Será que existem filhos difíceis?
Muitos pais, perturbados pela conduta de seus filhos, nem sempre obedientes, estão internando suas crianças e adolescentes em escolas especiais, militarizadas, onde tudo imita um quartel com sargentos ferozes impondo rígida disciplina e castigos exemplares como exercícios fatigantes, limpeza de banheiros e assim por diante. É uma escola, isso mesmo, não é um quartel. E dá-lhe choradeira por parte dos mais novos, pobres coitados abandonados por seus pais e na mão de executores rígidos de normas absurdas.
A novidade vem dos Estados Unidos. Pais aborrecidos com seus filhos, que não sabem mais o que fazer com eles, é só matriculá-los nessa casa dos horrores, onde um discurso pseudo pedagógico é feito, prometendo que seus rebentos dali sairão "pianinho", sabendo obedecer e se comportar. E o que é obediência? O que será saber se comportar direitinho?
Ficamos aqui pensando: será que não são os pais os necessitados dessa "escola"? Muitos declaram causas tão sem importância para matricularem os filhos nesse sanatório - é o que mais parece -, demonstrando, na verdade, que em casa não tem paciência, tolerância e muito menos autoridade moral com os filhos. Mas é claro que não desejamos a ninguém adentre a essa instituição que invalida todos os avanços educacionais já feitos.
Precisamos aprender a educar para a autonomia, para a solidariedade, para a bondade, mas para isso temos primeiro que nos educar, ou seja, temos que combater em nós a indolência, o comodismo, a hipocrisia, o individualismo, coisas de que nossa sociedade está farta, acarretando consequências ruins, como temos assistido todos os dias.
Como exigir obediência e bom comportamento de nossos filhos, se confundimos isso com respeito total, exagerado a nós, e cerceando a liberdade deles? E pior, dando maus exemplos, pois de nossa parte não somos obedientes e nem sempre mantemos bom comportamento? É como aquela mãe viciada em doces e chocolates, um tanto quanto obesa, colesterol alto, sedentária, e que exige que sua filha, na escola, só coma coisas saudáveis e participe de atividades que tenham exercícios físicos. Sem dar o próprio exemplo, essa é uma educação sem efeito, e se a filha começar por sua vez a comer doces e chocolates, por certo será castigada e, por não ser obediente, acabará matriculada nesse manicômio pseudo-educacional.
Será mesmo que existem filhos difíceis, filhos problemáticos? Temos que existam filhos desafio, e que somente uma boa educação, perseverante, pode dar-lhes autocontrole, sem amarras, sem exageros, mas com muito diálogo, bons exemplos e autoridade moral, o que deve começar mesmo antes do berço, pois na barriga da mãe ele já ouve e sente tudo que lhe transmitimos.
Devemos fazer esforços no sentido de unir a família com a escola e vice-versa, para não acontecer esse verdadeiro absurdo de uma escola-quartel-casa de horrores. Que temos de ter uma nova escola, novas metodologias, não coloco em dúvida, mas daí a correr para "novidades" sem fundamento pedagógico, vai uma grande distância.
Que os pais sejam mais fáceis, para que os filhos sejam menos difíceis.
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