As leis morais e a educação do espírito
Do que mais necessitamos para melhor viver? A resposta ecoa cristalina desde a época em que Jesus esteve conosco: amor! Entretanto, os ensinos do Mestre aconteceram há mais de dois mil anos, e ainda hoje vivemos com ódios, injustiças e violências, inclusive no seio da família, forçando-nos a realizar outra indagação: por que não conseguimos nos amar? São muitas as causas, ou fatores, mas temos uma certeza ao estudar o Espiritismo: a causa das causas, a base de todos os males, é o egoísmo. É esse vício que devemos combater e destruir com todas as forças, mas isso é o que menos se faz, e o instrumento eficaz para realizar a destruição do egoísmo é a educação moral. Não somos nós que estamos dizendo isso, e sim os Espíritos Superiores, na questão 917 de O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec pergunta: Qual é o meio mais eficaz de se destruir o egoísmo? A resposta é assinada pelo espírito Fénelon, da qual destacamos o seguinte trecho:
“De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar é o egoísmo, porque se liga à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não pode libertar-se. Tudo concorre para entreter essa influência; suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material, e sobretudo com a compreensão que o Espiritismo vos dá quanto ao vosso estado futuro real e não desfigurado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, as usanças e as relações sociais. O egoísmo se funda na importância da personalidade; ora, o Espiritismo bem compreendido, repito-o, faz ver as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma perante a imensidade. Ao destruir essa importância, ou pelo menos ao fazer ver a personalidade naquilo que de fato ela é, ele combate necessariamente o egoísmo.”
Prestemos atenção: “o egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material”. Hoje em dia muitas pessoas vivem através de desejos materiais os mais diversos, como se a vida se resumisse ao nascer, viver e morrer, mas o Espiritismo nos descortina a vida futura depois da morte, demonstrando que somos espíritos imortais, resgatando as lições evangélicas como roteiro iluminado para nossa caminhada evolutiva, pois a Doutrina Espírita entende que todos somos destinados por Deus para a perfeição, tendo cada um de responder pelo que faz e deixa de fazer, no campo do bem e do mal. Ora, se a vida física é curta, sendo a morte uma fatalidade da qual ninguém escapa, e sabendo que tudo o que é da matéria aqui fica, não nos acompanhando para o outro lado da vida, por que não priorizar as aquisições morais, que irão nos acompanhar por toda a eternidade?
Diante da resposta, Kardec realiza um profundo comentário, do qual vamos ressaltar as seguintes palavras:
“A cura poderá ser prolongada porque as causas são numerosas, mas não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela raiz, ou seja, com a educação. Não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas. Essa arte, porém, requer muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter a ciência para aplicá-la de maneira proveitosa. Quem quer que observe, desde o instante do seu nascimento, o filho do rico como o do pobre, notando todas as influências perniciosas que agem sobre ele em consequência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que o dirigem, e como em geral os meios empregados para moralizar fracassam, não pode admirar-se de encontrar no mundo tanta confusão. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e ver-se-á que se há naturezas refratárias, há também, em maior número do que se pensa, as que requerem apenas boa cultura para darem bons frutos.”
Para termos predominância da vida moral na humanidade, necessário se faz o desenvolvimento da educação, entendida esta como arte de formar o caráter, corrigindo as más tendências que o espírito apresente, e desenvolvendo suas virtudes. É a educação do espírito, ou educação moral, proposta pedagógica do Espiritismo para o hoje e o amanhã, pois temos que ter visão de futuro, afinal a reencarnação nos mostra que ainda teremos que voltar para este planeta, ainda somos necessitados de novas experiências existenciais físicas.
O entendimento espírita é claro e objetivo: somente através da educação poderemos transformar os indivíduos que, por sua vez, moralizados e espiritualizados, transformarão a sociedade. Como se entende, não está o Espiritismo falando de educação intelectual, que tem sua importância, mas que por si só não possui a força necessária para as transformações morais; está falando da educação afetiva, emocional, da educação do sentimento, com base no Evangelho, para que consigamos colocar em prática o pilar essencial da educação: aprender a fazer ao outro somente o que desejamos que ele nos faça. Não é por outro motivo que destacamos como conteúdo curricular essencial do serviço de evangelização espírita, e também da educação familiar, as leis morais contidas na terceira parte de O Livro dos Espíritos, e os ensinos morais de Jesus, explicados em O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Precisamos de amor em nosso coração, saindo da esterilidade de discussões filosóficas e ideológicas para a vivência da caridade, da fraternidade e da solidariedade. Esse é o caminho apontado pelo Espiritismo, dando-nos, com Kardec, a proposta pedagógica da educação do espírito.
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