terça-feira, 30 de março de 2021

Um pouco de lucidez na educação

Os professores estão tão acostumados a seguir padrões, a receber quase tudo pronto, tudo formatado com ares científicos, que perderam o mais importante em sua ação: pensar, questionar, refletir, indagar. O tempo de aula é 50 minutos. Por quê? Onde está a fundamentação pedagógica disso? O currículo da disciplina é este. Quem elaborou? Por que elaborou? Será que é o que interessa para o aluno? O professor ensina e o aluno aprende. O papel do professor é ensinar ou estimular o aluno em sua aprendizagem? E o professor também deve se perguntar: Por que existe aula? O que é pedagogia? Existe o melhor método e a melhor didática? E assim por diante.

Educar é fazer pensar, é permitir que a criança e o jovem desenvolvam com autonomia o processo de aprendizagem, é respeitar o ritmo de cada aluno. O trabalho na escola é fazer com que o aluno acumule conhecimentos, ou seja preparado para a vida?

As perguntas inquietam e têm o dom de não permitir acomodação numa zona de conforto. O professor deve seguir um currículo previamente preparado, ou deve trabalhar levando em conta a inspiração, a criatividade e a vida? É possível conciliar essas duas coisas? Como?

Muitas coisas realizadas pelo professor na escola podem ser questionadas. Não é porque sempre foi assim que é uma verdade imutável. Os tempos passam, novas descobertas científicas surgem, a psicologia do desenvolvimento da criança avança, a tecnologia da informação nos leva a outros campos do conhecimento. Por que a escola fica parada na formatação tradicional de carteiras enfileiradas, professores que ensinam e avaliações por provas e notas?

Será que o professor pode sonhar, como propõe Rubem Alves?

Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada ou qualquer lago seja construído, é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles…”

Ou como poetisa Ariano Suassuna?

Não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso. Sou um homem da esperança. Sei que é para um futuro muito longínquo. Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.

E por que não?

Por que o professorado perdeu a capacidade de sonhar, poetisar, criar, inovar, fazer diferente? De procurar as fundamentações científicas da educação para sair da mesmice de repetir procedimentos, sem saber porque?

Um pouco de lucidez não vai fazer mal a ninguém, pelo contrário, vai fazer luz na pedagogia, na metodologia, na didática, na escola, enfim, na educação.

Quando o professor vai entender que a educação não se resume em ensinar conteúdos curriculares, mas preparar para a vida?

É um sonho distante? Tudo bem. Melhor ser um realista esperançoso e sonhador de jardins floridos, do que um burocrata exterminador da educação, que faz da escola um monstro devorador de alunos.

É assim que devemos seguir em frente, com nossas loucas ideias de educação transformadora, escola inovadora e ensino humanizado.

segunda-feira, 22 de março de 2021

A triste realidade escolar brasileira

Dados do Censo Escolar da Educação Básica 2020, do Ministério da Educação, coletados no mês de março desse ano, portanto bem atuais, mostram que o deficit de estruturas essenciais das escolas só tem aumentado ano após ano.

O Censo mostra que 4,3 mil escolas não têm banheiro (3,2% do total). 35,8 mil escolas seguem sem coleta de esgoto (26,6% do total). 2,9 mil escolas não têm energia elétrica. E mais: 3 mil não tem abastecimento de água, e outras 8,6 mil não tem água potável.

Parece absurdo, um pesadelo, mas na verdade é realidade: escolas públicas brasileiras sem fornecimento de água, sem energia elétrica, sem coleta de esgoto, sem banheiros e sem água potável, E outras 17,2 mil, em centros urbanos, sem internet banda larga. E ainda ousamos falar em qualidade em nossa educação!

Pode-se imaginar a tortura diária de professores e alunos em condições tão indignas?

A leitura dos dados do Censo Escolar só pode provocar indignação e mal estar, que aumenta com a comparação dos dados com o ano anterior, 2019, evidenciando que em quase todos esses quesitos houve aumento, ou seja, as autoridades públicas municipais e estaduais, aproveitando o fechamento das escolas face à pandemia, simplesmente largaram o sistema escolar, deixaram ao léu as escolas, que se deterioraram, e com um agravante: as verbas não deixaram de existir, simplesmente não foram usadas. Reformas necessárias não foram executadas, promessas não foram cumpridas.

Diante dessa realidade, como podem os secretários de educação afirmar que as escolas públicas estão preparadas para colocar em prática os protocolos de higiene, saúde e segurança para a volta às aulas presenciais? Sem água? Sem energia elétrica? Sem coleta de esgoto?

Pode-se alegar que comparativamente à rede escolar nacional, os índices estatísticos não chegam, na maioria dos quesitos, a 5% do total de escolas, mas isso não é relevante. Não se trata de análise de números frios e imparciais, mas de verificar que milhares de escolas, professores e alunos não têm o básico para desenvolver a educação, isso em pleno século 21 do terceiro milênio cristão da humanidade. É falta de humanidade, é atestado de insensibilidade das autoridades públicas, é descaso com a vida!

Até quando vamos assistir esse descalabro, essa vergonha nacional, colocando nosso país como exemplo de atraso e descaso com a educação das novas gerações?

Até quando nossas autoridades públicas vão considerar a educação como não essencial, como não prioridade, achando que escola não dá voto?

A politização ideológica tem afastado os governantes do que deveriam fazer: governar para o povo, como representantes do povo. Mas qual, são eleitos e imediatamente passam a defender posições pessoais e interesses de grupos, tudo fazendo para se manter no poder, mesmo à custa do povo que os elegeu, que lhes deu um voto de confiança.

Enquanto tivermos escolas sem água, sem banheiros, sem coleta de esgoto, sem energia elétrica, sem internet, com muros caídos, janelas enferrujadas e tantas outras coisas que bem conhecemos, não podemos nos chamar de civilização, nem podemos vislumbrar um futuro grandioso para nossa nação.

O Censo Escolar da Educação Básica 2020 é um vergonhoso atestado de incompetência e descaso, mostrando o quanto desdenhamos e desconsideramos a educação, quando ela é o único caminho para formar cidadãos conscientes, éticos, solidários e humanizados.

Faço um apelo às autoridades públicas e a todos os cidadãos brasileiros: recuperemos as escolas e salvemos a educação, para salvar o Brasil! Se assim não fizermos, que será do nosso país no futuro?

terça-feira, 16 de março de 2021

Vazio, solidão, ansiedade e educação

Estamos vivendo tempos em que o ser humano está desencontrado consigo mesmo. Diante de crises econômicas, desestabilização social, pandemia, ideologias radicais e outros fatores, muitas pessoas estão deslocadas de si mesmas e da sociedade, no chamado vazio existencial. Não sabem responder qual é o sentido de suas vidas, o que devem fazer no dia a dia, nem mesmo posicionar seus valores existenciais. Vivem, mas não sabem porque, não tem objetivos solidamente edificados, o que as leva a sentir um vazio interior muito grande.

Essa situação leva à solidão. Sem objetivos, confusos nos seus valores de vida, retraem-se automaticamente, acreditando não pertencerem nem a este nem aquele grupo social, sentindo-se deslocadas nos ambientes que precisam frequentar. Podem estar rodeadas por outras pessoas, mas se sentem solitárias. Começam paulatinamente a se isolar, muitas vezes abrindo portas para a depressão e o suicídio.

O vazio existencial somado à solidão geram a ansiedade. O que vai acontecer comigo amanhã? Para onde caminha a humanidade? Terei emprego e salário no próximo mês? E a ameaça de uma guerra? Como a pessoa não consegue fortalecer laços de amizade, torna-se cada vez mais ansiosa, nervosa, imediatista, querendo garantir o que tem e prevenindo-se de um futuro incerto. Nessas condições aumenta o estresse, a possibilidade de um colapso nervoso e complicações em sua saúde.

Diante dessa realidade, perguntamos: o que a educação pode fazer para reverter esse quadro, que não é deste ou aquele povo, mas, de forma geral, distribuído pela população mundial?

Partindo do entendimento que a educação é a chave do progresso individual e coletivo, mas que a educação não é apenas transmissão e aquisição de conhecimentos culturais e científicos, pois deve considerar todo indivíduo como ser integral dotado de inteligência e sentimento, percebemos que é a educação o verdadeiro antídoto, a verdadeira vacina contra o vazio existencial, a solidão e a ansiedade.

Nisto temos um vasto programa pela frente que requer um novo pensamento sobre a educação, pois não se trata de apenas mudar metodologias e recursos didáticos, compreendendo antes revisitarmos a filosofia que rege a educação, o que queremos dela na formação das novas gerações, para então transformarmos o universo pedagógico das escolas e das famílias, pois professores e pais precisam trabalhar em conjunto, sob pena de falarmos em educação integral, ser integral e continuarmos a praticar uma educação compartimentada, distante do discurso e da realidade.

A grande crise humana que se assiste, atingindo todas as áreas, é, na verdade, uma crise moral, determinada pelo desleixo a que relegamos a educação nas últimas décadas, substituindo-a por um sistema de ensino voltado para a instrução de conteúdos curriculares pré-determinados, engessados e que muitas vezes nada tem a ver com a realidade da vida. Diante disso, e somando-se ao desleixo familiar, é de se espantar que tenhamos crianças e jovens perdidos, sem rumo, com valores invertidos e vivendo exclusivamente o momento presente?

Por mais que psicólogos, psicanalistas e psiquiatras se esforcem em ampliar a literatura e as terapias no atendimento a essa massa de indivíduos que bate em suas portas pedindo socorro para suas vidas, eles não podem resolver o problema sem o respaldo dos educadores, ou seja, da família e da escola.

A humanidade, neste momento, tem um futuro incerto, pois não sabemos que rumo dar à educação, ela que está soterrada pelas preocupações humanas de ordem econômica, política, comercial, de saúde, de segurança e outras Pouco se discute a educação, e quando ela é o foco, é vista através de lentes distorcidas, sem que se debata sua fundamentação filosófica e pedagógica, essenciais para um novo norteamento.

Contudo, apesar do quadro um tanto quanto sombrio, somos do mesmo pensamento de Rubem Alves: esperançosos em dias melhores, quando a educação será prioridade do ser humano, será a alavanca de uma humanidade ética e solidária. Nada melhor que a continuidade da esperança, do trabalho por esses dias melhores, e o tempo para pavimentar uma nova visão sobre o homem, a vida e a educação.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Para onde vai a educação infantil?

Tenho uma sobrinha que iniciou seu período escolar no maternal de uma escola de educação infantil. Ela está com três anos de idade. Sua mochila carrega livros didáticos, tem aula de balé, e já tem dever de casa. Provavelmente, ainda não tenho essa informação, terá provas e notas. E terá, mais à frente, aula de inglês. Para seu desgosto, o parquinho está fechado, por causa do coronavírus, o que não dá para entender, afinal as crianças estão confinadas dentro de uma sala e o parquinho é ao ar livre..

Recebo informações de diversas mães sobre a educação infantil nas escolas, e os relatos não diferem muito do que acontece com minha sobrinha. Parece que as escolas estão vivendo um vírus muito, muito perigoso: o vírus da mesmice, do fazer tudo igual, do trabalhar para ensinar e preparar os alunos para vestibulares e concursos.

Nessa visão, aluno bom é aquele que consegue memorizar muitos conteúdos e despejá-los com correção em provas de avaliação, a maioria na base da múltipla escolha, ou seja, não é preciso saber pensar com profundidade, não é necessário saber utilizar a autonomia com respeito aos direitos dos outros, não é preciso ser solidário desenvolvendo a cooperação, não é essencial ser ético e honesto. Todas essas coisas passam bem longe das coordenadas pedagógicas das escolas, a começar pela educação infantil.

As brincadeiras e os jogos educativos, numa palavra, a ludicidade, está sendo substituída por tablets em que as crianças ficam assistindo vídeos, cada uma na sua carteira, sem interação. As professoras são levadas pelo sistema a ter postura de dar aula, de ensinar, colocando em segundo plano o desenvolvimento socioemocional das crianças, como se isso fosse um problema a ser resolvido exclusivamente pelos pais. Um equívoco de consequências difíceis de aquilatar para a sociedade, de tão profundos.

As escolas estão preocupadas em entulhar as crianças de atividades extracurriculares como balé, informática, natação, capoeira, judô, xadrez, línguas estrangeiras e outras coisas, esquecendo que são crianças e como tal devem ser tratadas, no seu mundo de sonhos, magias, brincadeiras, preparando-as para a vida de acordo com seu desenvolvimento psicogenético, com seu ritmo próprio de aprendizagem.

Quando minha sobrinha chega de visita, ela quer brincar, brincar muito. Interage com os brinquedos que estão à disposição, inventa brincadeiras, pula, corre, grita, pergunta, elabora raciocínios nem sempre lógicos, adora rolar, dançar, cantar até não poder mais. Se pudesse ficaria 24 horas brincando. O que a escola está fazendo com o mundo infantil?

A escola está margeando perigosamente a robotização infantil.

Minha memória recorda quando em visita a uma escola, vi uma turminha do jardim enfileirada atrás da professora, como se fosse um trenzinho, caminhando para algum local. A cena pode evocar algo maravilhoso, mas é contrastada pelo figurino da professora, elegantemente vestida, maquiada, cheia de penduricalhos, parecendo pronta para uma elegante festa. Mas, não, estava em pleno trabalho na escola, com sua turma da educação infantil. Devo pensar que ela não participa das brincadeiras, não senta no chão, nem pega uma criança no colo. Para essas coisas, essenciais, deve ter uma auxiliar.

Que adultos serão essas crianças?

A pergunta está lançada, para que pais e professores façam o salutar exercício da reflexão., com o olhar voltado para o amanhã, para o futuro da nossa humanidade.

segunda-feira, 1 de março de 2021

A família do lado de fora da escola

 

Sai ano, entra ano, e a mesma cena se repete na maioria das escolas, sejam elas públicas ou particulares: os pais chegam com seus filhos e são barrados no portão da escola, não podem entrar, devem conversar com os professores, com a coordenação pedagógica ou com a direção ali mesmo, em pé, ficando na calçada, pois o portão é a linha divisória entre dois mundos que não se falam, não se comunicam como seria desejável acontecesse.

A escola alega que os pais, se entrassem, somente atrapalhariam as atividades. Os pais nada sabem sobre educação, sobre pedagogia e, portanto, nada teriam a fazer no ambiente escolar. Será mesmo? E o que dizer do meu amigo Ronaldo, pedagogo, psicopedagogo, professor universitário, aproveitando um dia para levar sua filha à escola e, quando visto pela professora, no portão, levou verdadeiro sermão com relação à filha, terminado com a frase: “Não sei o senhor está entendendo”. Sim, ele estava entendendo, e muito.

Tudo bem, o Ronaldo pode ser exceção, muitos pais, de fato, pouco conhecem sobre educação, mas daí a considerá-los tropeços ao processo, vai uma longa distância.

O papel da escola não é também interagir com os pais? Não deve acolhê-los? Afinal as crianças passam mais tempo com os pais, com a família, do que com os professores e a escola. São duas organizações humanas de educação, mas que não se falam, não se comunicam, a não ser burocraticamente.

Quando acontece a reunião com os pais, normalmente ela é tensa, pois a escola prioriza fazer cobranças e reclamações. Qual é o pai ou a mãe que gosta de ver seu filho criticado por terceiros? E a escola reclama que os pais que deveriam ouvir as tais cobranças e reclamações são justamente os que não comparecem. A causa do não comparecimento é óbvia, não é mesmo?

A escola deve ser lugar prazeroso, aberto, amigo. A escola precisa caminhar para ser uma comunidade de aprendizagem, a todos recebendo e permitindo participação.

A escola precisa colocar seus colaboradores diretos em contato e interação com a comunidade local que, por sua vez, deve ter na escola uma extensão natural da comunidade, e não uma ilha fechada, cercada de muros grades e portões inacessíveis.

As escolas inovadoras são comunidades de aprendizagem, onde os pais têm livre acesso e participam de diversas atividades em conjunto com os professores e alunos, e não há nenhum problema nessa dinâmica, pelo contrário, o processo de aprendizagem torna-se mais rico e produtivo.

No Conhecer os pais, e os avós e os tios, entram com alegria, participam das atividades propostas, conversam com os professores, obedecendo regras claras feitas em comum acordo numa assembleia, e, em casa, procuram dar continuidade com seus filhos à proposta pedagógica inovadora da escola. As reuniões são dinâmicas, com o tema gerador procurando atender as necessidades apresentadas, e perguntas e respostas ao vivo enriquecem o conhecimento.

Depoimentos emocionantes atestam a qualidade do Conhecer e a forma pedagógica como trabalha.

Por que as escolas ainda teimam em fechar o portão e dizer aos pais que podem esperar do lado de fora, na calçada?

Em tempo: o Conhecer fica na cidade de Leopoldina, no estado de Minas Gerais, lá na famosa Zona da Mata.

Vídeo - O Jovem e a Dinâmica Educacional

O vídeo sobre educação espírita O Jovem e a Dinâmica Educacional aborda a importância da participação do jovem no processo ensino-aprendizag...