito, em recebendo o ser reencarnado para mais uma experiência vivencial, haverá de contribuir decisivamente para que ele dê um gigantesco passo à frente, redimindo-se do passado delituoso, e avançando resoluto para a sua perfeição, tendo como pilares essenciais da sua conduta o “amai-vos uns aos outros” e o “fazei aos outros somente o que quereis que os outros vos façam”.


segunda-feira, 8 de abril de 2024

Aqui nunca teremos a evangelização infantojuvenil

O título deste texto reproduz o que disse certo presidente de um centro espírita, quando indagado sobre o serviço de evangelização para as crianças e os jovens. Foi categórico: “Aqui a prioridade é a mediunidade, o tratamento espiritual e o atendimento às famílias carentes, nada temos com a evangelização espírita, não faz parte das nossas atividades”. E justificou com a alegação que a educação é problema da família e da escola, e que o centro espírita não tem condições físicas e humanas para querer desenvolver essa tarefa. Respeitamos seu entendimento, contudo, alertamos que ele está na contramão do Espiritismo, que o centro espírita deveria representar. Nesse caso, não representa.

O Espiritismo é doutrina eminentemente educadora do espírito imortal, hoje reencarnado, devendo orientar esse espírito no combate aos seus vícios e no desenvolvimento das suas virtudes. Isso é tarefa educacional. E o roteiro para melhor execução dessa tarefa é o Evangelho, com o melhor entendimento dos ensinos morais de Jesus, que o Espiritismo veio resgatar. Temos um precioso conteúdo doutrinário, com temas relevantes, que não pode ser desprezado ou minimizado, mesmo porque se assim o fizermos, deixaremos de ser espíritas, ou pelo menos, na classificação apresentada por Allan Kardec, seremos falsos espíritas.

É um grande equívoco afirmar que a educação é um problema somente da família e da escola. Para começo de conversa, educação não é problema, é solução. É através da educação bem aplicada, integrando o cognitivo com o afetivo, que alcançaremos a efetivação de um novo paradigma na humanidade, como está muito bem explicado pelos espíritos no conteúdo de O Livro dos Espíritos, e nos comentários feitos por Kardec, como, por exemplo, nas questões 685A e 917, onde aprendemos que essa educação é a educação moral, aquela que corrige as más tendências, cria bons hábitos e se faz arte de formar o caráter. A educação moral deve orientar os esforços da família, e também da escola, na formação das novas gerações.

Muitas pessoas, e disso não escapam muitos espíritas, nem mesmo dirigentes dos centros espíritas, possuem visão reducionista sobre a educação e sua importância, muitas vezes confundindo-a com a instrução, com a ensinagem de conteúdos programáticos, com a aquisição e acúmulo de conhecimentos, chegando a entender erroneamente que somente a escola educa. Na verdade, essa escola, como aqui descrito, não educa, apenas instrui, e nem sempre respeitando o ser humano em formação que ali está, seja criança, adolescente ou jovem. Por esse motivo há um clamor para a humanização do ensino e, por extensão, da educação.

É interessante observar como muitos centros espíritas mais se parecem com hospitais, realizando o tratamento espiritual dos corpos físicos das pessoas, quando deveriam se parecer muito mais com escolas de almas, preparando as crianças e os jovens para a vida, e a vida eterna que continua depois da morte, fazendo com que aprendam a colocar em prática o pilar básico da educação: fazer ao outro somente o que se deseja que o outro nos faça.

Como pode o presidente de um centro espírita não dar importância à evangelização? Se estudou o Espiritismo, dele bem pouco compreendeu.

Somos necessitados do Evangelho. Somos necessitados de Jesus em nosso coração. Precisamos sublimar os sentimentos. Somos necessitamos de apreender o amor e colocá-lo em prática nos relacionamentos com os outros, e também com a natureza. Essa é a missão da evangelização espírita, através dos princípios da imortalidade, da reencarnação e da evolução.

Que todo espírita leia e releia com atenção O Livro dos Espíritos, obra básica do Espiritismo, fazendo anotações, marcações no texto e levando suas dúvidas para o grupo de estudo, seja esse presencial ou online, pois é perguntando que melhor se aprende. E nessa leitura e releitura, que se atente, além das duas questões já destacadas, para as questões 379 a 385, quando o assunto tratado é voltado inteiramente sobre a criança.

Se os centros espíritas não priorizarem a evangelização da criança e do jovem, o que já está ruim na sociedade atual tenderá a ficar pior no futuro, pois verdadeiras legiões de espíritos materialistas, egoístas e indiferentes, geração após geração, sendo lançados na corrente social, não poderão trazer a paz e a felicidade que tanto queremos, tanto hoje como amanhã.


segunda-feira, 1 de abril de 2024

A educação moral dos filhos

Compete aos pais a formação moral dos seus filhos, e nisso está a mais sublime tarefa de um educador, tarefa essa que exige responsabilidade, verdadeira missão a que os pais não podem se furtar, respondendo pelos atos dos filhos enquanto estes se fazem dependentes. Em verdade, pais de consciência culpada pela má educação oferecida a seus filhos vivem dramas de remorso, mesmo quando estes já são adultos. Há pais que por indolência do próprio caráter, apresentando uma culposa indiferença, estimulam os caprichos dos filhos, não lhes corrigindo as más tendências verificadas desde os primeiros instantes, porque a criança é um espírito que já traz as potencialidades a serem desenvolvidas, as tendências inatas que cumpre serem desenvolvidas, se boas, ou corrigidas, se más. Isso é competência primeira dos pais, educadores da alma infantil que lhes procura para receber no seio da família a preparação para o viver social.

Num mundo em que as más tendências do caráter predominam, a correção das mesmas é entendida como sendo o uso de métodos violentos. Tenta-se educar pelas surras, pelos castigos corporais, pelo uso de vocabulário degradante, quando a educação está no amor conjugado com a disciplina, está nos bons exemplos a que os pais devem se obrigar em dar a seus filhos. Como podemos exigir o cumprimento de obrigações, como podemos deplorar comportamentos, quando somos os primeiros a não cumprir com essas mesmas obrigações e quando nossos exemplos não servem para serem seguidos?

Quantas vezes temos surpreendido mães utilizando de violência física acompanhada de palavrório fútil, porque seu filho pronunciou uma palavra de baixo significado? Como pode ela exigir cuidado com as palavras quando não dá exemplo? O filho, com naturalidade, pensará: “se minha mãe pode usar essas palavras, por que eu não posso?”. Mas não lhe oferecem explicações, apenas atitudes violentas, nem se preocupam em realizar uma autoeducação que seria muito mais proveitosa para os olhos da infância. Estimulam-se vícios os mais diversos e depois se queixam do comportamento que os filhos observam na família e nos outros meios sociais. Na verdade os pais deveriam queixar-se de si mesmos. Deveriam realizar um exame de consciência, não quanto aos esforços de proporcionar a educação ou a ilustração da inteligência, mas em relação ao que fazem no capítulo da educação moral.

Mesmo quando os pais revelam certo conhecimento do seu papel na formação dos filhos, desviam a educação para a total liberdade, deixando os filhos livres para fazer o que quiserem, pois assim eles crescerão sem traumas e sem as interferências prejudiciais da autoridade que pode lhes cercear o desenvolvimento. Essa explicação não tem respaldo no bom senso nem nas pesquisas pedagógicas. A liberdade sem responsabilidade cria verdadeiros monstros. Como aquelas crianças que, numa visita, precisam ser agarradas pelos pais para não destruírem a casa alheia, de tão acostumadas a agirem plenamente em liberdade, sem consideração à propriedade e aos direitos do semelhante. Ou aquela criança sem cerimônia, que não diz para onde vai, com quem vai, e chega como autoconvidada, sem dar maiores satisfações, demonstrando que respeito é matéria ultrapassada no processo educacional. Será mesmo?

Estes exemplos, que denominamos cenas de educação familiar, acontecem sob a indiferença ou o beneplácito dos pais, que a tudo assistem sem qualquer reação, espantando-se mais tarde quando os filhos os deixam de lado e enveredam pela filosofia materialista de enxergarem apenas a si mesmos, sem outro sentimento. Esse é o resultado do descuido com a formação do caráter, afastando o educando da sua realidade de alma criada por Deus para o progresso, o que depende nesta existência da tarefa educacional dos pais, que, como já o dissemos, tem a missão de educar e não simplesmente de cuidar.

Desde que compete aos pais educar seus filhos, tendo nisso uma missão pela qual devem responder, e sendo a educação o desenvolvimento das potencialidades morais e intelectuais, onde os exemplos e sentimentos afetivos preponderam na formação do caráter, é, sem dúvida, que encontramos na família o ideal da educação moral. A criança, nos primeiros estágios de seu desenvolvimento, é dependente dos cuidados e dos afetos dos pais, sendo fortemente influenciada pelos estímulos que recebe por parte dos que a devem proteger e amar. Ninguém e nenhuma instituição pode substituir as noites mal dormidas de quem vela a cabeceira do filho. Quem fornece as primeiras palavras a serem ouvidas pelo recém-nascido? Quem lhe entrega sorrisos, abraços, carinhos? Quem chora junto com o choro da criança, ainda um ser frágil lutando por dominar o organismo físico? São os pais, missionários da educação moral de seus filhos no ambiente familiar.

Enquanto a família estiver reduzida a um grupo que habita momentaneamente uma casa, sem maiores vínculos, estaremos envolvidos com graves questões que somente uma visão da educação moral do homem poderá resolver, e que o Espiritismo tão bem elucida com a imortalidade da alma, a reencarnação e a destinação futura do espírito que hoje se encontra na experiência da existência humana.


Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...