segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Evangelizar é um ato de amor


Marcus De Mario

Uma característica predominante nos seres humanos é o relacionamento uns com os outros, através da convivência que tem início no aconchego familiar, estendendo-se pela sociedade em todas as circunstâncias, sejam elas profissionais, estudantis, culturais e sociais. Isso implica em reconhecer que, queiramos ou não, somos seres de relação, que não é possível viver isoladamente, existindo não apenas uma interdependência entre as pessoas, mas igualmente uma necessidade de troca emocional, afetiva, intelectual e moral, que nos alimenta e reforça na caminhada terrena. Não é por outra razão que Jesus, o mestre por excelência, nos conclama ao “amai-vos uns aos outros”, estabelecendo o amor como base e garantia do melhor desempenho relacional, seja com quem for.

Todas as lições evangélicas partem do amor e chegam no amor; não é possível compreender e vivenciar o Evangelho sem amor no coração e nas ações. Eis que entendemos que evangelizar é muito mais do que ensinar o Evangelho, ou seja, é muito mais do que transmitir informações históricas ou do conteúdo de suas páginas, pois essa transmissão de conhecimentos pode ficar na superfície, se não leva o aprendiz a interiorizar na alma as vigorosas e profundas lições de vida que a Boa Nova revela. Mais importante, e que caracteriza o verdadeiro ato de educar, é levar o educando a pensar, sentir e vivenciar o Evangelho, realçando os ensinos morais de Jesus, como muito bem trabalha o Espiritismo, revisitando o Evangelho a partir da imortalidade e da reencarnação.

Para o educando pensar, sentir e viver o Evangelho, a relação entre ele e o educador deve ser amorosa, afetiva, aconchegante, no compartilhamento dos ideais de fraternidade, solidariedade e tolerância, sem preconceitos e discriminações, sem interpretações manchadas por ideologias ou falseadas interpretações religiosas, que nada tem a ver com aquele que veio trazer-nos a pureza da lei e da justiça divinas, ambas alicerçadas no amor, não apenas ensinando, mas exemplificando a lei de amor.

Não se pode evangelizar com raiva, com ironia, com prepotência. O egoísmo e o orgulho são incompatíveis com o Evangelho. Diante desse código divino devemos realizar todos os esforços para receber a todos e tratá-los igualmente, pois todos temos os mesmos direitos, todos somos filhos de Deus, o que implica no reconhecimento de sermos irmãos, e irmãos devem manter uma ação relacional de compreensão e cooperação.

Não consta nas brilhantes páginas do Evangelho, que Jesus tenha se recusado a atender este ou aquele, que tenha feito discriminação entre ricos e pobres, ou qualquer outro tipo de discriminação. Pelo contrário, a todos atendeu, ofertando ensinos e curas, esclarecimentos e consolações, distribuindo bênçãos mesmo a quem não gostava dele. Aceitou a oferta da refeição na casa de um fariseu doutor da lei, que claramente não lhe aceitava os ensinos; hospedou-se na casa dum publicano, judeu cobrador de impostos que era detestado pelos de sua raça; abençoou a mulher classificada como de má vida, que viera chorar a seus pés; esclareceu o jovem rico e apego ao status social, ofertando-lhe o caminho da verdadeira felicidade; mesmo diante das dúvidas e vacilações dos discípulos diretos, externou bondade, paciência e colaboração em todos os momentos. Subiu o monte e falou para milhares de pessoas vindas de todas as regiões, abençoando as crianças e realizando curas a cegos, obsediados, leprosos (hoje conhecidos como portadores de hanseníase), paralíticos, nada indagando de quem quer que o procurasse.

Por tudo isso, entendemos que evangelizar é um ato de amor, é uma ação de amar quem está conosco, seja uma criança, um adolescente, um jovem ou um adulto. Não importa sua origem social, sua cor de pele, sua religião, ou o que seja: é nosso irmão, é nossa irmã, e o Evangelho implica em amar a todos sem distinção.

O Espiritismo, em sua missão de alavancar a transformação moral da humanidade, entende que a ação a ser realizada é a de transformar moralmente cada ser humano, individualmente, e que isso somente pode acontecer através da aplicação da educação com base no Evangelho, motivo pelo qual incentiva o desenvolvimento do serviço de evangelização nas instituições espíritas, o qual deve predispor os educandos de todas as faixas etárias não apenas para conhecerem o Evangelho, mas principalmente para vivê-lo no relacionamento com os outros.

Disse o Cristo: “meus discípulos serão reconhecidos por muito se mamarem”, e o que precisamos fazer é nos amar, é colocar o amor como nossa prioridade na vida humana, pois todo o resto é dependente do amor. Sem o amor tudo é vão, tudo é mentira, tudo é falsidade. Somente com o amor alcançaremos a paz de consciência e a verdadeira felicidade. 

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