Transformar os homens para transformar a humanidade

Diante dos inúmeros males que assolam a humanidade as autoridades públicas procuram fazer novas leis ou revisar as que já existem; idealizam planos de segurança pública, de urbanização e outros; projetam melhorias nos serviços de saúde e educação; criam medidas as mais diversas no intuito de modernizar o atendimento à população. Todas essas medidas têm a sua validade e sua necessidade, mas os males persistem em se manter, às vezes mais aguçados ou em novas modalidades. O tempo passa e a corrupção, a sexualidade sem freios, o consumo de drogas, a criminalidade, o desrespeito aos direitos fundamentais do ser humano, a degradação da natureza, enfim, o mal permanece. Se nada disso é solução, onde encontrá-la? O Espiritismo tem a resposta, dada pelos Espíritos Superiores em O Livro dos Espíritos, como lemos na questão 769:

Uma sociedade depravada tem certamente necessidade de leis mais severas. Infelizmente essas leis se destinam antes a punir o mal praticado do que a cortar a raiz do mal. Somente a educação pode reformar os homens, que assim não terão mais necessidade de leis tão rigorosas.”

A resposta é clara: a solução está na educação.

Mas de qual educação estamos falando? Porque existem diversas definições, diversos entendimentos sobre a educação, e temos que saber do que estamos falando, de acordo com os princípios que formam o Espiritismo. Essa definição, ou melhor, esse entendimento também está em O Livro dos Espíritos, na questão 685A, em comentário de Allan Kardec:

Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.”

Como vemos no lúcido comentário do codificador, o Espiritismo entende a educação como sendo educação moral, ou seja, a educação que forma o caráter, como arte de desenvolvimento das virtudes, e ainda mais, como conjunto dos hábitos que o Espírito adquire durante o processo educativo. Podemos também acrescentar, utilizando outra fala de Kardec, que a educação moral também consiste no combate que se faz às más tendências apresentadas pelo Espírito reencarnante.

Nos tempos atuais não encontramos a educação moral nas escolas, e também não a encontramos em muitas famílias. Os interesses materiais imediatos e a aquisição de conhecimentos sufocaram o desenvolvimento do senso moral, por isso não temos que nos espantar ao verificar o predomínio do egoísmo e do orgulho nas relações sociais. Contudo, conhecimento sem sentimento leva os homens, por exemplo, à guerra, ou à destruição da natureza, ou a uma corrida desenfreada pelo bem estar individual, mesmo que isso venha a prejudicar muitas pessoas.

Passemos a palavra ao filósofo, professor, jornalista e escritor José Herculano Pires, grande defensor da educação espírita, que no capítulo 17 do seu livro Curso Dinâmico de Espiritismo, assim se expressa:

Se quisermos mudar a sociedade, não adianta modificar a sua estrutura feita pelos homens, mas modificar os homens que modificam as estruturas sociais. O homem egoísta produz o mundo egoísta, o homem altruísta produzirá o mundo generoso, bom e belo que todos desejamos. Não podemos fazer um bom plantio com más sementes. Temos de melhorar as sementes.”

Eis porque as mais diversas intervenções não surtem o efeito desejado: queremos transformar as estruturas sociais sem transformar os seres humanos que fazem essas mesmas estruturas sociais.

Temos vários exemplos que comprovam essa nossa afirmativa. Podemos construir um conjunto residencial com toda a sua urbanização, com o objetivo de nele colocar atuais moradores de uma favela. E assim procedemos. Com o tempo, as pessoas que moravam na favela, por não receberem uma nova educação, tenderão a fazer do conjunto residencial outra favela. Outro exemplo: podemos aumentar o rigor da lei para punir as pessoas corruptas, mas se não as educarmos do ponto de vista moral, tenderão a descobrir brechas na legislação para dar continuidade aos esquemas corruptores. E muitos outros exemplos poderíamos dar, mostrando que não basta trabalhar as estruturas sociais, é necessário trabalhar a educação dos seres humanos.

Precisamos transformar os homens para que estes, transformados, transformem a sociedade em que vivem.

O Espiritismo nos entrega a solução de todos os males, de forma límpida, mas a competência de aplicá-la é nossa. Quanto mais tempo adiarmos a tarefa da educação moral do espírito imortal presentemente reencarnado, mais adiaremos a entrada no mundo de regeneração, pois o bem somente predominará sobre o mal quando essa educação for nossa prioridade.

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