Sempre a favor da vida

Entre as diversas questões existenciais que enfrentamos e sobre as quais precisamos fazer uma tomada de decisão, temos a delicada questão da doença incurável ou do ente querido hospitalizado e sem que a medicina possa fazer mais nada por ele, ou seja, sabemos que a morte, mais dia, menos dia, chegará, e muitas vezes antecedida pelo sofrimento. Então temos que decidir sobre atenuar ou não o sofrimento e terminar com a agonia, tanto do paciente quanto dos familiares, e vem à tona a discussão sobre a eutanásia, ou morte assistida.

Para quem tem pensamento materialista, considerando que a vida acaba com a morte, a eutanásia pode parecer natural, entretanto para nós espíritas, que temos pensamento espiritualista sobre a alma imortal e a vida futura, a eutanásia configura um atentado contra a vida, um crime perante a lei divina.

Para nossa reflexão e ampliação do pensamento espírita sobre o assunto, trazemos belíssimo e profundo texto do espírito André Luiz, através da psicografia do médium Chico Xavier, que se encontra no capítulo 7 da segunda parte do livro Sexo e Destino. Trata-se do episódio em que André acompanha o desenlace da jovem Marita, que havia sido atropelada, e cuja agonia perdurou duas semanas até o total desligamento do espírito de seu corpo. Atendida pelo pai e por dois devotados amigos espíritas, o processo de desencarnação seguiu seu curso natural, apesar dos médicos terem anunciado que nada mais podiam fazer.

No final desse capítulo André Luiz nos traz a seguinte exortação:

Felizes da Terra! Quando passardes ao pé dos leitos de quantos atravessam prolongada agonia, afastai do pensamento a ideia de lhes acelerardes a morte!…

Ladeando esses corpos amarrotados e por trás dessas bocas mudas, benfeitores do plano espiritual articulam providências, executam encargos nobilitantes, pronunciam orações ou estendem braços amigos!

Ignorais, por agora, o valor de alguns minutos de reconsideração para o viajor que aspira a examinar os caminhos percorridos, antes do regresso ao aconchego do lar.

Se não vos sentis capacitados a oferecer-lhes uma frase de consolação ou o socorro de uma prece, afastai-vos e deixai-os em paz!... As lágrimas que derramam são pérolas de esperança com que as luzes de outras auroras lhes rociam a face!…

Esses gemidos que se arrastam do peito aos lábios, semelhando soluços encarcerados no coração, quase sempre traduzem cânticos de alegria, à frente da imortalidade que lhes fulgura do Além!...
Companheiros do mundo, que ainda trazeis a visão limitada aos arcabouços da carne, por amor aos vossos sentimentos mais caros, dai consolo e silêncio, simpatia e veneração aos que se abeiram do túmulo! Eles não são as múmias torturadas que os vossos olhos contemplam, destinadas à lousa que a poeira carcome... São filhos do Céu, preparando o retorno à Pátria, prestes a transpor o rio da Verdade, a cujas margens, um dia, também vós chegareis!…”

Felizes da Terra somos nós, os que gozamos de boa saúde, mas que não podemos esquecer da chegada da morte a qualquer tempo e em qualquer circunstância, e que o tempo de internação hospitalar é muito precioso para o espírito em seu processo de desencarnação, quando ele pode fazer úteis reflexões sobre si mesmo, o que fez e deixou de fazer, e tomar novas resoluções que colocará em prática no mundo espiritual e em próxima encarnação.

André Luiz ainda nos lembra que não somos o corpo, vestimenta frágil e que pode estar em péssimas condições, mas somos o espírito ou alma, sobrevivente ao corpo. No estado de coma, de não consciência, na maioria das vezes significa apenas com relação ao corpo, não ao espírito, que pode estar muito lúcido, como foi o caso da personagem Marita que, embora não conseguisse mais controlar o aparelho fonético e muscular do seu organismo físico, ouvia, observava e sentia a todos os presentes na enfermaria hospitalar, mantendo-se lúcida no pensamento, quando então consegue perdoar o próprio pai, causador de sua desdita.

Diante do leito de alguém que esteja em estado físico deplorável, devemos fazer todos os esforços para aliviar sua situação material, assim como endereçar à pessoa nossas orações, nossas vibrações de paz e amor, pois o espírito capta o que pensamos e falamos, embora não possa se revelar através do organismo físico deteriorado.

Esse assunto também foi estudado por Allan Kardec junto aos Espíritos Superiores, estando no capítulo 3 da segunda parte de O Livro dos Espíritos, sobre o Retorno da Vida Corpórea à Vida Espiritual. Vejamos a questão 155a:

A separação se verifica instantaneamente, numa transição brusca? Há uma linha divisória bem marcada entre a vida e a morte?

- Não; a alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo que fosse libertado. Os dois estados se tocam e se confundem, de maneira que o Espírito se desprende pouco a pouco dos seus liames, estes se soltam e não se rompem.

A desencarnação, como vemos, é processo gradual de desprendimento do espírito do corpo físico, e é processo individual, não é igual para todas as pessoas, pois cada um tem suas particularidades, sendo que algumas pessoas necessitam do tempo total do processo, mesmo que perdure semanas ou meses. Devemos, portanto, respeitar os desígnios divinos e as necessidades do espírito, que utilizará esse tempo para úteis reflexões e melhor preparação para sua reentrada na vida espiritual.

Diante desse conhecimento que o Espiritismo nos dá, somos totalmente contrários à prática da eutanásia (morte assistida), pois a vida não nos pertence, e sim a Deus, o único que pode disponibilizar dela com toda justiça, e aqueles que assim decidem em praticá-la e os que acionam os meios para sua consecução, responderão perante a lei divina, quer já aqui nesta encarnação ou após a morte, na vida futura que a todos nos aguarda.

Seremos sempre a favor da vida!


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