Esse grande desconhecido
Grande número de pessoas, mesmo aquelas que frequentam o centro espírita, não sabem muito bem o que seja o Espiritismo, seu alcance e suas implicações na vida, ficando na superfície de uma doutrina que tem bases científicas, conceitos filosóficos e consequências morais de profundidade, como muito bem delinearam os Espíritos Superiores, e que Allan Kardec magistralmente registrou, organizou e estudou. Ainda persiste uma visão mesquinha, diminuída, que o Espiritismo seja apenas mais uma religião, e que basta assistir uma palestra, receber o passe e ter a água fluidificada/magnetizada para se estar quites com a consciência e com Deus. É o nosso atavismo tacanho de épocas passadas em que estivemos, de uma forma ou de outra, ligados aos convencionalismos e rituais das igrejas católica e protestante, sem nenhum aprofundamento quanto aos ensinos morais de Jesus, nossa realidade espiritual e o verdadeiro significado da religião.
Ficamos tão habituados a tudo ser resolvido pelo padre e pelo pastor, e a barganhar coisas materiais para obtenção do perdão e do favor divinos, que não conseguimos hoje compreender uma doutrina religiosa que solicita o autoconhecimento e a autotransformação, que proclama que a fé necessita ser raciocinada, e que tem por finalidade maior realizar a transformação moral dos indivíduos e da humanidade, o que só pode ser alcançado pela educação.
Se os dirigentes espíritas mais conscientes não ficarem em alerta, como sempre devem ficar, rapidamente esse povo acenderá velas nas dependências do centro espírita, e transformará a reunião mediúnica num rosário de petitórios descabidos aos espíritos. Como sabemos que do outro lado da vida existem igualmente os astutos e hipócritas, é claro que os consulentes receberiam todo tipo de resposta através de médiuns invigilantes, desviando o Espiritismo dos seus fins superiores.
Nunca estivemos tão necessitados do “vigiai e orai”, pois em tempos de comunicação de massa instantâneo, onde tudo se divulga em nome do Espiritismo, sem nenhum critério, como bem recomendam os Espíritos e Kardec, temos assistido as pessoas tomarem gato por lebre, aceitando verdadeiros absurdos, disparates antidoutrinários, atestando a ignorância doutrinária em que vivemos, com falta de conhecimento porque nos recusamos a estudar uma doutrina que não pode ser conhecida brincando, pois requer seriedade e continuidade. Claro que é mais fácil ficar na superfície e não assumir nenhum tipo de responsabilidade, repetindo o mesmo equívoco de existências passadas, mas isso representa perder a oportunidade reencarnatória para ter de começar tudo novamente em próxima encarnação. E tarefa adiada é tarefa complicada.
Precisamos encetar ampla e contínua campanha de divulgação da importância e necessidade do estudo do Espiritismo e da educação espírita, levando adeptos e frequentadores ao entendimento que a Doutrina Espírita não é mais uma religião de fachada; que não basta fechar os olhos e solicitar numa oração o perdão dos pecados; que não basta procurar o tratamento para uma enfermidade do corpo. Que adianta esse proceder se no dia a dia não colocamos em prática a fraternidade, a solidariedade, o perdão das ofensas, a humildade e a nossa renovação moral e espiritual?
Ler e estudar Kardec; ler e estudar Léon Denis e demais contemporâneos dos primeiros tempos da doutrina. Ler, estudar e refletir as obras espíritas de autores sérios, encarnados e desencarnados, é obrigação, fazendo-se isso não apenas pessoalmente, mas participando de grupos de estudo. E também priorizar a educação espírita da criança e do jovem, para que as novas gerações de espíritos encarnados recebam orientação moral e espiritual para serem pessoas de bem.
Hoje, em pleno início do terceiro milênio da cristandade, e apesar do Espiritismo possuir mais de cento e cinquenta anos de existência, constatamos que tanto o Evangelho quanto a Doutrina Espírita são grandes desconhecidos, e que temos muito a realizar para mudar essa realidade e avançarmos na nossa evolução. Portanto, conclamamos aos verdadeiros espíritas, assim classificados por Allan Kardec, a pegar do arado e não olhar para trás, estudando, exemplificando e vivendo a doutrina em espírito e verdade, para que os que vem atrás possam acionar a força de vontade e transformar o religiosismo infantil de outras eras em religiosidade transcendente inabalável para toda a eternidade.
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