Os muros de concreto e a falência da sociedade

A cidade do Rio de Janeiro vive uma realidade iniciada há décadas: favelização social com a ocupação de morros e outras áreas por favelas, também chamadas de comunidades. Segundo o Censo 2010 do IBGE, temos 1.393.314 pessoas em 763 favelas na cidade, o que significa que 22,03% da população (6.323.037 nesse ano) vive em aglomerados subnormais, como classifica oficialmente o instituto. Todos sabemos que boa parte dessas favelas são dominadas pelo tráfico de drogas ou pelas milícias, com alto índice de violência, que nem mesmo a intervenção das Unidades de Polícia Pacificadora - UPPs tem resolvido. Tiroteios e mortes são comuns, num índice alarmante, e nem mesmo as crianças são poupadas, muitas delas uniformizadas e em plena atividade escolar, como temos visto através dos noticiários. E face a mais uma morte de uma criança dentro de uma escola inserida em uma favela, o prefeito do Rio de Janeiro dclara a solução para o problema: vai blindar com muro de concreto todas as escolas municipais que estão em favelas e comunidades. Por que não blinda também as moradias dos cidadãos que vivem de forma ordeira e honesta nessas comunidades? Eles também não merecem essa proteção? E os postos de saúde e outras instituições de caráter sócio-educacional ali existentes?

Parece que para o senhor prefeito importante é proteger alunos e professores, mesmo que os moradores estejam sob o jugo do tráfico, da milícia, da violência. Desde que as balas perdidas não entrem na escola ...

Concretar muros no entorno das escolas que estejam em áreas de risco é decretar a falência da sociedade carioca, é mostrar a falta de visão da autoridade pública, é abrir o espaço urbano generosamente para o mal. Não importa o que esteja acontecendo do lado de fora, desde que a escola esteja protegida. Entretanto, por que os milhões de reais que serão gastos para a construção desses muros não são gastos com a urbanização da favela? Com a introdução de mais creches e escolas? Com a instalação de posto de saúde? Com a instalação de água, esgoto e luz para todos? Em outras palavras: muros não resolvem, o que resolve é intervenção social com educação, cultura, saúde e saneamento.

Durante a campanha eleitoral muito foi falado em gestão humanizada, em prestação de serviços de qualidade à população, com menos obras pela cidade, a não ser aquelas realmente necessárias. Mas agora vamos assistir a construção de muros de concreto em dezenas, ou centenas, de escolas.

Se muros, cercas eletrificadas, alarmes, seguranças armados, câmeras de vigilância, muros de concreto trouxessem a paz e a justiça social, há muito o Rio de Janeiro - e outros grandes centros urbanos brasileiros - estaria classificado como melhor cidade para se viver.

Agora é a hora de não mais adiar projetos sociais nas favelas e comunidades da cidade maravilhosa, e sim a Prefeitura, com as parcerias público-privadas, mergulhar com tudo no resgate desses aglomerados subnormais, integrando-os aos bairros em que se situam, ou transformando-os definitivamente em bairros, mas não apenas no papel, e sim de fato.

E que o investimento em educação de valores humanos, em educação moral, em educação humanizada, em educação que gera autonomia responsável, seja visto como a solução dos males que impregnam nossa sociedade. Temos consciência que esse resultado não é de curto prazo, mas com certeza gerará uma sociedade regenerada em médio e longo prazo.

A educação é tudo. A escola é muito importante. A família é fundamental. Enquanto estivermos fugindo da realidade com paliativos e máscaras, o mal continuará a sair vitorioso e em festa.

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