A violência na escola
Não
é só o Brasil que sofre com a violência nas escolas, fenômeno que
não é exclusividade dos países pobres ou em desenvolvimento, mas
também presente em países como os Estados Unidos, a Inglaterra e a
Alemanha, todas elas consideradas nações desenvolvidas, fazendo
parte do seleto grupo das nações mais ricas do mundo.
Na
Inglaterra os professores se sentem ameaçados por armas de fogo
dentro da escola, e na Alemanha o índice de ataque contra
professores dobrou em apenas dez anos.
Esses
dois países sugerem algumas medidas: colocação de detectores de
metais nos portões de entrada; instalação de circuito interno de
câmaras de vídeo; realização de exames aleatórios para detectar
o uso de drogas; pressão sobre os pais de alunos problemáticos;
vigilância policial externa. Perguntamos: atacando os efeitos
através de medidas de segurança pública conseguiremos resolver a
questão da violência dentro das escolas?
Os
professores alegam que o problema está na família, que a maioria
dos pais não sabe educar seus filhos. Temos que concordar ser a
família uma das causas, com gravíssimos problemas quando se trata
de dar bons exemplos, colocar limites, exigir responsabilidades,
interagir com a escola, etc., entretanto, colocar toda a culpa na
família é um exagero, pois a própria escola, quando não realiza
sua missão de educar o ser total, ficando apenas no preparo
intelectual dos alunos, também tem sua parcela de culpa.
E
é culpada igualmente a sociedade quando mantém leis injustas que
privilegiam determinados setores em prejuízo de outros. Quando não
promove, através dos meios educacionais, valores de vida profundos e
enobrecidos, dando mais importância ao desenvolvimento do senso
moral das pessoas, tudo se complica.
A
solução da violência nas escolas - que é de médio e longo prazo
- só acontecerá quando formos na causa. Enquanto considerarmos que
a educação é questão de segurança pública, e não de formação
das consciências, continuaremos a assistir esse doloroso quadro.
Precisamos
com urgência rever nossos valores na educação e também o que
estamos fazendo no sistema de ensino. A escola é lugar do amor
pedagógico, e não da polícia.
A
complexidade da questão violência na escola requer uma abordagem
sistêmica, com visão do todo. É uma questão sócio-educacional
que envolve a família, as autoridades públicas, os cursos de
formação de professores e outros profissionais da educação, a
escola, a comunidade, as organizações não governamentais, pois
medidas pontuais, se bem-vindas e com bons resultados, não resolvem
a questão, são paliativos que encontram um grande obstáculo: a não
continuidade e as barreiras impostas pela injustiça social.
E
indo mais além, temos outra questão de profundidade: a formação
moral do indivíduo, relegada a segundo plano há bastante tempo, com
as pessoas valorando pensamentos, comportamentos e atitudes que ferem
frontalmente a regra de ouro da educação: aprender a fazer ao outro
o que gostaríamos que o outro nos fizesse.
Discursar
a cidadania e fomentá-la através dos esportes e das culturas é
reduzir a abordagem e o espaço da verdadeira educação. Aliás, é
interessante observar como as intervenções para combate à
violência escolar são feitas de fora para dentro, normalmente não
pertencendo ao projeto político-pedagógico em desenvolvimento.
Educar
é uma arte que exige sensibilidade e doação, amor e trabalho
contínuo. Essa arte só é plena quando prioriza a formação do ser
para o ser e para a vida, trabalhando o desenvolvimento do pensar no
outro, do conviver e interagir com o outro na construção de
relacionamentos sadios e éticos, ou seja, a educação verdadeira é
aquela que realiza a formação do caráter, que leva o educando, de
qualquer faixa etária, a elaborar, compreender e interiorizar
virtudes, pois somente assim ele exteriorizará o que é bom para ele
e para o outro.
Escolas
que estão trabalhando essa educação sinalizam um futuro promissor
da humanidade.
Se
castigos e recompensas não são consideradas ações pedagógicas
corretas, também devemos incluir nesse desvio educacional a
segurança eletrônica nas escolas, as dúzias de inspetores que mais
parecem agentes de segurança, o rebaixamento da idade penal e tudo o
mais que cerceia e policia o ato de educar.
Precisamos,
na educação, de sentimento. Precisamos, na escola, de amor.
Precisamos, na família, de bons exemplos. Precisamos, das
autoridades públicas e empreendedores, de projetos pedagógicos que
fomentem a educação moral do ser. Então veremos a violência ser
página virada na história do homem.
E
tudo começa no lar, como bem nos diz Madre Tereza de Calcutá:
“Acredito
que o mundo hoje está de ponta cabeça e sofre muito porque existe
tão pouco amor no lar e na vida familiar. Não temos tempo para
nossas crianças, não temos tempo para nos darmos uns aos outros,
não temos tempo para apreciarmos uns aos outros”.
E
reforçando nossa concepção da importância do amor, o maior dos
sentimentos, na prática educacional, afirma:
“O
amor começa em casa; o amor habita nos lares e é por isso que
existe tanto sofrimento e tanta infelicidade no mundo... Todos, hoje
em dia, parecem estar com tanta pressa, ansiosos por grandes
desenvolvimentos e grandes riquezas e assim por diante, de modo que
as crianças não têm tempo para os pais. Os pais têm pouco tempo
para darem-se uns aos outros, e no próprio lar começa a destruição
da paz do mundo”.
A
violência na escola começa com a violência da falta de amor na
família, e é agravada com a continuidade do não-amor entre
professor e aluno. Mas existe um remédio, uma solução: a educação
moral. Começando pela aplicação em nós educadores, e depois
contagiando os adultos de amanhã, as crianças e jovens que estão
dependentes de nossas ações e exemplos.
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Luís 17