Analfabetismo funcional no ensino superior

O Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, publicou a pesquisa Indicador de Alfabetismo Funcional, onde aponta que apenas 22% dos brasileiros que chegaram à universidade têm plena condição de compreender e se expressar. Em bom entendimento, isso significa que  78% dos estudantes brasileiros do ensino superior podem ser classificados como analfabetos funcionais, ou seja, não sabem ler e interpretar corretamente um texto, além de não dominarem o raciocínio lógico-matemático mais complexo. Diante desses índices, a pergunta que devemos fazer é onde está a causa, ou onde estão as causas desse fenômeno que coloca a educação brasileira nos últimos lugares quando em comparação com outros países?

A leitura e a interpretação de textos e o raciocínio lógico-matemático são essenciais para a pessoa melhor se articular nas relações sociais, são fundamentais para a vida, mas tudo indica que lastimavelmente estamos desprezando na educação das novas gerações essas ferramentas tão importantes. E quando temos jovens e adultos que não conseguem ler, que não conseguem entender o que leem, que não coseguem fazer uma formulação matemática, isso quer dizer que estamos lançando na sociedade pessoas despreparadas, sem os requisitos necessários para alavancar o progresso social, cultural e tecnológico da sociedade brasileira.

Mas, voltemos à pergunta: onde a causa, ou causas, desse fracasso educacional? Fica claro que temos um problema na escolarização, pois o brasileiro que chega à universidade, que entra no ensino superior, passou antes pelo ensino médio, e anterior a esse, cursou o ensino fundamental, e ainda antes, esteve na educação infantil. Ora, se ele chega, adulto, no estado de analfabeto funcional, a escola não está cumprindo seu papel, pois é nela que ele se prepara para a vida adquirindo conhecimentos, saberes indispensáveis, e isso não está acontecendo.

A verdade é que os índices e estatísticas do ensino fundamental há muito vem sendo maquiados. A massa de estudantes analfabetos ou analfabetos funcionais no segundo segmento do ensino fundamental é enorme, mesmo assim eles são encaminhados para o ensino médio, que os empurra para o ensino superior, ou pelo menos uma parcela significativa desses estudantes mal preparados. Um amigo professor universitário me confessa: o primeiro semestre, ou primeiro período da faculdade, é perdido por conta dos professores terem que utilizá-lo para dispor os alunos com o mínimo de preparo para o curso, ou seja, tendo que gastar boa parte do tempo em aulas ligadas ao que os estudantes já deveriam ter aprendido no ensino médio.

No âmbito da família temos assistido um despreparo dos pais e responsáveis quanto à educação dos filhos, não acompanhando suas atividades escolares, aliás muitas vezes completamente divorciados da escola. E ainda permitindo que os filhos durmam em metade do dia, ou fiquem ligados nos games e redes sociais, ou ainda tomados por atividades esportivas e outras, quase nunca recebendo a supervisão e acompanhamento daqueles que são os principais responsáveis pela sua educação. E quando esses quadros são acompanhados por maus exemplos, a questão se agrava, com filhos que não querem saber de estudar, que tem horror a ler um livro, e que vivem copiando e colando o que encontram na internet, sem o mínimo de estudo e interpretação.

Agravando a deplorável situação da educação brasileira, temos o descaso e desinteresse das autoridades públicas e políticas do nosso país com essa área essencial, fundamental e que deveria ser prioritária. Mas o que assistimos é um desleixo com o ensino fundamental, e uma alarmante conivência com os sistemas de ensino privados, verdadeiras empresas que estão transformando o sistema de ensino brasileiro num negócio, num investimento comercial como qualquer outro.

Onde vamos parar com a continuidade dessa situação?

Em 1999 fui responsável pela criação do Instituto Brasileiro de Educação Moral, que tem por objetivo humanizar o ensino, transformar a escola, integrar no processo educacional os professores, os pais e responsáveis e os líderes comunitários. Para isso desenvolvemos o Projeto Escola do Sentimento, a Pedagogia da Sensibilidade e o Programa Vivendo Sempre em Paz. Estamos lutando pela renovação do Brasil através da educação, e, apesar desses índices ainda tão alarmantes, não perco a esperança de um amanhã muito melhor. Mas está claro que a sociedade brasileira precisa iniciar uma reação, colocando em sua agenda discussões e ações que façam com que a educação seja o melhor e maior investimento da vida de qualquer pessoa e de uma nação que realmente quer fazer a diferença;

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