A questão do livre arbítrio e da responsabilidade
Quando estudamos o Espiritismo logo nos deparamos com a questão do uso do livre arbítrio, com a liberdade que temos em dirigir nossa própria vida, mas também com a determinação divina de assumirmos as responsabilidades, ou consequências, pelas escolhas que fazemos, quer sejam de caráter individual ou social. Muitas pessoas se contrapõem a isso alegando duas coisas principais: a existência de um planejamento reencarnatório que estabelece com antecedência os fatos existenciais, e o consequente fatalismo na figura do karma, daquilo que já estava escrito, já estava planejado e não pode ser alterado.
Karma não é uma palavra do vocabulário espírita, e à luz do Espiritismo não pode ser entendida e empregada na sua conceituação original mantida pelo Budismo, ou seja, não pode ser utilizada significando algo já previsto e que vai acontecer quer queiramos ou não, como uma fatalidade determinada por Deus. Fatal, para a Doutrina Espírita, somente a morte, da qual nenhum ser humano escapa, mesmo assim não sabemos quando ela acontecerá, nem como vamos morrer, o que depende, por mais paradoxal que pareça, de como estamos vivendo aqui no mundo material, ou seja, voltamos à questão do uso do livre arbítrio.
Sabemos que podemos adiantar ou retardar o momento da morte. Os que não cuidam da saúde orgânica e mental podem morrer antes do previsto, antes da hora, ou pelo menos estão mais sujeitos a esse acontecimento. Os que estão no esforço de se melhorarem moralmente e preocupados em melhorar a coletividade, podem ganhar mais tempo para concluir suas benéficas ações. Tudo é relativo, pois tudo depende do livre arbítrio. Nada está escrito, fechado, sancionado irremediavelmente e não ser passível de modificação. Se assim fosse seríamos quais robôs obedecendo uma programação e nada mais. Não somos uma máquina. Somos Espíritos dotados de inteligência e sentimento, pensando, sentindo e agindo, tomando decisões, pois carregamos conosco o livre arbítrio, a razão, a vontade, por isso somos construtores de nós mesmos no percurso em direção à perfeição.
Se a responsabilidade não acompanhasse o livre arbítrio, tudo poderíamos fazer sem nos importar com as consequências, mas com isso estabeleceríamos o caos na vida. Para evitar isso é que livre arbítrio e responsabilidade estão entrelaçadas, como determina a sabedoria divina. Esse entendimento é antigo na história humana, mas por ignorância dos verdadeiros mecanismos da lei divina, inventamos a existência de um tribunal que nos aguarda depois da morte e que irá fazer nosso julgamento, determinando se vamos para o céu ou para o inferno.
O Espiritismo acabou com essa falsa ideia. Não existe tribunal celestial verificando nossa ficha e determinando nossas penas ou recompensas. Esse tribunal é o da consciência, onde a lei divina está gravada. É na consciência, da qual não podemos fugir, onde estão gravadas nossas ações, nossos pensamentos, nossos valores, e é ela que automaticamente nos leva ao estado de felicidade ou sofrimento no mundo espiritual. Céu e inferno são estados de consciência e não lugares específicos na dimensão espiritual. Onde nos encontrarmos estaremos intimamente com o nosso céu ou com o nosso inferno, com todas as suas consequências.
Situações físicas ou morais de sofrimento que hoje estamos passando e não encontramos suas causas determinantes nesta existência, são, as mais das vezes, consequências ou reflexos do que fizemos em existências anteriores, ou seja, no hoje estamos arcando com a responsabilidade do uso do livre arbítrio em encarnação passada. Colocados nestes termos pelo Espiritismo, o livre arbítrio e a responsabilidade ficam perfeitamente explicados, sendo que cada um responderá exclusivamente por si, mesmo nos fatos coletivos realizados em grupo, pois a justiça divina é perfeita e não poderia agir de outro modo.
Cuidemos do livre arbítrio, meditando sobre as consequências de nossas ações, para que amanhã não venhamos a ter que nos arrepender amargamente diante das responsabilidades que nossa consciência nos obrigará a assumir.
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