Para que serve a escola?
Após
uma visita familiar, dirigi-me ao ponto de ônibus, em subúrbio da
cidade do Rio de Janeiro, e enquanto esperava a condução, assisti
crianças de uma escola pública, em algazarra, tomarem conta da rua,
saídas do seu turno de estudo em demanda aos seus lares. Meninos e
meninas entre sete e dez anos de idade.
Atravessavam
a rua sem nenhum cuidado. Discutiam, falavam alto, faziam gestos nada
amistosos uns com os outros. Observei a fala: gírias, palavras
erradas, frases desconexas. Uma menina, aparentando sete ou oito
anos, pequenina, utilizava sua mochila como arma, batendo nas costas
de um colega e chamando-o para a briga. Felizmente o garoto não
aceitou a provocação. E assim continuaram na algazarra, sem
respeito aos colegas, às pessoas na rua, até a dispersão natural
da volta ao lar.
Em
outra cena, um amigo relata que as professoras fazem do pátio da
escola pública, único local livre para recreação dos alunos, já
que não existe uma quadra de esportes, estacionamento para os seus
carros, e com mais um detalhe: as professoras com carro, incluindo
aqui a diretora, são as primeiras a deixarem a escola assim que o
horário de aulas termina.
Mudando
o cenário, a lista de material escolar e outros materiais de uma
escola particular é tão grande, e com quantidades tão expressivas,
que a direção e professores utilizam as "sobras" em
proveito próprio, já que a sala reservada à guarda do material não
suporta tanto estoque.
Cenários
que nos fazem indagar: para que serve a escola?
Para
instruir? Talvez, pois os índices publicados pelo Ministério da
Educação depois das provas de avaliação do ensino, são
desanimadores. Então, instruir não parece ser a melhor vocação da
escola.
Para
educar? Depende do sentido que damos a essa palavra. Considerando
educação como sinônimo de equipamentos pedagógicos instalados, ou
de formação de habilidades e competências, estamos mal,
principalmente no cenário público. Agora, considerando educar como
formar cidadãos plenos, conscientes, éticos, não parece que a
escola esteja socialmente determinada a isso.
Repetindo
consideração de Frei Betto sobre o tema:
"Seria
a escola mera estufa de adestramento para o mercado de trabalho?".
Consideramos
que a escola existe para auxiliar os pais na educação dos filhos,
para dar o complemento moral e intelectual à formação integral dos
jovens, exigindo dos professores a autoeducação, o exemplo, a
dedicação. E a escola não pode estar desligada da vida dos seus
alunos e da comunidade à qual ela pertence e para quem desenvolve
seus serviços. Escola onde ninguém aguenta ficar nem mais um
minuto, não é uma verdadeira escola.
Se
você está na escola considerando que ali está apenas para
desenvolver seu trabalho profissional, como atestam seus diplomas,
não está na hora de rever seu papel e no que você está
transformando a escola?
A
escola não é uma indústria ou um negócio comercial como outro
qualquer. Lá dentro, em todos os setores, em todas as atividades, o
tempo todo, lidamos com gente, com a formação dessa gente,
trabalhando no presente aquilo que será o futuro.
Não
está na hora de pensarmos seriamente nisso?
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