A belíssima doutrina do anjo da guarda
Ao estudarmos o Espiritismo nos deparamos com a questão da existência ou não do Anjo da Guarda, o espírito que, conforme várias crenças, teria a missão de proteger o ser humano. Allan Kardec não fugiu ao assunto e dialogou com os Espíritos Superiores sobre essa figura, se ela seria real ou mitológica, conforme vemos nas questões 489 a 521 de O Livro dos Espíritos, e ficamos sabendo que além do Anjo da Guarda, sempre um espírito superior, existem também os espíritos protetores e os espíritos familiares ou simpáticos. Vamos focar neste texto exclusivamente o Anjo da Guarda.
Na questão 490 é feita a seguinte pergunta: Que se deve entender por anjo da guarda? Resposta: O espírito protetor de uma ordem elevada. Na sequência, questão 491, pergunta Kardec: Qual a missão do espírito protetor? Recebendo a seguinte resposta: A de um pai para com os filhos: conduzir o seu protegido pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida.
É, sem dúvida, uma bela missão, cumprindo uma ordem de Deus, cumprimento esse que faz com todo amor e devoção, auxiliando aquele que lhe é inferior para que consiga crescer em moralidade e espiritualidade. Ele não faz pelo seu protegido, o auxilia para que este, com seu livre arbítrio e sua força de vontade possa vencer os obstáculos e mais rápido chegar à perfeição.
Merece igualmente destaque a questão 495, especialmente a resposta assinada em conjunto por São Luís e Santo Agostinho, toda ela de uma beleza poética profunda:
Há uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos, por seu encanto e por sua doçura: a dos anjos da guarda. Pensar que tendes sempre ao vosso lado seres que vos são superiores, que estão sempre ali para vos aconselhar, vos sustentar, vos ajudar a escalar a montanha escarpada do bem, que são amigos mais firmes e mais devotados que as mais íntimas ligações que se possam contrair na Terra, não é essa uma ideia bastante consoladora? Esses seres ali estão por ordem de Deus, que os colocou ao vosso lado; ali estão por seu amor, e cumprem junto a vós todos uma bela mas penosa missão. Sim, onde quer que estiverdes, vosso anjo estará convosco: nos cárceres, nos hospitais, nos antros do vício, na solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma recebe os mais doces impulsos e ouve os mais sábios conselhos.
Sancionando a doutrina dos anjos da guarda, o Espiritismo esclarece que eles não seres à parte criados por Deus já perfeitos, são espíritos criados simples e ignorantes, como quaisquer outros, que fizeram sua caminhada evolutiva até chegar na posição de espíritos puros ou perfeitos, aproximando-se de Deus, do qual cumprem diretamente suas ordens por todo o universo.
Para que não ficasse nenhuma dúvida sobre a possibilidade da existência deles e de como podem cumprir sua belíssima missão, Allan Kardec esclarece em comentário à questão 495 de O Livro dos Espíritos:
A doutrina dos anjos da guarda velando pelos protegidos, apesar da distância que separa os mundos, nada tem que deva surpreender; pelo contrário, é grande e sublime. Não vemos sobre a Terra um pai velar pelo filho, ainda que esteja distante, e ajudá-lo com seus conselhos através da correspondência? Que haveria de admirar em que os Espíritos possam guiar, de um mundo ao outro, os que tomaram sob a sua proteção, pois se, para eles, a distância que separa os mundos é menor que a que divide os continentes, na Terra? Não dispõem eles do fluido universal, que liga todos os mundos e os torna solidários, veículo imenso da transmissão do pensamento, como o ar é para nós o veículo da transmissão do som?
Não esqueçamos que temos um Anjo da Guarda. Lembremos dele, dirijamos nosso pensamento a ele, oremos por sua intercessão, não apenas nos momentos aflitivos, mas em todos os momentos, para que ele possa ter o canal da sintonia conosco aberto. O Anjo da Guarda nunca nos abandona, apenas se afasta quando vê que seus conselhos não são seguidos, deixando ao seu protegido as consequências do uso do livre arbítrio, voltando ao mesmo quando este, num ato de humildade, suplica pelo socorro divino.
Não importa quem ele seja, assim como também pouco importa se não sabemos seu nome. Importante é ter a certeza de que ele está a serviço do nosso bem. A nós compete lembrar de sua existência, do seu amor por nós, para que assim ele possa melhor cumprir sua missão, encorajando-nos e sustentando-nos rumo ao destino maior para o qual fomos criados: a perfeição!
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