quarta-feira, 26 de maio de 2010

Lugar de Ensinar ou Educar?

Pensar sobre a função da escola na sociedade é tarefa, hoje, repleta de dificuldades. Para muitos ela é fundamental, para outros pode ser substituída pela educação doméstica. Não há consenso, inclusive, se seu objetivo é ensinar ou educar, porque existe diferença entre o ensino e a educação. Ou não?

Certa vez, desenvolvendo palestra num seminário que abordava a educação dos sentimentos, utizei o termo educador no lugar de professor, como aliás é de meu hábito. Uma professora solicitou a palavra e contestou: "Não sou educadora, sou professora. Formei-me para dar aula de língua portuguesa. Sou uma profissional do ensino".

"Mas não deixa de ser, mesmo assim, educadora", pensei com meus botões (assim diziam nossos avós). Isso porque ela está em sala de aula lidando com pessoas em determinado estágio de desenvolvimento, e na medida em que interage com os outros, na posição de ensinar algo, ela é uma educadora, pois seu ensino e principalmente sua interação, têm significativa influência sobre a personalidade em formação dos seus alunos.

Segundo essa professora a escola é lugar de ensinar, e não de educar.

Em outra ocasião, nova palestra, descobri que entre as professoras presentes catorze delas eram pedagogas, tinham formação superior. Propus que elas definissem, de forma simples, sem preocupação acadêmica, o termo "pedagogia", para melhor entendimento de todos. Depois de cinco minutos de meio silêncio, nenhuma delas conseguiu explicar o que é pedagogia. Dei a definição, que foi considerada satisfatória, e solicitei que dissessem o que era, para elas, educação. Foi decepcionante. Não tinham a mínima noção do que estavam fazendo na escola enquanto professoras. Falta de consciência? Má formação universitária? Inexistência de vocação profissional? Ou um pouco de tudo isso e algo mais?

Como vamos debater a escola, sua missão, seus objetivos, se nem sabemos porque estamos professores e o que é educação?

Por não sabermos a diferença entre ensinar e educar, entre ensino e educação, entre instrução e formação, é que fizemos da escola um lugar onde a vida social não tem vez, porque o tempo está tomado por aulas de matemática, língua portuguesa, história, geografia, ciências, educação física, etc.

Há, inclusive, pedagogos, doutores e mestres em educação que consideram a discussão em torno da educação em valores e da formação em cidadania e ética uma perda de tempo, pois isso seria papel da família e não da escola. Um argumento apresentado é que a criança e o jovem passam mais tempo no lar do que na escola. Mas esses mesmos especialistas concordam que o ideal para a escola é o trabalho em tempo integral, num período de seis a oito horas diárias de estudos e atividades complementares. Não há coerência entre os dois pensamentos. Se a família deve educar para valores e ética, como tirar o tempo da família para colocá-lo na escola, que somente deve ensinar conteúdos curriculares de disciplinas fechadas em si próprias?

E quem já provou, por a+b:

1. Que a escola que ensina não é também a escola que educa?

2. Que o professor que ensina não é também, ou não deveria ser, um educador?

3. Que a escola nada tem a ver com a família?

4. Que a formação em valores não pode ser feita ao mesmo tempo que a instrução em conteúdos curriculares?

E tomei coragem para afirmar, em outra palestra, que eu não era um professor. Fui imediatamente interrompido pela platéia que, indignada, disse que quem ensina é professor, e, portanto, como estava ali a ensinar algo, não podia deixar de ser um professor. E arremataram: "Mas o senhor é mais que um professor, é um educador, porque trabalha a essência das coisas e do ser humano".

Será que eles sentiram a grandiosidade e profundeza do que disseram?

Pensemos nisso.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A Intenção é Boa, Mas ...

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que determina a instalação de bibliotecas em todas as instituições de ensino do país, incluindo públicas e privadas. De acordo com o texto, publicado no "Diário Oficial" da União nesta terça-feira (25), cada biblioteca deve ter, no mínimo, um título para cada aluno matriculado.

A organização, a manutenção e o funcionamento desses novos espaços devem ser definidos pelas instituições.

Ainda segundo a publicação oficial, as bibliotecas escolares devem contar com "coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura". O prazo máximo para a instalação dessas bibliotecas é de dez anos.

Bem, os dados oficias indicam que mais de 20% dos municípios brasileiros não possuem uma biblioteca púbica. Agora, como essa lei vai ser implementada? Temos bibliotecários em número suficiente? As escolas possuem espaço físico adequado? Os professores estão habilitados e habituados a trabalhar com a literatura?

A ideia é boa e merece apoio, mas entre a ideia e sua prática há um abismo de diferença. Será que essa lei vai "pegar"?

Pensemos nisso.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Avaliação de Professores

Notícia saída do forno promete agitar o magistério:

O Ministério da Educação (MEC) instituiu o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente. O ministério pretende realizar a primeira prova em 2011. Na primeira edição, poderão participar educadores dos primeiros anos do ensino fundamental (1º ao 5º ano) e da educação infantil.

Segundo portaria publicada no Diário Oficial da União, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) ficará responsável pela prova, que será constituída de uma avaliação de conhecimentos, competências e habilidades.

Uma consulta pública sobre o exame está aberta e terá duração de 45 dias, no site do Inep.

A seleção será parecida com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O professor fará a prova e poderá usar a nota para ingressar em qualquer uma das redes de ensino que aderirem ao programa.

De acordo com a portaria, os objetivos da prova são subsidiar a contratação de docentes para a educação básica dos estados e dos municípios e conferir parâmetros para auto-avaliação dos futuros docentes, com vistas à continuidade da formação e à inserção no mundo do trabalho.

Além disso, o exame pretende oferecer um diagnóstico dos conhecimentos dos futuros professores para subsidiar políticas públicas de formação continuada e criar um indicador qualitativo que poderá ser incorporado à avaliação de políticas públicas de formação inicial dos docentes.

Secretarias de Educação interessadas em usar os resultados do exame terão de formalizar adesão junto ao Inep. A forma de utilização para a contratação de docentes será definida por cada secretaria.

Comentários a esta notícia são muito bem-vindos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Dinheiro e Qualidade

Acaba de ser publicado resultado de pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que é órgão do Ministério da Educação (MEC), revelando que a quantidade de recursos destinados à educação não garante qualidade no ensino. A pesquisa comparou os gastos estaduais em cada aluno da rede pública anualmente e os resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). A conclusão é que o dinheiro explica apenas 50% dos resultados de desempenho de uma escola. O restante depende de boa gestão, projetos pedagógicos consistentes e envolvimento da direção, professores, funcionários e pais.

Na análise dos resultados fica claro que o dinheiro é fator diferencial para municípios mais pobres, que efetivamente melhoram o ensino a partir da aplicação de volume maior de recursos financeiros, mas esse diferencial fica quase nulo em municípios mais ricos, onde o que mais vale é boa gestão, projeto pedagógico e envolvimento.

Onde a qualidade do ensino é satisfatória, a pesquisa revela a existência de fragilidades no sistema educacional. Escolas localizadas em bairros de periferia têm Ideb mais baixo que escolas situadas em bairros nobres, ou seja, continua existindo a discriminação social.

Promete o MEC, junto com o Unicef, divulgar no segundo semestre o resultado de pesquisa feita nas escolas que obtiveram o melhor desempenho no Ideb em 2007, em comparação com 2005, com o objetivo de descobrir os caminhos que levaram essas escolas a se destacarem na qualidade do ensino.

Enquanto aguardamos, pensemos seriamente na tríade apontada pela pesquisa, muito importante para colher bons resultados escolares:

> Boa Gestão.
> Projeto Pedagógico Consistente.
> Envolvimento (direção, professores, funcionários, pais).

O dinheiro, naturalmente, é importante, mas se não é bem utilizado e acompanhado pelos outros 50% da receita (a tríade acima), não resolve as questões da educação e do ensino.

Nos próximos textos vamos conversar sobre cada um desses três fatores.

Enquanto aguardamos, qual será a influência da educação moral nesse processo?

Pensemos nisso!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Miopia da Mídia

Dê uma passada nos principais sites de notícias, sejam eles portais independentes ou vinculados a mídias impressas (jornais e revistas), e clique em "educação" - isso é, quando existe esse link no menu -, e você, caro leitor, verificará que a maioria considera que educação é sinônimo de vestibular. São notícias e mais notícias ligadas a vestibulares e faculdades, e quase nada com relação ao ensino médio, ensino fundamental e educação infantil.

É triste observar que a mídia possui a mesma miopia do Ministério da Educação, que relega o ensino básico para as esferas estadual e municipal, numa distorção histórica que provoca inúmeros malefícios para o desenvolvimento do ser e da nação.

Bem, reclamar da mídia é um pouco sem propósito, afinal ela considera que ensino fundamental só dá notícia quando um aluno agride um professor e vice-versa. Lamentável distorção de valores originada no descaso que temos com relação a educação moral do homem, com sua formação do caráter e seu desenvolvimento do senso moral.

Por enquanto, valores, virtudes, senso moral, ética e outras questões pertinentes à formação integral do ser estão fora dos bancos escolares. E os problemas sociais se agravam, e o governo estadual do Rio de Janeiro implanta as Unidades de Polícia Pacificadora nos morros (favelas e comunidades) como se transferir a criminalidade de um lugar para outro fosse solução.

A solução para os nossos problemas - individuais e coletivos - está na polícia ou na educação?

Pensemos nisso!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Hipocrisia e Corrupção

Em pouco tempo o Prouni está mostrando uma faceta do ensino superior que poucos ousam comentar: a hipocrisia. O programa foi criado para financiar estudantes originários de famílias de baixa renda para estudar em faculdades particulares. Além de pagar a mensalidade do curso, o estudante pode ter direito a uma renda mensal, hoje estipulada em R$ 300,00. A ideia pode ser boa, mas acontece que são as próprias instituições particulares de ensino superior que indicam os alunos bolsistas, e, assim, está aberta a porta para a corrupção e falsificação dos dados comprobatórios. É o que mostrou reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, exibido ontem, 2 de maio. Hipocritamente, alunos, pais, coordenador e reitor fizeram alegações fora de propósito. Felizmente eles perceberam que estavam em erro e solicitaram ao Ministério da Educação o desligamento dos alunos do programa. Menos mal, podemos dizer, mas durante o tempo em que o esquema funcionou, lesaram muitas pessoas e os cofres públicos, e isso não pode ficar sem punição.

Segundo o MEC, existe fiscalização e punição, tanto que até o momento 17 instituições particulares de ensino superior foram descredenciadas do Prouni, com mais de 1.200 estudantes respondendo processos. O universo de estudantes sem direito a bolsa é até pequeno, mas o número de instituições punidas é alarmante.

Moralizar o ensino superior não é tarefa fácil, porque isso é dependente da moralização das pessoas que fazem as universidades e centros universitários. E se o processo de moralização do ser não começar na base da educação, fica muito, muito difícil.

Então, diante dos fatos, podemos perguntar: quando o MEC vai abraçar a educação moral e priorizar o ensino básico?

Pensemos nisso!

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...