A morte pode esperar

Este texto é um pouco diferente, pois parte de um filme que recomendo ser assistido: Um Filho, do diretor Florian Zeller, tendo no elenco os atores Hugh Jackman, Vanessa Kirby, Zen McCarthy, Laura Dern e participação especial de Anthony Hopkins. É um drama envolvente com vários dilemas familiares e a realidade da depressão e do suicídio no mundo adolescente. Não vou contar a história e, muito menos, o final, para que você possa saborear e refletir esse excelente filme; mas vou extrair de sua narrativa algumas considerações, algumas reflexões muito úteis a respeito do casamento, do divórcio, da família, da depressão e do suicídio, reflexões essas utilizando os princípios que estruturam a Doutrina Espírita.

A primeira reflexão é sobre o casamento. A união entre dois seres deve ter por base o amor, e esse sentimento requer a vivência da cooperação, da compreensão, da tolerância, do diálogo e da renúncia. É o sentimento, e não a beleza física ou o status social do outro, que deve ser a base da união, pois os predicados físicos e/ou financeiros são passageiros, mudam com o tempo. Lembremos que mais importante é a beleza da alma, que é imortal, representada pelas virtudes já desenvolvidas. Muitos casamentos não dão certo porque o amor foi confundido com o sexo, com o dinheiro, com a posição social e outras coisas que abafam o maior dos sentimentos, quando advém a desilusão, a rotina e, como consequência a fuga do compromisso realizado e do respeito para com o outro.

A segunda reflexão é sobre a separação (divórcio). Compreendemos que nem sempre é possível manter a relação, sendo direito de cada cônjuge refazer a sua vida, evitando um mal maior que a insistência na união traria. Nesse caso, deve-se ter muito diálogo para que a separação seja consensual, para que a relação transforme-se numa sincera amizade, sem ataques, sem farpas, sem perseguições. Quando o casal possui filhos, estes devem ser esclarecidos sobre a situação, devem também ser ouvidos, garantindo-lhes total apoio e amor e que, em nenhuma circunstância, serão deixados de lado, nem serão utilizados como meio de ferir o ex-cônjuge. Lembremos que todos somos seres humanos, tanto os pais quanto os filhos, com inteligência e sentimento, e que os laços afetivos não se rompem com o divórcio, apenas se modificam.

A terceira reflexão é sobre a família. Muitas pessoas casam, se unem, mas continuam vivendo como se fossem solteiras, mantendo sua vida particular, seus hábitos, esquecendo-se que, sem perder a individualidade, devem agora compartilhar com o outro, eleito do seu coração para uma vida em comum. Não basta ter uma casa e as condições financeiras necessárias através do trabalho profissional, é preciso ter um lar, e isso somente é possível com a união de esforços, com o diálogo constante, com a troca afetiva, com a renovação dos ideais. A família é um espaço de convivência privilegiado dos seres humanos, que são igualmente espíritos reencarnados em novo encontro existencial para reparar o passado e, no hoje, construir um futuro melhor.

A quarta reflexão é sobre a depressão. O filme nos leva a olhar de frente a depressão do filho adolescente do casal que se separou, sendo que o pai refez sua vida com um novo casamento. Sentindo-se desamparado, abandonado, embora muito amando e admirando o pai, o jovem perde paulatinamente o sentido e o interesse do viver, mas isso não é detectado de imediato pela mãe, e muito menos pelo pai, um tanto quanto distanciado do filho. Acontece que a depressão, doença perigosa, dá sinais que precisam ser detectados o mais cedo possível. O desinteresse pela escola; o afastamento das amizades; o isolamento no quarto; a mudez com respostas curtas às perguntas; o choro sem causa aparente; entre outros sintomas que podem ser observados, indicam que a depressão está se instalando e é necessário o diálogo, a aproximação carinhosa, o estreitamento da convivência e, quando for o caso, o acompanhamento terapêutico com um profissional.

A quinta reflexão é sobre o suicídio. Quando a depressão se instala e corrói as fibras íntimas da alma, abre-se um campo psíquico e espiritual (não podemos esquecer da ação dos espíritos inferiores) propício à instalação da ideia suicida. Quando o jovem começa a falar em não saber porque vive; que carrega consigo uma dor inexplicável, íntima; quando deixa no ar pensamentos de se tirar a vida; quando faz uma tentativa de antecipar a morte; os pais precisam imediatamente agir. É falso argumentar que “cão que muito ladra não morde”, ou seja, que o jovem que fala em se matar, que faz ameaças, está apenas fazendo chantagem emocional e que nunca tentará o suicídio. Hoje o suicídio na adolescência, e mesmo na infância, é uma realidade em todo o mundo. A vida pertence somente a Deus, estamos reencarnados por dádiva e misericórdia divinas, e a realidade espiritual do suicida é bem triste, como consequência de ter infligido a lei maior.

Estas reflexões foram motivadas pelo filme Um Filho, que volto a recomendar. Se temos as causas anteriores para explicar nossas aflições no mundo, não esqueçamos que temos igualmente as causas atuais, por causa do nosso egoísmo, do nosso orgulho e da nossa imprevidência. Em todos os casos que envolvem a família, a relação entre cônjuges e a relação entre pais e filhos, procure ter no Espiritismo um roteiro seguro e edificante, mas também não deixe de procurar apoio, seja no Centro Espírita, seja através do CVV – Centro de Valorização da Vida, que atende nacionalmente perlo telefone 188. Isso serve tanto para os adultos quanto para os jovens.

Valorizemos a vida fazendo do amor a base do viver. A morte pode esperar.

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