Direitos Humanos

Assistimos recentemente a tragédia humana ocorrida no Haiti por conta do terremoto que atingiu sua capital, e percebemos a mobilização internacional para socorro e resgate da população fortemente impactada. Equipes especializadas de socorro, mantimentos, remédios, água mineral, roupas, equipamentos foram deslocados com rapidez, num exemplo de solidariedade, deixando em segundo plano as questões políticas, culturais e religiosas.

Passado o impacto e contabilizando-se as vítimas, mais de cem mil mortos nos dados oficiais da Organização das Nações Unidas, talvez chegando a duzentos mil como informa o governo haitiano, organiza-se a reconstrução da capital Porto Príncipe, e da estrutura do país. Milhões de dólares já estão alocados para essa nova etapa da solidariedade internacional.

É uma mobilização que merece aplausos, entretanto, infelizmente ela só aconteceu após a tragédia, que estava anunciada há muito tempo.

O Haiti é o país mais pobre das Américas. 80% de sua população vive abaixo da linha da miséria. O nível de desemprego é da ordem de 90% de seus habitantes. O país está situado numa região de ocorrência frequente de terremotos, maremotos e furacões. Durante quatro décadas conheceu uma guerra civil desumana, até que a intervenção da Força de Paz da ONU conseguiu restaurar a democracia política. Um quadro de tragédia anunciada.

E apesar desse anúncio antecipado, quase nada foi feito. Há anos a Força de Paz realiza trabalho humanitário de ajuda, embora essa não seja sua principal função, e reportagens nas mais diversas mídias denunciam o estado lamentável do povo. Mesmo assim os direitos humanos continuaram a ser desrespeitados, e a ajuda internacional ficou muito longe de verdadeira e espontânea solidariedade.

Tudo isso mostra que o discurso não está antenado com as ações. Ainda somos movidos pelos acontecimentos trágicos, não sabemos realizar a profilaxia da prevenção, que agoniza nos gabinetes políticos e arrasta-se nas reuniões dos organismos internacionais que deveriam promover a solidariedade.

Como podemos assistir, insensíveis, às tragédias anunciadas? Vários países africanos, por exemplo, estão agonizando. Populações sofrem com a miséria, as doenças, a falta de água potável, a guerra civil, enfim, com condições precárias de sobrevivência, e os países mais ricos ficam discutindo a economia internacional, em encontros onde se gastam milhões de dólares com luxo, segurança e outras coisas. Tudo inútil, terminando com a assinatura de um protocolo de intenções que não define com clareza as metas a serem alcançadas, e nem estabelece prazos.

Enquanto isso, a cada dia, milhares de crianças, jovens e adultos, homens e mulheres, morrem por falta de assistência, de emprego, de dignidade para viver.

Até quando a sociedade civil, através de verdadeiros missionários dos direitos humanos, terá de organizar serviços para fazer o que os governos deveriam fazer? Exemplo do que estamos falando está personificado em Zilda Arnse e sua Pastoral da Criança. Ela nos deixou na tragédia do Haiti, mas sua vigorosa e humanitária obra aí está, salvando mães e seus filhos da desnutrição, da miséria, da indignidade de viver para assistir a chegada prematura da morte. Talvez essa obra humanitária erguida por uma alma vibrante de amor não precisasse existir, e Zilda Arns pudesse canalizar sua força para outras tarefas. Isso poderia ocorrer se as autoridades públicas parassem de brincar com os direitos humanos.

O direito de viver com dignidade é o primeiro e básico direito humano. E isso independe da nacionalidade, da cor da pele, da religião professada, da escolha sexual, da faixa etária, da condição social, mas depende da vontade humana, de querer realizar o que há décadas está no papel.

A hipocrisia é incompatível com a solidariedade.

Os direitos humanos são incompatíveis com o preconceito e a discriminação, o egoísmo e o orgulho.

Antes que uma próxima tragédia aconteça, façamos os esforços necessários para que a vida humana seja preservada e os bens e serviços sejam igualmente distribuídos a favor de homens e mulheres, crianças e adultos, em todas as regiões do mundo.

Pensemos nisso!

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