segunda-feira, 27 de abril de 2020

A criança quer explicações

Lembro a existência, em meus tempos de adolescente, de uma enciclopédia que muito me ajudou nos estudos e nas descobertas sobre a vida, enciclopédia famosa naqueles tempos, o "Tesouro da Juventude". Estou com essa lembrança porque em seu último volume, se não me engano, ele trazia o "livro dos porquês", com centenas de perguntas iniciando com essa indagação e suas respostas. Lendo, eu sabia o porque disso e daquilo, compreendendo desde fenômenos da natureza até fenômenos sociais. Tenho, confesso, saudade desse tipo de literatura quando vejo pais e mães darem ordens a seus filhos, ou responderem às suas indagações com monossílabos ou a famosa expressão "porque eu estou mandando!".

Não sabem esses pais que a criança necessita de explicação para compreender porque sim ou porque não?

Se nós, adultos, necessitamos de explicações para compreender certas situações, certas necessidades, e somos adultos, quanto mais a criança, que não possui o desenvolvimento intelectual que possuímos.

Muitos pais recusam-se a dar explicações porque, confessam, sentem-se embaraçados em conversar com a criança, não conseguem entrar no mundo infantil, possuem dificuldade em escolher as palavras adequadas, ou tem vergonha de certos assuntos, como aqueles ligados à sexualidade. Para esses pais recomendamos o exercício do diálogo com seus filhos desde a infância, acostumando-se a tratar os mais diversos assuntos com eles. Existem outros pais que se recusam a dar explicações porque acreditam que a criança deve obedecer às suas ordens e que isso basta, pois os filhos não são "burros" e, portanto, têm de compreender os reclamos dos pais. Isso não é verdade. A criança possui estágios de desenvolvimento psicológico, e até os sete anos não consegue desenvolver a contento raciocínios abstratos. Para esses pais recomendamos um pouco de estudo sobre a infância e menos arrogância.

Temos ainda aqueles pais que mantém seus filhos envoltos em fantasias, em histórias de fadas e bichos, ou entre brinquedos e brincadeiras, desviando-os de um contato maior com o mundo em que vivem, querendo preservá-los dos males sociais. Mas toda criança cresce, torna-se sucessivamente adolescente, jovem, adulto e vai deparar-se com os desafios do viver. Para esses pais recomendamos olhar seus filhos não como objetos, mas como seres humanos.

Finalmente, para todos os pais, uma advertência: cuidado com os exemplos diante dos filhos! Um bom exemplo vale mais do que mil advertências. Um mal exemplo derruba todos os sermões. Não é possível proibir qualquer ato de violência do filho na escola quando somos violentos dentro de casa. Essa regra vale para todas as situações, sejam domésticas ou sociais.

Toda criança quer saber porque não pode dizer palavrão; porque não pode bater no colega de escola; porque não pode...ou quer saber porque pode isso ou aquilo, ou como ocorre aquele e outro fenômeno. Isso é natural. Desnaturais são as atitudes que os pais tomam, fugindo às explicações que muito ajudariam o desenvolvimento intelectual e moral dos filhos.

Se você é pai, mãe, professor, avô, avó, enfim, se você é responsável por alguma criança, lembre-se: um dos maiores tesouros da infância é sentir que o adulto a seu lado é, antes de tudo, um amigo na estrada da vida.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Para que serve a escola?


Linhas Pedagógicas: Conheça os diferentes tipos de escola e de ...

Após uma visita familiar, dirigi-me ao ponto de ônibus, em subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, e enquanto esperava a condução, assisti crianças de uma escola pública, em algazarra, tomarem conta da rua, saídas do seu turno de estudo em demanda aos seus lares. Meninos e meninas entre sete e dez anos de idade.

Atravessavam a rua sem nenhum cuidado. Discutiam, falavam alto, faziam gestos nada amistosos uns com os outros. Observei a fala: gírias, palavras erradas, frases desconexas. Uma menina, aparentando sete ou oito anos, pequenina, utilizava sua mochila como arma, batendo nas costas de um colega e chamando-o para a briga. Felizmente o garoto não aceitou a provocação. E assim continuaram na algazarra, sem respeito aos colegas, às pessoas na rua, até a dispersão natural da volta ao lar.

Em outra cena, um amigo relata que as professoras fazem do pátio da escola pública, único local livre para recreação dos alunos, já que não existe uma quadra de esportes, estacionamento para os seus carros, e com mais um detalhe: as professoras com carro, incluindo aqui a diretora, são as primeiras a deixarem a escola assim que o horário de aulas termina.

Mudando o cenário, a lista de material escolar e outros materiais de uma escola particular é tão grande, e com quantidades tão expressivas, que a direção e professores utilizam as "sobras" em proveito próprio, já que a sala reservada à guarda do material não suporta tanto estoque.

Cenários que nos fazem indagar: para que serve a escola?

Para instruir? Talvez, pois os índices publicados pelo Ministério da Educação depois das provas de avaliação do ensino, são desanimadores. Então, instruir não parece ser a melhor vocação da escola.

Para educar? Depende do sentido que damos a essa palavra. Considerando educação como sinônimo de equipamentos pedagógicos instalados, ou de formação de habilidades e competências, estamos mal, principalmente no cenário público. Agora, considerando educar como formar cidadãos plenos, conscientes, éticos, não parece que a escola esteja socialmente determinada a isso.

Repetindo consideração de Frei Betto sobre o tema:

"Seria a escola mera estufa de adestramento para o mercado de trabalho?".

Consideramos que a escola existe para auxiliar os pais na educação dos filhos, para dar o complemento moral e intelectual à formação integral dos jovens, exigindo dos professores a autoeducação, o exemplo, a dedicação. E a escola não pode estar desligada da vida dos seus alunos e da comunidade à qual ela pertence e para quem desenvolve seus serviços. Escola onde ninguém aguenta ficar nem mais um minuto, não é uma verdadeira escola.

Se você está na escola considerando que ali está apenas para desenvolver seu trabalho profissional, como atestam seus diplomas, não está na hora de rever seu papel e no que você está transformando a escola?

A escola não é uma indústria ou um negócio comercial como outro qualquer. Lá dentro, em todos os setores, em todas as atividades, o tempo todo, lidamos com gente, com a formação dessa gente, trabalhando no presente aquilo que será o futuro.

Não está na hora de pensarmos seriamente nisso?

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Pais omissos e permissivos

A qualidade do vínculo entre pais e filhos tem relação direta com ...

Temos duas categorias de pais que merecem nossa análise por não serem bons modelos para a educação dos filhos. E talvez muitos pais estejam numa dessas categorias, ou em ambas, sem se aperceberem disso. Estou falando dos pais que são omissos, e daqueles outros que são permissivos. Entendamos essas duas categorias de educadores familiares.

Os pais omissos são aqueles que pouco esforço fazem para educar os filhos. Consideram que são pequenos, são crianças, devem mais é brincar e ganhar experiência sozinhos, para mais rápido saberem “se virar” e não dar mais trabalho. Esses pais ignoram o que seja educar, ou, por preguiça, por não quererem sair de seu próprio mundo, pouco esforço fazem para orientar e/ou corrigir os filhos, mesmo porque isso dá trabalho. Quando os filhos crescem e entram pela adolescência, têm resposta na ponta da língua para pouco se esforçarem em sua educação: “Não adianta falar, eles não obedecem”. Esses pais omissos precisam se perguntar qual a razão dos filhos não lhes obedecerem, pois isso não acontece por acaso, nem é fruto da idade, no caso a adolescência.

Temos também os pais permissivos, aqueles que fazem todas as vontades dos filhos, nunca os corrigem e acham muito bonito os filhos se imporem a eles e aos outros. Esses pais chegam a brigar com os avós das crianças, não admitindo que os “velhos” chamem a atenção dos seus filhos. Quando os filhos vão para a escola, os ensinam a agir com violência, a não repartir o lanche, a não serem bobos diante dos colegas. E quando a escola procura alertar, os outros é que estão errados, a escola não serve para seus filhos e assim por diante. Chegados à adolescência, os filhos são os queridinhos dos pais, que pouco se importam com o comportamento social deles e ainda reforçam valores equivocados.

Pais omissos e pais permissivos fazem bastante estrago, pois lançam na corrente social seres humanos que não sabem respeitar os direitos dos outros, são indolentes, preguiçosos, violentos, egoístas, gerando problemas de vulto na sociedade humana.

Ser pai ou mãe não é uma brincadeira, não pode ser comparado em cuidar de um brinquedo, de um bibelô. Os pais são responsáveis não apenas pelos cuidados de higiene, saúde, alimentação dos seus filhos, são responsáveis pela educação dos mesmos, e essa educação deve prepará-los para a vida.

Mesmo quando os pais se separam, a responsabilidade educacional para com os filhos continua a mesma. O distanciamento não pode servir de desculpa para fazer todas as vontades ou para deixar a educação para o outro ex-cônjuge. Quem assim fizer estará classificado como omisso ou permissivo.

A educação é uma arte que requer tato, observação, paciência e perseverança. Isso porque educar é, ao mesmo tempo, orientar, corrigir, aconselhar, exemplificar, ouvir, respeitar constantemente, diariamente, em todas as circunstâncias, até que os filhos, tendo aprendido a pensar, a usar o bom senso, tendo ganho diversas experiências vivenciais junto com os pais, possam, pouco a pouco, viver sua própria vida.

Mesmo quando chegam à juventude, os filhos serão sempre filhos, e os pais serão sempre pais. A relação de convivência naturalmente estará em outro patamar, pois os filhos terão cada vez mais liberdade de ação, mas os pais devem estar atentos para a palavra amiga necessária, para o abraço acolhedor, pois os laços afetivos não se rompem pelo fato dos filhos terem sua própria vida.

Aos pais omissos, e também aos permissivos, uma advertência: lá na frente, com o passar do tempo, a vida cobra. Possivelmente, quando for necessária a ajuda dos filhos, agora adultos, esses pais podem ficar sem esse auxílio, pois os filhos, vivendo apenas para si, não terão o amor, o vínculo afetivo que os façam se movimentar pelos pais.

Que todos os pais reflitam com profundidade sobre a importância da educação dos filhos.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Educação para cidadania começa em casa


Qual o papel dos pais na educação dos filhos? – Mais Família e ...
Relendo o livro Quem Ama, Educa!, de Içami Tiba, encontrei este significativo pensamento: “Quando um filho ganha sem esforço um brinquedo, depois outros, e vai recebendo tudo o que quer sem despender um mínimo esforço nem um merecimento, acaba não valorizando o que ganha. Sem custos, os benefícios gratuitos aleijam o desenvolvimento dos filhos. A distorção educativa é que o filho se sente no direito de ter os benefícios e passa a exigi-los sem custo. A verdadeira educação é inspirar os filhos a lutar pelo que querem, fazer-se merecedores das conquistas que são premiadas. Os pais não devem dar tudo seguindo seus próprios desejos ou porque têm condições de dar, mas devem oferecer as coisas de que os filhos realmente precisam. É a partir da demasia que vem a desvalorização e o desperdício material e a falsa autoestima de bem estar.”

Os pais não devem aceitar as birras dos filhos e acharem que se não fizerem suas vontades estarão traumatizando os filhos, se assim agirem na verdade estarão deseducando, deixando que crianças mandem em adultos. Dar limites e exigir responsabilidades é um ato de amor! Não se compensa falta de tempo presencial com presentes e mais presentes, fazendo-se sempre as vontades dos filhos, que se acostumarão a sempre pedir e querer mais, sem nada valorizar, afinal tudo cai em seus colos com facilidade e de graça, sem nenhuma contrapartida.

Muitas mães dizem não poder suportar o choro dos filhos, pois isso é de “cortar o coração”, ainda mais quando acontece em local público, com as outras pessoas olhando e julgando, normalmente a favor do filho, então, para encerrar a cena dramática em que se encontram, aquiescem ao filho: “tudo bem, para de chorar, vou comprar o brinquedo para você”. Esse comportamento somente reforça a chantagem que o filho aprendeu a fazer: é só chorar, fazer escândalo e repetir dezenas de vezes o que se quer e mamãe cede. E hoje em dia isso acontece também com o pai. Não é que os pais não tenham amor aos filhos, é que lhes falta conhecimento sobre educação e, portanto, atitudes firmes que disciplinem e corrijam, isso para o bem estar futuro dos filhos, da família e da sociedade.

Os filhos precisam aprender a desenvolver esforço próprio para realizar conquistas. Somente irão ganhar o “prêmio” se tiverem mérito para isso; se souberem cumprir suas obrigações, sempre de acordo com suas capacidades; se souberem respeitar os limites que os pais devem lhes ensinar; se souberem ter comportamento adequado junto aos outros.

Para essa educação não adianta gritar, xingar, ameaçar, colocar de castigo ou partir para a pancada, tudo isso condenável e antipedagógico. Ameaças e violências podem assustar no primeiro momento, mas logo estarão acomodadas e superadas pela criança, que continuará, às vezes sutilmente, a elaborar estratégias para ganhar o que quer, pois aprende os pontos fracos do pai e da mãe, utilizando-os a seu bel prazer.

Os pais devem mostrar aos filhos que o próximo brinquedo somente poderá ser pego depois que o brinquedo abandonado estiver guardado no seu devido lugar. É assim que educam para a organização e disciplina. É assim que iniciam a promoção de um cidadão ético, responsável. E nada de guardar por eles. São os próprios filhos que devem guardar seus brinquedos, arrumar suas camas, auxiliar a limpar a cozinha depois das refeições, fazer seus deveres de casa trazidos da escola. Os pais devem auxiliar, mas não devem fazer por eles.

Se não agirem desse modo, os filhos vão se tornar adolescentes ou jovens e nada farão em casa, jogando tudo nos ombros dos pais, e assim farão igualmente na coletividade, com nada se responsabilizando e vivendo no imediato para si, sem pensar nos outros, tendendo a considerá-los culpados pelas suas frustrações na vida, quando a frustração é decorrente da má educação que receberam por parte dos pais.

A educação familiar para a cidadania e a ética, dos pais para com os filhos, é essencial, fundamental para termos uma sociedade mais solidária e honesta, agindo para o bem coletivo. Por isso recomendo que aqueles que não leram, e mesmo para os que já leram há muito tempo, devem todos fazer a leitura do excelente livro Quem Ama, Educa, de Içami Tiba, dedicado aos pais, e com o subtítulo “formando cidadãos éticos”.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...